Quinta-feira, 13 de Março de 2025

Quinta-feira
13 Março 2025

Tempo agora

Parcialmente nublado 27
Parcialmente nublado 29°C | 15°C
Tempo limpo
Sex 14/03 30°C | 13°C
Parcialmente nublado
Sáb 15/03 32°C | 13°C

Após enchentes, os desafios para a produção

Ceres Agronews

13 de março de 2025

Após enchentes, os desafios para a produção

As intensas chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul no último ano impactaram significativamente os produtores rurais. Entre eles, Ubirajara dos Santos, agricultor com propriedades em Butiá, Minas do Leão e São Jerônimo. Segundo ele, as enchentes trouxeram desafios logísticos e perdas.

– Fomos pegos com 15% da área ainda por colher e foi bem problemático. As estradas do interior foram destruídas e tivemos que ajudar o poder o poder público a restaurar duas pontes para conseguir cruzar com os caminhões – relata Ubirajara. Em alguns casos, foi necessário recorrer a tratores para transportar a soja até outros locais devido à dificuldade de acesso.

Mesmo com os esforços, parte da safra foi comprometida. “Desses 15% que faltavam colher da safra de soja, tivemos uma perda de cerca de 30% porque estragou. Mas conseguimos colher a área total”, explica o produtor.

Após o período crítico, a preocupação voltou-se para a recuperação do solo, que sofreu com o impacto das chuvas. “Fizemos análise de solo em todas as áreas e aplicamos calcário em quase 100% delas, chegando a 3 toneladas por hectare. Conseguimos cobrir entre 70% e 80% das áreas com calcário”, detalha Ubirajara. Ele também destacou os cuidados com a adubação, incluindo a aplicação de cloreto de potássio em toda a área.

Para a safra em andamento (2024/2025), o produtor mantém boas expectativas, desde que o regime de chuvas colabore. “Precisamos que chova de forma regular até o final do ciclo”, resume. Ubirajara reforça que a preparação adequada e o monitoramento constante são essenciais para minimizar os impactos climáticos e garantir a produtividade. “Se Deus quiser, com as chuvas certas, teremos uma safra boa que vai ajudar bastante”, projeta o produtor.

Desafios climáticos e práticas sustentáveis

O setor agrícola do Rio Grande do Sul tem enfrentado tempos desafiadores com extremos climáticos e instabilidades econômicas que afetaram profundamente a produção nos últimos anos. A safra de inverno de 2024, embora positiva em vários aspectos, trouxe à tona a necessidade de um olhar mais estratégico e sustentável para o manejo das culturas e do solo.

Na safra de verão, produtores e especialistas unem forças para garantir uma retomada sólida, apoiados por condições climáticas mais avançadas e pelo fortalecimento de parcerias entre cooperativas, instituições de ensino e pesquisa. Estima-se que neste ciclo de verão (2024/2025), o Rio Grande do Sul tenha 812 mil hectares cultivados com milho e 6,6 milhões de hectares plantados com soja, consolidando sua posição como um dos principais produtores agrícolas do Brasil.

Neste cenário, as opções econômicas continuam sendo um desafio. Os preços baixos de algumas commodities agrícolas preocupam os produtores, que buscam equilibrar produtividade e rentabilidade. “Mesmo com boas condições de plantio, sabemos que a rentabilidade será um teste à parte. Muitos produtores já enfrentaram dificuldades no início da safra devido a limitações financeiras, o que pode impactar os resultados finais”, pontua o especialista da Emater, Alencar Rugeri.

O setor agrícola gaúcho encara 2025 com a importante missão de transformar desafios em oportunidades em busca de iniciativas inovadoras para minimizar os impactos das mudanças climáticas e promover práticas mais sustentáveis ​​e resilientes. “Esta Safra de Verão é um momento de acompanhamento. Estamos incentivando um esforço coletivo para buscar soluções inovadoras e sustentáveis, criando um ambiente mais favorável para o desenvolvimento agrícola”, comenta Rugeri.

Solo e sustentabilidade: um alerta para o futuro

Os efeitos das enchentes e do excesso de chuvas reforçaram a necessidade de atenção especial à saúde do solo. Com a erosão causada pelo escoamento das águas, houve perdas significativas de nutrientes, destacando a importância de práticas de manejo que protejam e fortaleçam o solo.

De acordo com a Emater, três pilares são fundamentais para o manejo sustentável: aspectos físicos, químicos e biológicos do solo. “É essencial investir em estratégias como cobertura vegetal contínua, construção de terraços e uso de técnicas que promovam a descompactação do solo. Essas práticas ajudam a preservar a base produtiva, especialmente em momentos de eventos climáticos extremos”, explica Rugeri. 

O especialista também destaca a necessidade de entender porque alguns agricultores ainda resistem à adoção dessas práticas. “Há um consenso técnico sobre a eficácia de medidas como os terraços, mas precisamos compreender melhor as barreiras econômicas e culturais que impedem sua aplicação em maior escala”, analisa.

Safra de inverno: altos e baixos no cenário gaúcho

A safra de inverno de 2024 também foi marcada por desafios climáticos severos, como o excesso de chuvas, perda de nutrientes no solo e redução da luminosidade em momentos críticos. Esses fatores afetaram diretamente a produtividade, especialmente em culturas como o trigo.

Segundo dados da Emater, o estado cultivou 1,35 milhão de hectares de trigo, com uma produção total de 3,7 milhões de toneladas. A produtividade média, de 48 sacas por hectare, foi considerada abaixo do potencial para produtores mais especializados, ainda que superior à safra do ano anterior.

 – Os produtores que trabalham com planejamento estratégico, integrando gestão e profissionalismo em seus sistemas de produção, conseguem superar parte dos desafios climáticos. Já aqueles que plantam sem o devido planejamento enfrentam mais dificuldades e resultados menos expressivos – comenta o especialista da Emater.

Outras culturas de inverno, como cevada e canola, se destacaram. A cevada, por ser amplamente comercializada via contratos prévios, teve estabilidade em seus resultados. A canola, por sua vez, continua em expansão no estado, com incentivos de empresas e produtores explorando o potencial da cultura para nichos de mercado específicos.