Início » Maioria das mulheres brasileiras considera a maternidade um trabalho, diz pesquisa

Maioria das mulheres brasileiras considera a maternidade um trabalho, diz pesquisa

Levantamento também mostra que 43% das entrevistadas abriu mão de atividades profissionais por causa dos filhos

por Daiane Giesen
48 visualizações

Exaustas, mas felizes. Assim está a maioria das mulheres brasileiras ouvidas em pesquisa realizada pela plataforma Fala Feminina no primeiro semestre de 2024. Devido a doses elevadas de cansaço, por conta do excesso de trabalho e à maternidade, o maior índice de felicidade feminina no relacionamento (88%) é registrado nos lares em que as tarefas são divididas de forma igualitária.

O estudo “A Fala das Mulheres” contou com 1.149 participantes de todo país, que responderam a 87 perguntas sobre temas diversos, como maternidade, relacionamento, ambiente doméstico, divisão de despesas e tarefas, envelhecimento, trabalho, empreendedorismo, autocuidado, sexualidade e percepção sobre as diferentes etapas da vida. Além das respostas objetivas, a pesquisa recolheu 6 mil relatos e comentários pessoais.

“Essa pesquisa nos mostrou a enorme solidão das mulheres brasileiras, em todos os cantos do país, independentemente de classe econômica e social. Elas estão perdidas, exaustas e sem apoio nenhum, seja das instituições públicas ou privadas”, avalia Fátima Torri, idealizadora da plataforma Fala Feminina.

Entre as participantes, 95% das mulheres vivem no Brasil, em 26 cidades espalhadas pelas cinco regiões do país, e as outras 5% são brasileiras que residem no exterior. Elas estão distribuídas por todas as faixas etárias e têm alto nível de escolaridade. As brancas são maioria (73,1%), seguidas por pardas (15,5%) e negras (10,4%).

Envelhecimento

Quando questionadas sobre qual a fase preferida da vida, a idade madura, entre 50 e 60 anos, desponta como o melhor momento para 26% das participantes da pesquisa. No entanto, a menopausa é encarada como o acontecimento mais impactante por 30% das participantes, no mesmo patamar da maternidade e à frente de casamento e divórcio.

A grande maioria delas (70%) dribla qualquer adversidade, da limitação física ao julgamento, e segue realizando atividades prazerosas. Além disso, elas estão mais satisfeitas sexualmente agora do que quando eram jovens. O estudo revela que 17% das mulheres acima de 50 anos identificam que sua vida sexual melhorou nessa idade, o maior índice registrado dentre todas as faixas etárias, e 36% delas têm relações sexuais todas as semanas, conforme o levantamento. Entre os fatores que tornam a idade madura a melhor etapa da vida, liberdade é uma das palavras escolhidas para justificar a escolha.

“Essas descobertas nos ajudam a entender quem é esta que chamo de nova mulher velha. Ao escutar e dar voz a estas mulheres em sua pluralidade buscamos oferecer uma visão atualizada e fidedigna do que pensamos e desmistificar a imagem que insistem em propagar da jovem, da adulta e da velha”, destaca Fátima Torri.

A palavra “velhice” ainda é vista com temor e carrega consigo uma série de estigmas. Demonstrando uma mudança no que se convencionou chamar de terceira idade, duas em cada três entrevistadas (64,8%) disseram considerar que uma pessoa só se torna velha após os 80 anos de idade.

Maternidade

No levantamento, 22% das mulheres afirmaram que não teriam filhos se pudessem voltar atrás. Entre as entrevistadas, quase 70% delas veem a maternidade como um trabalho e 43% abriram mão de atividades profissionais por causa dos filhos. As participantes foram chamadas a avaliar de 1 a 5 o quão desafiador é conciliar a maternidade com a carreira, e 67,8% apontaram o nível máximo. Apenas 2% assinalaram os níveis 1 e 2, que indicam menos dificuldade.

Conciliar a maternidade com o lazer também é desafiador. As entrevistadas contaram que, por causa da maternidade, tiveram de abrir mão de prazeres como autocuidado, viajar, praticar hobbies e exercitar-se. Depois de terem filhos, só 22% das mulheres não relataram prejuízo na qualidade do sono.

Assédio e mercado de trabalho

A pesquisa indica que o amplo acesso das mulheres ao mercado de trabalho não se traduz em igualdade de tratamento e de oportunidades. Das 1.149 entrevistadas, 80% estão no mercado de trabalho, principalmente como funcionárias de empresas (27%), como empreendedoras (20%) e como servidoras públicas (10%).

As que se definem no tradicional papel de dona de casa somam apenas 6%. Menos de uma em cada quatro respondentes (23,8%) disseram que é o parceiro quem paga as contas da casa. Em 60,1% dos lares, as despesas são divididas. Em 11,7%, o provedor é a mulher.

O problema mais frequente, apontado por 57% das profissionais, é o tratamento desigual em comparação com o que é dado aos homens. Em adição a isso, 55% entendem que recebem menos reconhecimento e menos recompensas do que mereceriam.

Outras situações vivenciadas no dia a dia são assédio e descriminação, falta de oportunidades, prejuízos à carreira devido à maternidade e ao cuidado com a família, resistência dos colegas à liderança feminina e restrição de acesso a possibilidades de desenvolvimento.

Divisão de afazeres domésticos

É perceptível um alto índice de empreendedorismo feminino: 27% das participantes têm um negócio próprio, a maior parte delas com pessoa jurídica constituída. Nesse grupo, 48,6% disse ter se tornado empreendedora por necessidade. Os principais desafios enfrentados nessa jornada foram a falta de capital e de apoio.

Para equilibrar a rotina doméstica com as obrigações de empreendedoras, apenas 15,8% dispõem de uma rede de apoio. Muitas se organizam para realizar sozinhas as duas atividades (39,6%). Para 27%, a saída é contratar alguém para realizar serviços.

Convidadas a avaliar seu nível de cansaço em uma escala de 1 a 5, 63% optou pelos níveis mais elevados, 4 ou 5. Um fator decisivo para esse esgotamento é a divisão desigual das tarefas domésticas. Nos lares em que o companheiro divide as tarefas, 22% das mulheres relataram o nível máximo de cansaço e o índice sobe para 36% quando eles não participam desses afazeres.

Porém, a maior parte das mulheres não conta com esse apoio: 56% afirmam que o parceiro não compartilha os afazeres da casa. A pesquisa mostra que, quando a mulher é a responsável por bancar as despesas de casa sozinha, o homem tende a participar mais das tarefas domésticas. Quando é ele quem sustenta a casa, porém, dispara a desigualdade na divisão de tarefas e é a mulher quem tem de fazer o serviço de casa.

Chama a atenção que, apesar das fortes demandas profissionais e familiares reveladas pela pesquisa, as mulheres têm uma visão positiva da própria vida: 79% afirmam que são felizes, 72% estão contentes com o seu relacionamento e 59% sentem-se realizadas na ocupação atual.

Os maiores índices de felicidade feminina são registrados não apenas nos lares onde homem e mulher dividem as tarefas domésticas, mas também naqueles onde eles dividem as despesas, ou seja, onde as mulheres têm algum poder econômico, o que aponta para a importância da inserção feminina no mundo profissional.

 

 

Fonte: Correio do Povo

Publicações Relacionadas

Receba nosso Informativo

Informação de Contato
656415
© 2023 - Grupo Ceres de Comunicação - Todos os direitos reservados. | Política de Privacidade