Trigo argentino pressiona preço no Brasil
15 de setembro de 2025

Apesar da projeção de uma produção menor de trigo neste ano, não há nenhum indício de que os preços vão melhorar ao produtor. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) anunciou na semana passada que a colheita esperada de 7,536 milhões de toneladas, 4,5% inferior à de 2024 (de 7,889 milhões). Houve redução de área porque os preços não estimularam os produtores, e ainda os gaúchos, maiores produtores, enfrentam problemas econômicos pelo clima. A área do cereal em 2025 é de 2,449 milhões de hectares, encolhimento de 19,9% ante os 3,058 milhões do ano passado, e a produtividade prevista em 3.077 quilos/hectare, ganho de 19,3% sobre os 2.579 quilos de 2024.
Há regiões do país já em colheita, enquanto no Rio Grande do Sul as lavouras estão em desenvolvimento, segundo a Emater/RS-Ascar, ou seja, com produção ainda passível de alterações provocadas pelo clima. A projeção da instituição é de 1.198.276 hectares, produtividade de 2.997 quilos/hectare e, portanto, colheita de 3,591 milhões de toneladas. No ano passado a área foi de 1,33 milhão de hectares e a produção ficou em 3,390 milhões de toneladas.
A explicação para as cotações pressionadas está na Argentina, principal fornecedora de cereal para o consumo brasileiro. Os argentinos forneceram 62%, ou 3,790 milhões de toneladas, do volume adquirido pelo Brasil no ano passado, e neste ano, até agosto, 77%, ou 3,206 milhões. Segundo Jonathan Pinheiro, consultor em Gerenciamento de Riscos da StoneX, os estoques estão altos no país vizinho.
“Tem agora um fator que pressiona o nosso mercado que é uma oferta muito elevada de estoques de passagem na Argentina e, com o câmbio que vem já há alguns meses relativamente baixo, isso acaba pressionando o nosso mercado interno pela paridade de importação”, explica.
“Então, o moinho, a indústria que vai comprar trigo vê que, se o produtor aqui no Brasil pediu um pouco mais caro, ele vai lá e busca na Argentina, que é mais barato”, complementa. “O preço do produtor aqui no Brasil sempre tem que estar abaixo da paridade de importação, e é isso que vem pressionando o nosso mercado também”.
Assim, visto a oferta volumosa dos argentinos, mesmo com a safra menor no Brasil não se observa melhora no cenário de preços aos triticultores. “A safra argentina é um ponto crítico para manter os preços baixos”, sintetiza Pinheiro. Além disso, acrescenta, a produção global tem batido níveis recordes, com a retomada de estoques após anos de reduções, e, ainda que o consumo mundial também esteja a patamares recordes, a atual produção atende o consumo, e assim o preço não sobe.
Fonte: Correio do Povo