Tarifaço deve mudar rota da exportação de carne
16 de agosto de 2025

A decisão dos Estados Unidos de elevar tarifas em 50% para as exportações brasileiras pode provocar uma reconfiguração no comércio de carne bovina. Uma das alternativas seria a ampliação dos embarques para Uruguai e Argentina, evitando assim o aumento da oferta interna da proteína. A avaliação é do coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, professor Júlio Barcellos. Segundo ele, escoar cortes mais baratos do Centro-Oeste a preços mais acessíveis para os países vizinhos daria fôlego aos pecuaristas brasileiros.
“O Brasil já é fornecedor do Uruguai. É possível que a Argentina siga um pouco esse caminho comprando carnes mais econômicas do Brasil Central, que não concorre com a carne do Rio Grande Sul, que é de um preço maior porque tem uma outra qualidade. Isso, pelo menos no curto prazo, contribui para ‘desafogar’ parte da carne que não irá mais para os Estados Unidos”, explicou.
Sobre essa viabilidade de negócio, o professor esclarece que a Argentina tem a possibilidade de aproveitar para embarcar a sua proteína para o mercado norte-americano, até então ocupado pelo Brasil. Este envio, contudo, afetaria o seu próprio abastecimento interno e como consequência o aumento da carne bovina para a população argentina. “Esta alta de preço vem sendo observada pelo governo com relação ao impacto na inflação, mas (o presidente) Javier Milei retirou as tarifas que limitavam a exportação de carne e tendo carne eles podem exportar por um valor maior e importar a proteína brasileira, principalmente do Centro-Oeste, por valores mais acessíveis”, pontuou.
Para o Rio Grande do Sul, Barcellos acredita que o mais importante é o avanço da implementação da rastreabilidade, a intensificação dos trabalhos de controles de fronteira e o aumento da produtividade para que o custo médio da carne possa ficar mais baixo e o Estado siga sendo competitivo em carne de qualidade. Júlio Barcellos lembrou que os Estados Unidos não são o principal cliente da proteína gaúcha, mesmo assim o tarifaço repercutiu no Rio Grande do Sul. “Porque a carne bovina é hoje uma cadeia produtiva que atua em todo o Brasil, então é muito frequente o fluxo do produto de outros estados ingressando no mercado gaúcho”, acrescentou.
Fonte: Correio do povo