Mais etanol na gasolina, menos dependência externa
01 de agosto de 2025

A partir desta sexta-feira, a mistura de etanol na gasolina no Brasil sobe de 27% para 30%, e o biodiesel no diesel de 14% para 15%. A medida pode reduzir a necessidade de importação de combustíveis fósseis e até baixar o preço da gasolina em até R$ 0,20 por litro. O anúncio vem em meio a um novo capítulo da disputa comercial com os Estados Unidos. Na quarta-feira, o governo americano confirmou tarifas de 50% sobre uma série de produtos brasileiros – deixando petróleo e derivados de fora, mas mantendo o etanol na lista. O biocombustível havia sido citado pelo Departamento de Comércio dos EUA como um dos alvos por causa da tarifa de importação brasileira de 18%.
Essa relação entre política energética e comércio exterior não é novidade, mas ganha novo peso agora. Para o diretor técnico do Ineep, Mahatma Ramos dos Santos, os biocombustíveis são centrais para a autonomia energética do país. “O Brasil hoje exporta mais da metade do petróleo que produz, mas não tem capacidade de refino, que é o elo da cadeia que agrega valor.” Por isso, segundo ele, precisamos investir mais nessa etapa.
O histórico mostra que o tema não é novo. Quem viveu os anos 1980 lembra do ritual de ligar o carro a álcool e esperar o motor “esquentar”. O programa nacional de biocombustíveis surgiu nos anos 1970, justamente para reduzir a dependência de derivados importados. Mas, nas últimas décadas, perdeu fôlego. “Por muito tempo, o etanol foi visto apenas como subproduto do açúcar, sujeito às variações desse mercado”, diz José Manuel Cabral, adjunto de Comunicação e Negócios na Embrapa Agroenergia.
Agora, a agenda se diversifica. O Brasil avança na produção de etanol de milho, sorgo e trigo, e também aposta em novas rotas de segunda geração (2G), usando resíduos agrícolas e biomassa, conforme Cabral. Pesquisas com enzimas e microrganismos da biodiversidade brasileira buscam tornar os processos mais eficientes. O setor pode ser um vetor importante para a descarbonização da matriz energética brasileira e abrir caminho para novas tecnologias de baixo carbono, avaliam Cabral e Santos.
O cenário externo pressiona, mas também deixa claro que investir em biocombustíveis é estratégico — tanto para proteger o Brasil de choques internacionais, quanto para ganhar protagonismo na transição energética.
Fonte: Correio do Povo