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Edição genética cria fungo superpoderoso contra pragas agrícolas

Agro

17 de março de 2025

Edição genética cria fungo superpoderoso contra pragas agrícolas
Modificação aumenta produção de substância que dribla defesa dos insetos
Foto: Divulgação Canal Rural

Cientistas brasileiros e americanos avançam na criação de bioinseticidas mais potentes e sustentáveis a partir do fungo Beauveria bassiana. Um estudo recente mostrou que a edição genética de alta precisão, utilizando a tecnologia CRISPR-Cas9 (leia mais abaixo), pode aumentar a eficácia desse organismo no combate a pragas agrícolas.

A pesquisa demonstrou que a modificação de um gene específico – o Bbsmr1 – impulsiona a capacidade do fungo de eliminar insetos com mais rapidez e eficiência.

    Segundo Gabriel Mascarin, pesquisador da Embrapa Meio Ambiente (SP), a versão inicial do fungo editado é transgênica, pois contém um gene de resistência. No entanto, as próximas fases da pesquisa pretendem utilizar a edição genética sem inserção de DNA de outras espécies, tornando os fungos não-transgênicos.

    Essa abordagem deve acelerar a aprovação regulatória e a comercialização dos novos bioinseticidas no Brasil.

    Bioinseticidas mais eficazes e de rápida ação

    No estudo, os pesquisadores compararam a eficácia dos blastosporos – células semelhantes a leveduras – com os conídios aéreos, que são amplamente usados nos bioinseticidas comerciais. Os resultados foram surpreendentes: os blastosporos foram 3,3 vezes mais letais e agiram 22% mais rápido do que os conídios.

    Nos testes, os blastosporos conseguiram eliminar 97% das larvas da traça-da-cera (Galleria mellonella) em apenas cinco dias, enquanto os conídios mataram apenas 29,4% no mesmo período.

    Além disso, a produção dos blastosporos se mostrou mais eficiente, levando apenas dois a três dias em cultivo líquido, enquanto os conídios exigem mais de dez dias em cultivo sólido. Essa vantagem pode facilitar a produção em larga escala e reduzir os custos de bioinseticidas.

    Mutação genética aumenta eficácia do fungo

    A modificação do gene Bbsmr1 gerou um impacto significativo na performance do fungo, de acordo com a Embrapa. Os mutantes desse gene causaram 50% de mortalidade em insetos em apenas três dias, mesmo em baixas concentrações.

    Além disso, essas linhagens demonstraram germinação mais rápida na cutícula dos insetos, maior crescimento na corrente sanguínea das pragas e produção elevada de oosporina, uma substância que enfraquece o sistema imunológico dos insetos.

    oosporina, além de atuar contra insetos, também possui propriedades antifúngicas e antibacterianas, podendo ser utilizada no controle de doenças agrícolas como o mal-do-panamá em bananeiras, a fusariose na alface e a murcha-de-fusarium no tomateiro.

    O que é a CRISPR-Cas9

    De acordo com a Embrapa, o sistema CRISPR é uma tecnologia que funciona como uma “tesoura molecular”. Por meio dele, a proteína Cas9, guiada por uma sequência de RNA, corta o DNA em locais específicos, permitindo a modificação ou correção de genes

    Dessa forma, é possível otimizar a produção de enzimas, metabólitos e biopesticidas, além de criar microrganismos mais resistentes e funcionais para aplicações sustentáveis.

    O alto grau de especificidade e a versatilidade da tecnologia permitem acelerar o desenvolvimento de soluções inovadoras, tornando a engenharia genética microbiana mais acessível e poderosa, informa a Embrapa.

    Tecnologia de ponta e desafios a serem superados

    A tecnologia CRISPR-Cas9, aplicada no estudo, permitiu realizar alterações genéticas com precisão extrema, sem mutações indesejadas. Isso garante a segurança da técnica e aumenta as chances de aprovação regulatória.

    Apesar dos avanços, os cientistas ainda enfrentam desafios. Algumas linhagens editadas apresentaram menor resistência a estresses químicos e produziram menos conídios em determinadas condições. No entanto, os pesquisadores acreditam que a seleção de mutantes pode eliminar esses efeitos colaterais sem comprometer a eficácia da tecnologia.

    A pesquisa abre um novo caminho para o desenvolvimento de fungos entomopatogênicos melhorados, permitindo um controle biológico mais eficiente e sustentável. Com o avanço da biotecnologia, o setor agrícola poderá reduzir a dependência de pesticidas químicos, garantindo maior segurança alimentar e preservação ambiental.

    Fonte: Canal Rural