Exigências podem travar Acordo Mercosul – União Europeia
24 de fevereiro de 2025

Negociado durante 25 anos e concluído em dezembro, em Montevidéu, Uruguai, o Acordo Mercosul – União Europeia corre o risco de não ser colocado em prática. A avaliação é do presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Gedeão Pereira.
“Estamos sendo enormemente atacados Visitamos a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e o Parlamento Europeu e fomos ver as dificuldades que teremos para consolidar o acordo”, afirmou Gedeão, referindo-se à viagem ao Exterior encerrada há cerca de duas semanas.
A declaração do presidente da Farsul ocorreu durante o painel Mercado Internacional Como Oportunidade Estratégica, dentro da programação da 35ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas, na Estação Terras Baixas da Embrapa Clima Temperado, em Capão do Leão (RS). A diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Sueme Mori, também participou do encontro, realizado no dia 18.
Com 20 capítulos, o tratado entre os dois blocos econômicos dedica uma seção exclusivamente a medidas sanitárias e fitossanitárias que elevam padrões de produção no setor agropecuário.
“Acredito que será muito difícil (o acordo) vigorar. A Europa virá com outras questões de bem-estar animal. Até do ovo, se é posto com a galinha em gaiola ou solta. Até esse tipo de coisa eles estão na mira de criar”, exemplificou Gedeão.
O presidente da Farsul adiantou que a CNA estuda instalar um escritório em Bruxelas, Bélgica, para a defesa comercial do Brasil.
“Achamos fundamental a nossa presença em todos os mercados. O bloco europeu é importante importador do Brasil e do Mercosul”, disse o dirigente.
Mercosul e a União Europeia negociaram 25 anos antes de anunciar a conclusão do tratado, no dia 6 de dezembro do ano passado, em Montevidéu, Uruguai.
Lei antidesmatamento
Uma das ameaças ao acordo é a EUDR (em inglês, Regulation on Deforestation-free Products), lei antidesmatamento da União Europeia que impõe barreiras ambientais para a entrada de produtos agropecuários no bloco europeu. A lei foi adiada e deve entrar em vigor em janeiro de 2026.
“A União Europeia é o segundo destino das exportações do agro brasileiro, com 12% do que vendemos. A EUDR impacta atualmente sete cadeias como carne bovina, café, cacau e soja, mas podem ampliar. A medida protecionista pune especialmente os países menos desenvolvidos que produzem alimentos, como o Brasil”, afirmou Sueme Mori.
Sueme também analisou a situação do Brasil e do Rio Grande do Sul no contexto do mercado internacional.
“O fato do Brasil ser do tamanho que é do ponto de vista de produção e exportação agropecuária incomoda muito. Acabamos sendo muito atacados. Precisamos estar lá fora para nos defender. O cenário não é positivo para nós e precisamos explicar no exterior o que é uma agricultura tropical”, afirmou Sueme.
A diretora da CNA lembrou que o desempenho do agronegócio brasileiro é sempre alvo de atenção no exterior, por vender muito e comprar pouco. “Isso é bom e ruim, pois, ao sentar com um parceiro comercial, ele olha e diz ‘o que você vai comprar de mim’, e o Brasil diz que não precisa de nada”, comentou Sueme.
Fonte: Correio do Povo