“Brain Rot”: Consumo excessivo de conteúdos breves pode estar atrofiando o cérebro humano
19 de dezembro de 2024
O impacto do consumo excessivo de conteúdos rápidos e superficiais nas redes sociais está no centro de uma discussão global. O fenômeno, popularmente conhecido como “brain rot” – traduzido como “cérebro apodrecido” – foi escolhido como a palavra do ano de 2024 pela Universidade de Oxford. A escolha reflete a crescente preocupação sobre como o hábito de consumir vídeos curtos no TikTok, Instagram e YouTube pode afetar o funcionamento do cérebro e a saúde mental.
Com um aumento de 230% nas buscas pelo termo entre 2023 e 2024, a discussão ganhou ainda mais relevância. O conceito descreve uma exaustão ou deterioração do estado mental e intelectual devido ao consumo desenfreado de conteúdos online, que oferecem estímulos fugazes e prazeres imediatos.
Cérebro “atrofiado”, não “apodrecido”
O professor Chrystian Kroeff, doutor em neuropsicologia e docente da Escola de Saúde da Unisinos, avalia que o termo “apodrecimento” é exagerado. Ele prefere compará-lo a um processo de atrofia. Segundo Kroeff, o cérebro humano é dinâmico, construindo e desconstruindo milhões de conexões neurais com base nas experiências vividas.
“Quando enfrentamos desafios, nosso cérebro trabalha para criar novas conexões. Mas tarefas repetitivas e empobrecidas reduzem esse esforço, levando a um atrofiamento. É como se o cérebro fosse ficando preguiçoso”, explica o especialista.
Essa “preguiça cerebral” pode ser exacerbada pela estimulação constante proporcionada pelas redes sociais. O consumo de vídeos curtos, que oferece prazer imediato, altera a capacidade do cérebro de lidar com estímulos mais lentos e complexos. “Na clínica, é comum ver adolescentes que conseguem passar horas jogando videogame ou no celular, mas têm dificuldade em prestar atenção em uma sala de aula”, exemplifica Kroeff.
Impactos na saúde mental e no desenvolvimento
A exposição excessiva a telas, especialmente na infância, tem sido associada a atrasos no desenvolvimento da linguagem, dificuldades psicomotoras e prejuízos cognitivos. Kroeff alerta para sintomas que indicam uma relação não saudável com esses conteúdos:
- Compulsão por telas: O consumo excessivo pode levar a outros tipos de compulsão.
- Problemas de atenção e memória: A capacidade de se concentrar em tarefas mais complexas é prejudicada.
- Ansiedade e cansaço mental: O excesso de estímulos pode gerar exaustão mental.
- Prejuízos no sono: O uso de telas, especialmente antes de dormir, afeta a qualidade do sono.
Caminhos para uma relação saudável
Kroeff enfatiza a importância de diversificar as atividades cotidianas, estimulando o cérebro com desafios e interesses variados. O equilíbrio entre o uso de dispositivos eletrônicos e práticas que demandam mais esforço cognitivo, como leitura, exercícios físicos e atividades criativas, é essencial para evitar os efeitos negativos do “brain rot”.
A escolha do termo como palavra do ano reflete não apenas um fenômeno cultural, mas também um alerta: o impacto do consumo desenfreado de conteúdos rápidos na saúde mental e cognitiva deve ser levado a sério.
Fonte: Correio do Povo