O Setembro Amarelo, campanha mundial de prevenção ao suicídio, alcança em 2024 mais um marco significativo. Desde que foi incorporada ao calendário nacional em 2013, a iniciativa busca derrubar estigmas relacionados à saúde mental e incentivar o pedido de ajuda. Com o lema deste ano, “Se precisar, peça ajuda!”, a campanha reafirma seu compromisso de alcançar todos os cantos do Brasil.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 700 mil suicídios são registrados anualmente, mas a estimativa real pode ultrapassar um milhão, considerando os casos subnotificados. No Brasil, a média anual é de 14 mil suicídios, o que equivale a cerca de 38 vidas perdidas por dia. A situação nas Américas é ainda mais preocupante, pois, ao contrário da tendência global de queda nos números, os índices seguem aumentando na região.
Em entrevista ao Grupo Ceres, a psiquiatra Graciella Sant’Anna, do Centro de Especialidades Júlia Billiart, em Não-Me-Toque, enfatizou a importância da prevenção. Segundo ela, o suicídio continua cercado por tabus, o que muitas vezes impede que as pessoas busquem apoio. “Muitos têm medo de serem vistos como loucos, mas isso está mudando. Precisamos de saúde mental para ter funcionalidade no trabalho, na escola e em nossas vidas”, afirma.
A psiquiatra também destaca que o suicídio resulta de diversos fatores, incluindo questões familiares e sociais. “Se o indivíduo não encontra apoio emocional no seio familiar, acaba acreditando que não tem para onde ir. No entanto, o suicídio não resolve os problemas; ele cria uma série de traumas para os que ficam”, alerta Sant’Anna. Ela ainda salienta que a influência das redes sociais, com seus padrões inalcançáveis de perfeição, afeta diretamente a autoestima dos jovens. “A comparação constante, a busca por ser magro, lindo, perfeito, tudo isso impacta profundamente os adolescentes em fase de formação da personalidade”.
Os dados são alarmantes. Segundo a OMS, mais pessoas morrem anualmente por suicídio do que por HIV, malária ou câncer de mama, e o fenômeno é a quarta maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. No Brasil, um levantamento do Ministério da Saúde divulgado em 2022 revelou que, entre 2016 e 2021, as taxas de suicídio entre adolescentes de 15 a 19 anos aumentaram em 49,3%, enquanto entre crianças de 10 a 14 anos, o crescimento foi de 45%.
O cenário mostra que o suicídio é um problema de saúde pública que atravessa todas as camadas sociais e culturais. Graciella Sant’Anna reforça que o suporte familiar é crucial. “Os pais precisam estar atentos. Se o filho está isolado, apresentando sinais de tristeza ou desesperança, é necessário buscar diálogo e apoio”.
O Setembro Amarelo é mais do que uma campanha de conscientização. Ele é um lembrete de que, muitas vezes, pedir ajuda pode ser o primeiro passo para salvar uma vida. Em 2024, as ações continuam ao longo do ano, com o objetivo de ampliar o debate e promover a saúde mental em todo o país.