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Qualidade do solo: o segredo para uma agricultura sustentável e produtiva

por Daiane Giesen
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Quando pensamos em plantio e produtividade, geralmente consideramos a escolha da melhor semente, insumos, fertilizantes e outros fatores. No entanto, o mais importante para uma boa produtividade é a qualidade do solo onde a semente será plantada. Segundo a engenheira agrônoma e agricultora Mariah Mattei, o solo desempenha um papel crucial na produtividade das culturas. Investir na qualidade do solo é essencial para garantir uma boa produção, mesmo em áreas menores.

– Podemos fazer uma analogia com a compra de um carro de luxo, como uma Ferrari. Você não colocaria uma Ferrari em uma estrada de terra? Não, né? Da mesma forma, não podemos esperar que sementes de alta qualidade prosperem em um solo não preparado. O solo é o substrato fundamental para o desenvolvimento das plantas, que, por sua vez, serão nossa fonte de alimento – explica a agrônoma.

Como garantir a qualidade e a fertilidade do solo?

Para que um solo seja considerado de qualidade, ele deve ter condições favoráveis ao desenvolvimento saudável e sustentável das culturas, como ótima aeração para favorecer o bom desenvolvimento radicular, boa drenagem e disponibilização dos macronutrientes essenciais, especialmente o nitrogênio, fósforo, enxofre, cálcio e potássio. Além disso, adotar as boas práticas de conservação, como rotação de culturas, adubação orgânica e manejo integrado de pragas, são fundamentais para que a qualidade seja mantida.

Conforme Mariah, os produtores podem avaliar a qualidade do solo em três pilares principais: química, física e biologia. “Esses três pilares interagem entre si. É importante garantir que o solo tenha uma estrutura física adequada, com boa porosidade e capacidade de absorção de água, evitando compactação. Além disso, é crucial promover a atividade microbiológica no solo, que é essencial para a saúde das plantas”, destaca.

Para Murilo Teixeira, diretor técnico e operacional agrícola da Estância Cerro do Ouro, esses três pilares precisam estar em equilíbrio. “Ao considerarmos a capacidade de armazenamento de água no solo, a taxa de infiltração de água e os poros que retêm a água útil, podemos ver que quanto mais equilíbrio tivermos nessa parte química e física, mais eficiência teremos na agricultura, utilizando menos insumos e promovendo a vida no solo”, frisa.

O engenheiro agrônomo e sócio-fundador e diretor de desenvolvimento da Bioagreen Agrociência, Luis Curioletti, destaca que os microrganismos desempenham um papel fundamental no solo, pois são responsáveis por diversos processos vitais, como a disponibilização de nutrientes, a formação da estrutura do solo para reter água e resistir ao tráfego de máquinas, entre outros fatores.

Boas práticas agrícolas

Para manter os pilares equilibrados e um solo fértil e produtivo, é importante que boas práticas sejam realizadas. Isso pode ser feito através de práticas como o plantio direto na palha e a rotação de culturas, que ajudam a manter o solo coberto e promovem a diversidade de plantas e microrganismos. Outras práticas, como a análise do solo e a correção de nutrientes, também são importantes para garantir um solo saudável.

Além disso, a utilização de insumos biológicos na agricultura é uma tendência importante e promissora. Esses insumos podem oferecer uma série de benefícios, como melhorias na saúde do solo, aumento da resistência das plantas a doenças e pragas, e redução do impacto ambiental. No entanto, é importante fazer essa transição de forma gradual e planejada, garantindo que os produtores tenham acesso a informações e assistência técnica adequadas.

Segundo Teixeira, a recuperação e manutenção para um solo fértil e produtivo necessitam de atenção constante. Ele destaca o uso de bioinsumos, que são responsáveis por promover a vida no solo, aumentando a diversidade de microrganismos e melhorando a saúde das plantas a longo prazo. Começar com experimentos em uma área pequena pode ajudar na adaptação. “A agricultura está caminhando cada vez mais para esse lado e já temos evidências de sua eficácia na nossa propriedade”, destaca.

Para Mariah, a utilização de insumos biológicos na agricultura é uma tendência. Mas tudo deve ser feito de forma gradual e com análise. “É necessário realizar mais pesquisas e estudos para avaliar o impacto dos insumos biológicos na produtividade e na qualidade dos alimentos. No entanto, os resultados até agora têm sido bastante promissores e acredito que os insumos biológicos podem desempenhar um papel importante na agricultura do futuro”, explica.

A rotação de culturas

A prática da rotação de culturas envolve a alternância anual de diferentes espécies vegetais na mesma região agrícola, selecionadas com a dupla finalidade de atender aos objetivos comerciais e de promover a recuperação do solo.

Há muitos estudos que demonstram os benefícios de práticas de manejo adequadas do solo, especialmente na rotação de culturas para o aumento na produtividade. Em situações de estresse, como períodos de seca, por exemplo, o solo com uma estrutura física adequada e um pH equilibrado tende a ter um desempenho melhor do que solos compactados ou degradados.

Para o diretor técnico da Estância Cerro do Ouro, a integração da pecuária junto à lavoura trouxe benefícios que vão desde a possibilidade do aumento da produção até a diversificação de negócios em uma mesma área. “Um diferencial da nossa propriedade, além da rotação de culturas, é a implementação de um sistema misto de gerações, onde há a combinação de práticas pecuárias e agrícolas”, comenta Teixeira.

A recuperação do solo

A prática da monocultura, ou mesmo sistemas de sucessão contínua como soja-trigo ou soja-milho safrinha, tem o potencial de induzir a degradação física, química e biológica do solo. Segundo os especialistas, isso ocorre devido à redução na diversidade de espécies vegetais, o que diminui a disponibilidade de nutrientes devido às alterações na atividade biológica e ao acúmulo de substâncias tóxicas específicas ou inibidoras de crescimento. 

Além disso, a monocultura pode resultar na diminuição do desenvolvimento do sistema radicular das plantas, favorecer o surgimento de doenças, pragas e plantas daninhas e, consequentemente, levar à queda na produtividade por área ou à manutenção de baixos rendimentos das culturas.

Assim, a recuperação desse solo para que volte a produzir de maneira saudável é possível através de um processo de análise e mudanças na forma de manejo e também de microrganismos nesse solo. Teixeira explica que a recuperação de um solo degradado é possível, enfatizando o papel dos microrganismos nesse processo. “Além de corrigir os nutrientes, utilizamos bioinsumos e práticas de manejo sustentáveis para promover a vida no solo e restaurar sua fertilidade natural”, diz.

A importância da análise de solo

No entanto, antes de iniciar o processo de recuperação, é necessário realizar uma análise detalhada do solo. Mariah explica que a análise é a parte mais importante para trabalhar de maneira correta e assertiva, de acordo com aquilo que o solo realmente precisa. “É como a gente, quando não estamos bem, vamos fazer um exame de sangue para saber o que está errado para depois tratar de forma adequada. Com o solo é a mesma coisa, é preciso primeiro saber onde há a deficiência”, explica.

Curioletti destaca que existem várias formas de análise do solo, desde métodos mais avançados, como a análise metagenômica, que identifica os microrganismos presentes no solo, até abordagens mais simples e preventivas, onde o agricultor introduz microrganismos conhecidos por desempenhar funções benéficas com base nas necessidades da área e na previsão de problemas específicos, como deficiências de nutrientes ou ocorrência de doenças. No caso de introduzir novamente microrganismos no solo, o agrônomo explica que existem duas formas principais de realizar esse procedimento:

– Primeiro, foram descobertos microrganismos que desempenham funções importantes, como a disponibilização de nutrientes e a proteção contra doenças e pragas. Esses microrganismos são então reproduzidos e comercializados para serem aplicados no solo pelos agricultores. Além disso, é possível realizar análises do solo para identificar quais microrganismos são necessários e, com base nisso, introduzi-los de forma planejada e assertiva – explica.

Agricultura: a arte de saber esperar

Para Mariah Mattei, conservação e preservação são fundamentais “porque a gente precisa que nossos bisnetos trabalhem ainda nessas áreas que são plantadas atualmente” e também para uma maior qualidade do produto final que, direta ou indiretamente, nós vamos acabar comendo.

Embora os produtores possam enfrentar desafios incontroláveis, como variações climáticas e flutuações nos preços das commodities, é fundamental preservar e cuidar do solo, o alicerce de toda a atividade agrícola. Investir na saúde do solo não apenas aumenta a produtividade das culturas, mas também promove a conservação ambiental e fortalece a segurança alimentar. Trata-se de uma responsabilidade compartilhada, na qual os produtores desempenham um papel crucial, assegurando que as futuras gerações tenham recursos para continuar produzindo alimentos de forma sustentável.

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