Os equipamentos chegaram no final do ano de 2023 e começam a ser testados. Eles vão permitir aos pesquisadores do Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária (DDPA), da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi), fazer a mensuração dos fluxos dos gases metano, óxido nitroso e dióxido de carbono e quantificar estas emissões, em diferentes usos do solo no Rio Grande do Sul. Além do fluxo de gases, vai ser possível estimar também os teores de carbono no solo e nas plantas.
Esta análise vai começar pela erva-mate cultivada no município de Ilópolis, maior produtor do estado, pertencente ao Polo do Vale do Alto Taquari. O coordenador do projeto “Potencial de sequestro de Carbono e mitigação de Gases de Efeito Estufa (GEE) em áreas de produção de erva-mate no RS sob os sistemas Pleno Sol e Sombreado”, pesquisador do DDPA Luciano Kayser, conta que o objetivo da pesquisa é determinar o potencial descarbonizante da erva-mate cultivada no Rio Grande do Sul em seus diferentes sistemas de produção. “Ou seja, nós queremos saber o quanto do carbono atmosférico a cultura é capaz de remover, incorporando ele ao seu tecido vegetal e ao solo”, afirma.
A erva-mate faz parte do Programa Nacional de Cadeias Agropecuárias Descarbonizantes do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), estruturado para atender as metas de compensação de GEE.
“Estes dados que vão ser obtidos com a pesquisa vão dar subsídios para políticas públicas para a cadeia produtiva e contribuirão para o acesso de produtores ao mercado de créditos de carbono”, destaca Kayser.
O processo
Segundo Kayser, para fazer esta quantificação, vai ser utilizado o analisador de gases de efeito estufa portátil, que fará um balanço de carbono dentro dos diferentes sistemas de produção, como sistemas pleno sol e sombreado, em comparação com floresta nativa. “Os equipamentos que levamos a campo pela primeira vez em janeiro farão a leitura dos fluxos de gases de efeito estufa ao longo de pelo menos um ano. Faremos um acompanhamento mensal da cultura naqueles sistemas”, explica.
As coletas serão realizadas por meio de um sistema de circuito fechado no qual a amostra de gás circula através do analisador. O tempo total de implantação varia entre seis e 15 minutos, dependendo do ecossistema/local de medição. É um método que não há necessidade de transportar amostras para o laboratório para análise. “As análises são realizadas no campo, é como levar o laboratório para a lavoura”, explica o engenheiro florestal Jackson Brilhante, do DDPA, que também participa do projeto.
Além do fluxo de gases, serão estimados os teores de carbono no solo e nas plantas. “Para isso, contaremos com um analisador elementar de carbono, equipamento que será instalado nas próximas semanas e vai permitir quantificar as taxas de sequestro de carbono”, afirma Kayser. Segundo ele, com os dados obtidos com esses equipamentos vai ser possível gerar o balanço de gases de efeito em cada cultura. As amostras serão coletadas em diferentes profundidades do solo até 1 metro em trincheiras e em seguida serão levadas para o Laboratório de Solos do DDPA, para serem analisadas.
Brilhante afirma que “com os dados gerados por estes dois equipamentos será possível calcular o balanço de carbono de uma determinada cultura ou sistema de manejo”. Segundo ele, esses estudos são de extrema importância para gerar os fatores de emissão para as nossas condições, que são informações úteis para serem utilizadas para inventários de emissão.
O projeto
O projeto “Potencial de sequestro de Carbono e mitigação de GEE em áreas de produção de erva-mate no RS sob os sistemas Pleno Sol e Sombreado” está sendo desenvolvido pelos pesquisadores da Seapi e faz parte de uma pesquisa mais ampla coordenada pelo professor Paulo César Carvalho, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), chamada “Monitoramento de Gases de Efeito Estufa (GEE) nos Campos e nas Florestas”. O projeto recebeu recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul (Fapergs), através do Edital 05/2023.
Pesquisas conectadas
De acordo com Kayser, esta pesquisa é uma segunda etapa, posterior aos resultados apresentados no livro “Diagnósticos da produção da erva-mate no Rio Grande do Sul – Aspectos socioeconômicos, produtividade, fertilidade do solo e nutrição das plantas”.
Os dados apresentados no Diagnóstico mostram um levantamento da fertilidade dos solos dos cinco polos ervateiros gaúchos. “Nós vimos que o estoque de carbono no solo variou de 27 até 160 toneladas por hectare. Na média, o sistema sombreado apresentou um estoque significativamente maior, 73 ton/ha, do que o sistema pleno sol, 64 ton/ha”, afirma Kayser.
“A pesquisa pública estadual vem trabalhando com a cadeia produtiva da erva-mate e deve apresentar outros avanços em breve, tanto na forma de livros como de artigos em periódicos internacionais”, afirma Kayser.