No coração do cenário agrícola brasileiro, Dione Carmo Jr., produtor com áreas em Passo Fundo e Pontão, compartilha sua experiência e insights valiosos sobre a eficácia da combinação entre defensivos convencionais e manejo biológico na agricultura. Em uma conversa exclusiva, Carmo destaca a complementaridade desses métodos e seu papel fundamental no manejo eficiente de doenças e pragas nas lavouras.
– A combinação entre os defensivos convencionais e o manejo biológico tem se mostrado altamente complementar e eficiente – afirma Carmo. Em sua opinião, o uso exclusivo de defensivos químicos tem suas limitações, enquanto os biológicos surgem como uma alternativa promissora para o controle de doenças e pragas.
Em relação às doenças, Carmo afirma que os defensivos químicos nem sempre são totalmente eficazes, abrindo espaço para os biológicos atuarem como complementação. “A combinação dos dois métodos permite uma abordagem mais completa e mais eficaz para o manejo de problemas na lavoura”, destaca o produtor.
O manejo biológico, entretanto, não está isento de desafios. Carmo aponta que os biodefensivos são mais sensíveis às condições climáticas e de aplicação, destacando a dependência desses agentes em relação a fatores como temperatura e umidade. “O uso isolado do manejo biológico pode não ser tão eficiente em todas as situações. A combinação dos dois métodos é a melhor abordagem para obter resultados consistentes”, opina o agricultor.
Quais os resultados já obtidos?
O produtor compartilha práticas comuns adotadas em suas propriedades, destacando a aplicação de biodefensivos via pulverização no sulco da plantadeira. Essa técnica, que utiliza um pulverizador acoplado à plantadeira, aplica os biológicos diretamente na linha de plantio. A co-inoculação, utilizando diferentes microorganismos como o Bradyrhizobium e a bactéria Azospirillum via sulco também é uma estratégia empregada.
Outra prática relevante mencionada por Carmo é o uso de biodefensivos na parte aérea das plantas, principalmente em culturas de inverno. “A utilização de trichodermas no controle de mofo branco em áreas de cobertura e Azospirillum em cobertura para auxiliar no manejo do nitrogênio tem gerado resultados satisfatórios”, exemplifica o produtor.
Contudo, Carmo destaca que o sucesso do manejo biológico está intrinsecamente ligado a um bom gerenciamento das aplicações. Ele ressalta a importância de compreender as particularidades de cada biodefensivo, ajustar as doses e compreender as interações entre eles para evitar resultados indesejados. “A aplicação de alguns microorganismos precisa ser feita à noite para evitar a incidência direta da luz solar, que pode afetar sua eficácia”, explica.
Em uma das propriedades de Carmo, a diversidade de culturas é notável, com foco principalmente em soja, milho, trigo e aveia. Apesar das dificuldades decorrentes do excesso de chuva em alguns momentos neste ciclo produtivo, as expectativas para a safra são otimistas e os resultados das lavouras estão satisfatórios.
Oportunidade de novos conhecimentos na feira
A participação na Expodireto Cotrijal é destacada como uma oportunidade crucial para os produtores interagirem com a indústria, pesquisadores e outros profissionais do setor agrícola. Carmo ressalta que a feira é um ambiente propício para discutir e obter informações sobre diversas técnicas e tecnologias, incluindo o uso de biodefensivos. Além disso, destaca que é um momento propício para estabelecer parcerias e trocar experiências entre produtores, buscando soluções para os desafios enfrentados na agricultura.
O que diz a pesquisa?
A utilização de produtos biológicos na agricultura tem se mostrado cada vez mais importante para o manejo de pragas e doenças nas culturas. No entanto, apesar dos avanços na área, ainda há um grande desafio em promover a adoção desses produtos pelos produtores rurais.
A cooperativa Cotrijal, por exemplo, iniciou seus trabalhos com biológicos em 2010, voltados principalmente para o manejo de nematoides e mofo branco. Ao longo dos anos, a cooperativa investiu na pesquisa e desenvolvimento de novos produtos biológicos e obteve resultados promissores.
Segundo o engenheiro agrônomo Alexandre Nowicki, coordenador técnico da Cotrijal, os biológicos se tornaram uma ferramenta importante no manejo feito pelos produtores, complementando o uso de produtos químicos no controle de pragas e doenças. “O produto biológico hoje é uma ferramenta extremamente importante para o nosso produtor, auxiliando e complementando os manejos com os produtos químicos”, enfatiza.
Entretanto, apesar dos avanços, o coordenador destaca que o uso de produtos biológicos ainda representa uma pequena parcela, estimada entre 5% a 10%, em comparação com os produtos químicos, que dominam com cerca de 90% a 95%. O principal desafio identificado é a falta de conhecimento e confiança por parte dos produtores em relação a essas ferramentas.
Nowicki salienta: “Precisamos de mais dados, de mais pesquisas que realmente comprovem o efeito benéfico da utilização desses componentes e também precisamos evoluir mais em produtos e outras ferramentas”, cita.
Resultados promissores
Nowicki destaca alguns resultados promissores, como o aumento de produtividade na soja com uma boa inoculação, a co-inoculação que proporciona até 16% a mais na cultura e a redução da severidade da doença cercóspora em até 10% com a aplicação de biofungicida na parte aérea da soja. Também é mencionado o uso da bactéria Azospirillum na cultura do trigo, propiciando um maior desenvolvimento de raiz e aumentando a rentabilidade para os produtores.
– Apesar desses resultados promissores, ainda há muito a ser pesquisado para entender melhor o comportamento dos biológicos e seus efeitos nas diferentes culturas. Além disso, é preciso investir em tecnologias que facilitem a aplicação e a mistura desses produtos com os químicos, além de definir os melhores momentos para sua utilização – destaca Nowicki.
Os biológicos têm potencial para se tornarem uma ferramenta indispensável no manejo agrícola, auxiliando no controle de pragas e doenças de forma mais sustentável. Por meio de investimentos em pesquisas e divulgação, é possível aumentar a adoção desses produtos e promover uma agricultura mais eficiente e ecologicamente correta.