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Soja e Abelhas: uma aliança lucrativa e promissora

por Daiane Giesen
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A soja, uma cultura agrícola de grande importância econômica, tem sido alvo de discussões recentes relacionadas à sua interação com as abelhas. Tradicionalmente, havia uma crença de que a soja não dependia da polinização das abelhas para sua produção. No entanto, pesquisas recentes indicam que a presença desses polinizadores pode ter um impacto significativo na produtividade e qualidade da colheita.

Contrariando a ideia de que a soja não precisa das abelhas, estudos revelam que a presença desses insetos beneficia a cultura, resultando em um aumento significativo na produtividade. Por consequência, essa melhoria na produção também tem um impacto positivo sobre a rentabilidade proporcionada pela oleaginosa.

É importante destacar que não apenas as abelhas melíferas tradicionais, mas também as abelhas nativas, como as sem ferrão, desempenham um papel crucial na polinização da soja. Agricultores e apicultores, muitas vezes, se tornam aliados nesse processo, contribuindo para a preservação desses polinizadores e, ao mesmo tempo, colhendo os benefícios do mel e própolis produzidos pelas abelhas.

Aumento de produtividade na soja

O pesquisador da Embrapa Clima Temperado de Pelotas, Luís Wolff, destaca que os dados de pesquisas recentes indicam que, mesmo quando a soja pode produzir sem a presença de abelhas, a qualidade e quantidade colhida aumentam significativamente quando esses polinizadores estão presentes. Comparando situações com e sem abelhas, observa-se um acréscimo na produtividade que pode chegar a 18%. Isso significa que, em alguns casos, a presença de abelhas pode resultar em um aumento de até 20% na produção de soja, representando um ganho expressivo para os agricultores.

Apesar desses benefícios, há um aspecto desafiador. A soja, ao contrário de algumas outras culturas, não é totalmente dependente das abelhas. Mesmo com os ganhos observados, ela ainda pode produzir sem a presença desses polinizadores. Essa dualidade levanta questões sobre a verdadeira necessidade das abelhas na produção de soja e se esses benefícios são suficientes para tornar a agricultura mais dependente desses polinizadores.

A importância das abelhas

A aliança entre agricultores e apicultores destaca-se como lucrativa e promissora para o futuro da agricultura no Brasil. Os produtores de soja se beneficiam do aumento da qualidade da semente e da produtividade da soja e os apicultores se beneficiam do acesso a áreas com floração abundante, como plantações de soja, para a produção de mel. Essa integração entre agricultura e apicultura é um exemplo de como práticas agroecológicas podem promover a sustentabilidade e a diversidade nos sistemas de produção.

Esses insetos desempenham um papel vital na polinização, contribuindo para a formação e desenvolvimento de diversos vegetais. Imagine um mundo onde berinjelas são do tamanho de maçãs, o café sofre uma queda de mais de 30% na produção e a presença de laranjas torna-se escassa? Com 85% da reprodução de plantas com flores atribuída às abelhas, qualquer desequilíbrio em sua população pode impactar negativamente as comunidades de plantas e os animais que delas dependem. Neste contexto, compreender a relação entre polinizadores e agricultura torna-se essencial para a sustentabilidade e a diversidade do ecossistema.

Produtividade e polinização

No vasto cenário da agricultura brasileira, um tema está ganhando destaque: a relação entre a criação de abelhas e a produção de soja. Para o apicultor e proprietário da Mel Flor de Ouro, Gianmateu Schommer, apesar de existir a dependência de diversas culturas em relação à polinização, a soja não é essencialmente dependente das abelhas. No entanto, quando adequadamente polinizada, apresenta benefícios notáveis e aumento na produtividade e qualidade do grão da oleaginosa.

O pesquisador da Universidade Federal de Lavras, João Vitor Ganem Rillo Paz Barateiro, destaca que a soja é capaz de produzir sem a presença de abelhas, mas a presença delas proporciona uma qualidade superior.

– Vamos pensar em uma situação que ela pode produzir mais, então ela começa a emitir mais flores ou então há uma flor que seria abortada porque geralmente a flor da soja dura só 24 horas. Essa flor que seria abortada porque não foi fecundada ela segura aquela flor porque ela reconhece uma condição externa que lhe favorece. Então a soja segura a flor e a abelha vai visitar e fazer essa fecundação. A partir disso, nossos trabalhos de pesquisa mostram que no sistema de produção onde tem a presença de abelhas aumenta o número de vagens com quatro grãos e consequentemente a qualidade e o peso daquele grão – explica o pesquisador.

Além de já ter citado o percentual médio de aumento de produtividade em um ambiente que consorcia soja e criação de abelhas, Wolff complementa afirmando que é necessário iniciar uma “abordagem mais sustentável na prática agrícola, promovendo a coevolução entre a soja e as abelhas”.

Benefícios e desafios da integração

Essa integração entre a soja e a criação de abelhas emerge como um exemplo notável de práticas agroecológicas, promovendo sustentabilidade e diversidade nos sistemas de produção. A colaboração entre agricultores e apicultores não apenas visa à preservação das abelhas, mas também resulta em benefícios econômicos e ambientais tangíveis para ambos. Ou seja, tanto apicultores quanto sojicultores têm aumento na produtividade.

Ao reconhecer o papel vital das abelhas na polinização, especialistas ressaltam a importância de valorizar os diversos produtos obtidos da apicultura. Gianmateu Schommer enfatiza que, além do mel, “a polinização é o verdadeiro futuro das abelhas no Brasil”, destacando a necessidade de uma mudança gradual para práticas agrícolas mais sustentáveis.

Apesar dos benefícios observados, a complexidade da relação entre a soja e as abelhas também apresenta desafios. Por mais que a abelha africanizada seja mais resistente a doenças, o uso inadequado de defensivos agrícolas pode prejudicar a polinização da abelha e, conforme as condições em que essa aplicação ocorrer, pode até mesmo causar o envenenamento de uma colmeia.

De acordo com Barateiro, no âmbito da aplicação de defensivos agrícolas, a preocupação com a contaminação das abelhas é levada a sério. Quando se utiliza produtos mais potentes, é necessário adotar medidas rigorosas. O fechamento das colmeias na noite anterior à aplicação é uma prática comum, permitindo que o período de carência do produto seja respeitado. Essa é uma das precauções que visam evitar a perda de abelhas devido eventuais contaminações.

Abelhas no Brasil

A trajetória da apicultura brasileira é uma narrativa marcada por desafios e avanços ao longo dos anos. Em 1839, o padre Antônio Carneiro introduziu colônias de abelhas da espécie Apis Mellifera, originárias da região do Porto, Portugal, inaugurando assim a atividade apícola no Brasil. Essa prática ganhou impulso com a chegada de imigrantes europeus, que contribuíram para a diversificação das raças de abelhas, principalmente nas regiões Sul e Sudeste.

Contudo, o cenário mudou drasticamente em 1956 com a introdução acidental da abelha africana (Apis Mellifera Scutellata). Essas abelhas escaparam de um apiário experimental e começaram a acasalar com as abelhas europeias, dando origem ao híbrido natural conhecido como abelha africanizada. A agressividade dessas abelhas trouxe desafios significativos no manejo dos apiários, levando alguns apicultores a abandonar a atividade.

A virada ocorreu nos anos 70, quando técnicas adequadas foram desenvolvidas, permitindo a recuperação e expansão da apicultura brasileira. Esse período foi marcado pelo crescimento da atividade em novas regiões, incluindo Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país. As três etapas dessa jornada incluem a implantação inicial (1839-1955), a fase de africanização (1956 até de meados de 1970) e o período de recuperação e expansão (1970 em diante).

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