Piloto Lucas Moraes repete Senna e traz ao Brasil Título Mundial
17 de dezembro de 2025
O piloto Lucas Moraes comemorou seus 36 anos no palco do FIA Awards 2025, no último dia 12 de dezembro, e ainda fez história. Em cerimônia realizada em Tashkent, no Uzbequistão, ele recebeu o troféu pelo título do Campeonato Mundial de Rally Raid (W2RC), conquistado em outubro, na última etapa da temporada. Na mesma noite, outro brasileiro também foi destaque: Rafael Câmara, campeão da Fórmula 3 em 2025, foi eleito estreante do ano.
A premiação oficializa um feito inédito: é o primeiro título mundial da FIA para o automobilismo off-road brasileiro. “O Brasil é reconhecido mundialmente no automobilismo por seus campeões mundiais na Fórmula 1. Por isso, receber um prêmio da FIA 34 anos após o último título do Ayrton Senna, e agora no deserto, no rali, representa muito para mim e para nosso país”, disse Lucas Moraes em entrevista à Forbes Brasil.
LeA cerimônia reuniu os campeões das principais categorias sob chancela da FIA, como Fórmula 1, Mundial de Endurance (WEC) e Fórmula E. No meio dos grandes nomes do asfalto, Moraes levou o off-road ao centro do palco.
A história que o levou até ali ele mesmo divide em três capítulos. “Minha trajetória é dividida em três grandes capítulos. O primeiro foi no esporte, nas motos, andando com meu pai desde os quatro anos. Com 15, entrei no profissional”, conta. Pela Suzuki, foi vice-campeão brasileiro e latino-americano de motocross, até que uma lesão séria no quadril, “similar ao que o o tenista Guga teve”, o tirou das pistas aos 21 anos.
O segundo capítulo foi longe da terra e do barulho de motor. “Não queria mais ficar aqui no Brasil, foi ruim para mim mentalmente. Fui para o Vale do Silício, nos Estados Unidos”, lembra. Lá, estudou negócios, fez cursos e fundou, com um sócio, a startup de finanças pessoais Olivia, “uma IA antes do ChatGPT que ajudava as pessoas a gastar melhor”, vendida ao Nubank em 2021. Depois da operação, voltou a morar no Brasil.
É então que começa o terceiro ato: o rali profissional. Em pouco tempo, Moraes virou um dos nomes mais fortes do off-road mundial. Em 2019, conquistou o Rally dos Sertões como o mais jovem campeão da história. Em 2023, em sua estreia no Rally Dakar, considerado mais difícil do mundo, terminou em terceiro lugar geral, melhor resultado de um estreante na categoria Carros em 35 anos e o melhor desempenho já registrado por um brasileiro. “Dentro do rali, foi meu pódio na estreia do Dakar. Ainda sem um patrocinador, melhor história de um iniciante. Ali minha vida mudou”, diz.
Motocross como base
A base das motos segue presente no deserto. “A moto me ajuda muito na leitura do terreno. Você tem areia, cascalho, terra mais batida, e tudo isso influencia. É muito importante ter essa experiência e conseguir transferir para os carros”, explica. A diferença, diz ele, está no ritmo: “A principal diferença é que o motocross é muito explosivo. No rali, é rápido, por mais que seja de longa duração. A segunda é usar essa velocidade em forma constante. Tem muitos pilotos rápidos, é difícil manter a constância. O Dakar são 9 mil quilômetros, é a Fórmula 1 do rali.”
O título mundial de 2025 não veio sem percalços. “Foi um ano que começou difícil, isso nos fez perder bastante tempo. Depois conseguimos colocar tudo no lugar, comecei em quinto no campeonato. Provas muito duras, principalmente as de deserto, como Abu Dhabi, uma disputa até o limite”, resume. No fim, a regularidade prevaleceu. “É muito foco e velocidade.”
Dentro do carro, a vitória também depende da sintonia com o navegador. “Muita confiança mútua. Você tem que confiar 100% que vai fazer aquela curva, pé cravado. É um casamento”, explica. “A gente tem um dialeto dentro do carro para ter as informações mais rápidas e precisas.”
Mais do que troféus, Moraes vê sua missão ligada à visibilidade do esporte. “Meu grande desejo é fazer o esporte crescer. O brasileiro gosta de quem ganha, então tem que continuar ganhando para o rali aparecer”, disse à Forbes. “O rali ainda é um esporte de nicho no Brasil, mas esse título fez as pessoas olharem diferente. Não pelo Lucas, mas pelo esporte.”
Agora, o foco muda novamente para o Dakar, que abre o calendário do Mundial de Rally Raid de 2026 em 3 de janeiro. Será sua estreia pela Dacia Sandriders. “Dakar é um grande sonho. Segundo ano fazendo a temporada toda, falta ganhar o Dakar”, admite. A preparação, garante, segue o mesmo rigor das outras provas – com um fator extra: “O desafio do Dakar são essas partes móveis durante 14 dias. A parte mais difícil é colocar tudo junto, muito harmônica.”
Depois de recolocar a bandeira brasileira no topo dos pódios da FIA, Lucas Moraes entra no próximo ano com uma meta clara: transformar o rali, hoje esporte de nicho, em mais um capítulo de protagonismo do Brasil no automobilismo mundial – agora, também no deserto.
Fonte: Forbes