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Aumento no consumo de cigarros eletrônicos no Brasil alerta para riscos à saúde

Saúde

24 de novembro de 2025

Aumento no consumo de cigarros eletrônicos no Brasil alerta para riscos à saúde
Apesar de proibidos pela Anvisa, vapes seguem sendo comercializados e consumidos no Brasil
Foto : Mauro Schaefer

O aumento no consumo de cigarros eletrônicos no Brasil acende um alerta para os riscos que seu uso traz para a saúde. De acordo com o instituto Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (Ipec), o país registrou um aumento de 600% no número de usuários do produto, também conhecido como vape, entre 2018 e 2023. Outro dado, desta vez do Ministério da Saúde, através da Pesquisa Nacional de Saúde, e em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que jovens entre 15 e 24 anos representam 70% dos consumidores de vapes no Brasil.

Apesar do crescimento no consumo, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe desde 2009 a fabricação, importação, comercialização, distribuição, armazenamento, transporte e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs) no Brasil. O médico chefe do Serviço de Pneumologia e Cirurgia Torácica do Hospital Moinhos de Vento, Marcelo Basso Gazzana, explica como que esse produto afeta a saúde do usuário.

“O vape é um dispositivo que libera nicotina e outros produtos, como diluentes de sabores e cheiros. Os cigarros eletrônicos não são permitidos no Brasil e, por isso, não possuem um controle de qualidade em sua produção. Então, não é garantida a quantidade de substância neles, nem mesmo a pureza delas. Além da intoxicação por nicotina, essas substâncias são potencialmente cancerígenas. O vape também pode causar uma inflamação no pulmão, como uma pneumonia, que por si só é uma situação grave e que pode levar a óbito”, apontou.

Apesar disso, o médico explica que, por ser recente o consumo do produto, ainda não existem estudos com tempo suficiente de evolução para identificar todos os riscos causados pelo seu uso no organismo. “Ainda não temos estudos definitivos sobre isso, justamente porque não teve tempo para tal. Mas já foram várias pesquisas que identificaram substâncias dentro dos vapes que são sabidamente cancerígenas. Com certeza o cigarro eletrônico tem também esse potencial de causar câncer”, completou.

Ele também citou que a falta de padrão de fabricação, justamente por sua proibição em diversos países, apresenta um risco para os usuários. “Os vapes são muito diferente eles por conta da fabricação. Isso é um risco silencioso e que ainda carece de uma comprovação mais robusta. Ainda é necessário mais tempo de acompanhamento para documentar isso”, citou.

Diferentemente do que muitos pensam, Gazzana também reforçou que o cigarro eletrônico não pode ser visto como uma forma de parar de fumar. “A pessoa ainda vai consumir muita nicotina, que é quem traz a dependência. Então, o vape não é uma forma adequada disso (parar de fumar). Além disso, para quem não é fumante, começar a usar cigarro eletrônico pode induzir o tabagismo. O vape ainda financia o crime organização. Então, não tem nada de inofensivo. Esse é o alerta”, completou o médico.

Epidemia silenciosa

A médica pneumologista do Hospital Sírio-Libanês de São Paulo, Elnara Negri, alerta que, disfarçado com sabores adocicados e design colorido, os vapes possuem substâncias tóxicas e viciantes, com metais pesados e compostos químicos que causam danos pulmonares e cerebrais. Conforme a profissional, o sal de nicotina presente nesses dispositivos tem absorção até dez vezes mais rápida que a nicotina comum, o que acelera o vício.

Ela aponta ainda que o crescente uso desses dispositivos eletrônicos entre adolescentes poderá refletir, em curto e médio prazo, em uma epidemia silenciosa. “Estamos diante de uma geração que está sendo fisgada precocemente pela nicotina, muitas vezes sem perceber o risco”, pontuou.

De acordo com a Anvisa, esse tipo de produto surgiu no início do milênio e já passou por diversas gerações, como cigarros de uso único, recarregáveis com refis líquidos e com tabaco aquecido. A agência aponta ainda que os vapes utilizam especiais de nicotina, como os sais de nicotina e nicotina sintética, assim como outras plantas e substâncias distintas do tabaco. Além da proibição desde 2009, a recente Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) n° 855/2024 também reforçou a proibição de seu uso em recintos coletivos fechados, público ou privado.

Desafios no combate à comercialização

Apesar da proibição, o aumento no consumo de cigarros eletrônicos se dá por conta da disponibilidade na comercialização do produto. No país, um dos principais órgãos de combate à importação, distribuição e venda do vape é a Receita Federal. De acordo com o auditor fiscal chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho no RS, Eduardo Mielke, a principal origem do produto comercializado ilegalmente no Brasil é a China, sendo a fronteira com o Paraguai a principal porta de entrada.

Para Mielke, os principais desafios nesse combate são a comercialização eletrônica, a falta de uniformidade internacional em termos de legislação sobre o produto, tendo em vista que alguns países permitem seu consumo, a falta de conscientização da sociedade quanto aos riscos, e a pressão econômica feita para tentar justificar o uso de uma substância que ainda não foi estabelecida pela ciência como segura.

“Nossas principais apreensões no país são no Mato Grosso do Sul, por via terrestre, e no porto de Santos, em São Paulo. A aduana brasileira trabalha nas fronteiras terrestres, nos portos, aeroportos, na venda em território nacional, na venda em comércio eletrônico, na venda através de plataformas e redes sociais, e na investigação da renda ilegal derivada desse comércio”, apontou.

De acordo com o auditor fiscal, apenas no RS, a atuação da Receita Federal tem refletido em maior prejuízo para as organizações que trabalham com a comercialização ilegal do cigarro eletrônico. Conforme o órgão, em 2024, foram mais de R$ 355 mil em produtos apreendidos no Estado.

Entretanto, entre janeiro e outubro deste ano, o número contabilizado de apreensões praticamente dobrou, saltando para cerca de R$ 690 mil no RS. No Brasil, no mesmo período, foram R$ 153 milhões. Mielke também reforçou a integração da Receita Federal com outros órgãos de segurança no combate à importação, distribuição e venda do vape.

“A Receita Federal fiscaliza esses bens por serem estrangeiros e de importação proibida, mas as forças policiais também atuam contra esse comércio, assim como os órgãos de vigilância sanitária em nível municipal e estadual. A Receita Federal é membro da Comissão Nacional para Implementação da Convenção-Quadro sobre Controle do Uso do Tabaco e de seus Protocolos (Conicq) e nela todas as agências governamentais estão atuando tanto no tocante a melhorar a legislação como a fiscalizar mais intensamente essa importação e comércio ilegal”, finalizou.

Fonte: Correio do Povo