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Estados Unidos e China ignoram medidas contra o aquecimento global

Mundo

25 de outubro de 2025

Estados Unidos e China ignoram medidas contra o aquecimento global
Acirramento das disputas geopolíticas agravou a situação.
Foto: Freepik

A COP30, em Belém do Pará, tem o desafio de acelerar as ações em todos os níveis para conter o aquecimento global, diante de um agravamento das condições climáticas adversas à vida na Terra. O limiar mais seguro – de não deixar que a temperatura do planeta suba mais de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial – está sendo ultrapassado, enquanto todas as iniciativas balizadas pelo Acordo de Paris se revelam, ano a ano, muito aquém das reais necessidades.

Mas não só as condições climáticas estão piorando: são agravadas pela atmosfera política poluída pelos avanços dos negacionistas das mudanças ambientais, cuja vanguarda hoje é o país mais rico do mundo e o segundo maior emissor de gases estufa, os Estados Unidos, sob Donald Trump, e pelo desmantelamento do único quadro que poderia dar esperanças de um esforço bem-sucedido para evitar catástrofes climáticas – o multilateralismo.

Em 2024, a temperatura do planeta ficou pela primeira vez 1,6º C acima da verificada no período pré-industrial, conforme o Instituto Copérnico. Embora ela tenha de se repetir por duas décadas para consolidar novo patamar, o instituto aponta que há 70% de chances de a atual década enfileirar cinco anos acima dessa meta ideal. A perspectiva pessimista é, em primeiro lugar, decorrência inevitável da relutância dos principais responsáveis pelas emissões de CO2 em reduzi-las. O acirramento das disputas geopolíticas agravou a situação.

Os Estados Unidos negam o problema e têm agido nos foros internacionais para boicotar acordos, como o de redução de carbono do transporte marítimo, no exemplo mais recente, além de desmontar todas as estruturas criadas no país para proteger o ambiente. A China, o principal emissor mundial, apresentou metas frouxas, de redução de 7% a 10% em relação a seu pico, consideradas decepcionantes, embora o país costume ultrapassá-las. Os exemplos americano e chinês foram uma ducha de água fria para os demais países.

A União Europeia, na vanguarda das ações ambientais, não apresentou suas novas metas até agora, mesmo depois de o prazo ter sido adiado até setembro. O bloco está a caminho de realizar uma transição “pragmática”, o que significa afrouxar em toda linha a legislação verde com a qual pretendia, inclusive, estabelecer parâmetros ambientais para os demais países comerciarem com a Europa.

A Alemanha, país mais avançado em ações verdes do bloco, hoje faz o que pode para salvar os carros com motores a combustão e quer, ao lado da França, extinguir regras que obrigam as empresas a averiguarem a existência de abusos ambientais e sociais de seus fornecedores.

Leniência

Só 62 dentre 195 países apresentaram suas novas metas de redução das emissões. São as consequências dessa leniência ondas de calor mais fortes, incêndios florestais mais amplos e devastadores, aumento mais rápido que o previsto da temperatura dos oceanos, com redução de sua capacidade de absorver carbono, derretimento acelerado das calotas polares e desmatamento vasto, com perda da biodiversidade.

Um levantamento sistemático de 45 métricas para avaliar o estágio de cumprimento das metas do Acordo de Paris, o Estado da Ação Climática 2025, realizado pelo Systems Change Lab, esforço conjunto de ONGs e fundações, apresentou resultados melancólicos. Do total, 29 metas se revelaram muito “fora da rota”, entre elas, as de deter o desmatamento, reduzir as ameaças à biodiversidade, diminuir o uso do carvão como fonte de energia, a principal causa de emissões no setor, e o financiamento às ações contra o aquecimento global.

Outras cinco metas simplesmente estavam na direção errada. A principal: o financiamento aos combustíveis fósseis cresceu US$ 75 bilhões por ano desde 2014. O único indicador que estava no caminho “certo”, a venda de veículos elétricos, arrefeceu na Europa e EUA e é agora considerado fora de rota. “Não estamos apenas ficando para trás, como também fracassando nos pontos mais críticos”, disse Sophie Boehm, pesquisadora sênior do World Resources Institute (WRI) e coautora do relatório.

A COP30, diante de condições tão difíceis, não fará milagres, como as outras não fizeram, apesar da reconhecida competência da coordenação brasileira. A ausência de metas mandatórias e a exigência de consenso amplo entre 195 nações para agir se mostraram empecilhos até agora intransponíveis a iniciativas conjuntas resolutas e tempestivas.

O financiamento climático por parte dos países desenvolvidos continua sendo uma barreira intransponível, à qual se soma a firme relutância em um acordo para reduzir no tempo o uso de combustíveis fósseis. A Presidência brasileira terá sido bem-sucedida se conseguir avanços claros nas duas questões.

Fonte: O Sul