Pesquisa liderada por brasileiros devolve movimento a paraplégicos
25 de setembro de 2025

Um estudo brasileiro trouxe esperança para pessoas que sofreram lesões graves na medula espinhal. Pesquisadores do departamento de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) testaram uma nova terapia em pacientes nessa condição e conseguiram algo considerado revolucionário: todos eles recuperaram o controle dos movimentos apesar da lesão medular. O tratamento testado no Brasil usa uma substância chamada polilaminina, aplicada por injeção logo após o acidente.
Os resultados da pesquisa estão na etapa conhecida como preprint. Esta fase é preliminar à publicação em uma revista científica, uma vez que o artigo ainda não passou por revisão de outros pesquisadores. O preprint é importante porque acelera o recebimento de feedback e de possíveis colaborações ao trabalho.
A lesão medular completa é uma das mais devastadoras que existem. Quando ela acontece, o paciente perde totalmente a capacidade de se mover e de sentir abaixo do ponto onde a medula foi danificada. Normalmente, apenas 15% dos pacientes recuperam algum movimento de forma natural.
Pesquisa da UFRJ teve sucesso em 100% dos pacientes
No estudo dos pesquisadores da UFRJ, oito pacientes foram submetidos ao tratamento – dois deles acabaram morrendo por outras questões não relacionadas com a pesquisa, e não chegaram ao final dos estudos. Os resultados surpreenderam: 100% dos sobreviventes voltaram a ter controle motor voluntário. Um dos pacientes chegou até mesmo a caminhar novamente e recuperou o controle da bexiga e intestino.
A polilaminina é uma versão modificada de uma proteína natural chamada laminina, que ajuda os nervos a sobreviver e crescer. A princípio, quando a medula é lesionada, essa proteína desaparece naturalmente do local. A pesquisa mostrou que a polilaminina pode agir como um substituto, criando um ambiente favorável para que os nervos danificados possam se regenerar e voltar a funcionar.
Os pesquisadores consideraram o percentual de sucesso entre os pacientes que completaram o estudo como algo sem precedentes nos estudos médicos. O esperado era que cerca de 15% desses pacientes tivesse algum tipo de recuperação espontânea de movimento.
A pesquisa ainda descreve a morte de um terceiro paciente na lista de eventos adversos. Diferente dos dois primeiros, um que morreu em decorrência de pneumonia no quinto dia e outro que morreu por problemas cardíacos no 20º dia, este terceiro paciente recebeu alta após três semanas de tratamento. A equipe médica o acompanhou em casa por um mês, mas depois o hospitalizou, e ele morreu em decorrência de uma infecção generalizada. Os especialistas descartaram, nos três casos, qualquer relação dos óbitos com o tratamento
Pesquisadores da UFRJ testaram a pesquisa em ratos antes de aplicá-la em humanos
Antes de testar a poliaminina em humanos, os pesquisadores aplicaram a substância em ratos. Nesta fase de testes, o estudo mostrou, de forma preliminar, a eficácia do tratamento. Nos animais testados, a aplicação se mostrou eficaz em três tipos diferentes de lesões medulares.
Pesquisadores testaram um quarto tipo de lesão na medula de ratos em outra etapa prévia à aplicação em pessoas. Similarmente, os resultados se mostraram bastante promissores. A porcentagem média de espécimes com recuperação total de movimentos saltou de 27,3% entre aqueles sem tratamento para 61,8% entre quem recebeu a polilaminina.
Em relação a outros tratamentos utilizados para casos semelhantes de lesão na medula de humanos, os resultados desta pesquisa foram muito superiores. Enquanto a polilaminina teve sucesso em 75% dos casos (6 de 8 pacientes), outros tratamentos testados antes conseguiram taxas bem menores. Em alguns casos essa taxa de recuperação foi de apenas 6%. Apenas duas outras terapias tiveram resultados comparáveis, com 30% e 38% de sucesso.
Paciente que poderia ficar tetraplégico recuperou todos os movimentos
O caso mais notável entre os pacientes que participaram da pesquisa foi o de um jovem vítima de uma lesão total na última vértebra da coluna cervical. Em outras palavras, este paciente havia perdido todos os movimentos do corpo abaixo do pescoço.
Ele recebeu a polilaminina menos de 24 horas depois de se acidentar, o que pode ter feito a diferença para os bons resultados. Após um mês de tratamento ele mostrava sinais que indicavam uma potencial recuperação total.
Um ano depois da lesão na medula, o paciente (que tinha chances de ficar tetraplégico) havia recuperado a capacidade total de caminhar. Além disso, ele também recuperou o controle independente das funções da bexiga e do intestino.
A injeção de polilaminina não exatamente regenerou a medula desse paciente. Os exames de imagem não mostraram uma recuperação completa do tecido medular. O que aconteceu foi algo mais sutil: alguns nervos conseguiram se regenerar o suficiente para reestabelecer a comunicação com os centros de controle motor. Com isso, a pesquisa mostrou que mesmo poucos nervos funcionando podem ser suficientes para devolver movimentos básicos ao paciente.
Fonte: Gazeta do Povo.