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Em grave crise, os Correios estimam que será necessário um aporte do Tesouro Nacional de R$ 2 bilhões neste ano e R$ 5 bilhões em 2026 para sanear as contas

Economia

21 de setembro de 2025

Em grave crise, os Correios estimam que será necessário um aporte do Tesouro Nacional de R$ 2 bilhões neste ano e R$ 5 bilhões em 2026 para sanear as contas
A nova direção dos Correios vai insistir com o Ministério da Fazenda sobre a necessidade de colocar dinheiro na empresa.
Foto: Reprodução

Em grave crise, os Correios estimam que será necessário um aporte do Tesouro Nacional de R$ 2 bilhões neste ano e R$ 5 bilhões em 2026 para sanear as contas e obter capacidade de pagamento de um empréstimo com o setor financeiro, em negociação com bancos.

As conversas sobre um plano de ação para reerguer a empresa ganharam fôlego com a escolha de Emmanoel Schmidt Rondon para a presidência da estatal. Rondon vai substituir Fabiano Silva dos Santos, que estava demissionário desde o início de julho. O nome do novo presidente foi aprovado pelo Conselho de Administração.

A nova direção dos Correios vai insistir com o Ministério da Fazenda sobre a necessidade de colocar dinheiro na empresa, de acordo com pessoas próximas à empresa. A expectativa é que a dança das cadeiras sensibilize a equipe econômica a adotar alguma medida de ajuda aos Correios.

Troca de gestão

Integrantes da Fazenda admitem a necessidade de aporte, mas são contrários, sobretudo, porque, caso se concretize, a estatal seria considerada dependente. Como consequência, todos os seus gastos, algo em torno de R$ 20 bilhões, teriam de ser considerados no apertado Orçamento da União, forçando o governo a abrir mão de outras políticas públicas.

Na avaliação de aliados do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a busca por uma solução sustentável para a estatal passa por definir se a empresa continuará com a obrigação de universalização do serviço postal, que por definição é deficitário e consome os resultados da estatal.

A Fazenda considera que, em um mundo digital, é possível pensar em um modelo em que se crie obrigações de universalização para outros atores do mercado, mantendo os Correios como mais um participante. O debate, feito junto à empresa e ao restante do governo, no entanto, não é considerado simples.

Antes dessa decisão, por sua vez, integrantes da pasta afirmam que é necessário trocar a gestão da empresa, já que a equipe atual não entregou os resultados esperados, além de adotar ações para reverter a situação negativa no curto prazo. O prejuízo dos Correios no primeiro semestre deste ano mais do que triplicou em relação ao mesmo período do ano passado, de R$ 1,35 bilhão para R$ 4,37 bilhões.

No governo de Jair Bolsonaro, a empresa estava sendo preparada para a privatização. Lula mudou o plano, mas a estatal apresenta seguidos e crescentes prejuízos, com atraso de pagamento a fornecedores, prestadores de serviços e até aportes no fundo de pensão. A folha de pagamentos só vem sendo paga em dia porque outras dívidas sofrem atraso, contou integrante da diretoria.

Sem União Brasil

A renovação da cúpula já está em andamento com a indicação de Rondon, considerado um nome técnico. As diretorias dos Correios também deverão mudar. Segundo interlocutores, o governo deve trocar as indicações feitas pelo União Brasil, legenda que optou por deixar o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Das cinco diretorias dos Correios, três são da cota da sigla.

As mudanças deverão se estender ao Postal Saúde, cujos executivos também são ligados ao União, e ao Postalis, fundo de pensão dos funcionários do Correios. Duas diretorias comandadas por mulheres na estatal devem ser mantidas: Governança e Gestão, comandada por Juliana Picoli Agatte, e a diretoria Financeira, que tem Loiane Bezerra de Macedo à frente. Com perfil técnico, elas chegaram a ser cotadas para assumir a presidência.

A busca de solução interna foi uma alternativa à dificuldade do governo em encontrar um executivo para comandar os Correios diante das dificuldades em reestruturar a empresa, do aparelhamento político, sobretudo nos estados, e do corporativismo, com forte ingerência de sindicatos.

Lula não queria um nome ligado aos partidos do Centrão, e a Fazenda alertou que seria recomendado evitar o loteamento político para que o plano de socorro da empresa tivesse chance de vingar. A Casa Civil, então, endossou Emmanoel Rondon, que inicialmente resistiu.

Fabiano Silva, advogado ligado ao grupo Prerrogativas, alinhado a Lula, passou a ter a gestão questionada no governo, sobretudo pelos Ministérios da Fazenda e pela Casa Civil. O resultado financeiro e as dificuldades para implementar um plano de corte de despesas, sobretudo com pessoal, que corresponde a 60% do custo fixo dos Correios, foram cruciais na sua demissão.

Procurado, Silva não quis se manifestar. Em carta de despedida, diz ter que encerrar um ciclo e que as conquistas (na gestão dele) “pavimentaram o caminho para um futuro de crescimento” dos Correios. Ele citou a instituição de CEP em dez mil comunidades, a ajuda ao Rio Grande do Sul, atingido pelas chuvas em 2024, investimentos de R$ 1,8 bilhão e prêmios da empresa. Procurada, a estatal afirmou que não iria se manifestar.

Fonte: O Sul