Estilo de vida saudável pode retardar sintomas do Alzheimer em até 10 anos
20 de setembro de 2025

O Alzheimer, forma mais prevalente de demência neurodegenerativa, afeta cerca de 1,2 milhão de brasileiros, segundo estimativas do Ministério da Saúde. Representando aproximadamente 60% dos casos de demência no mundo, a doença é marcada por declínio cognitivo progressivo, perda funcional e alterações comportamentais. Embora ainda não haja cura, evidências científicas recentes indicam que mudanças no estilo de vida podem retardar o aparecimento dos sintomas em até uma década.
O alerta ganha relevância especialmente em 21 de setembro, data em que se celebra o Dia Mundial do Alzheimer. Criada pela Alzheimer’s Disease International, a iniciativa tem como objetivo ampliar a conscientização sobre a doença, combater o estigma e incentivar o diagnóstico precoce. A condição acomete principalmente indivíduos acima dos 65 anos, mas também pode se manifestar em faixas etárias mais jovens. Os primeiros sinais incluem lapsos de memória, dificuldade em realizar tarefas rotineiras, desorientação espacial e temporal, além de alterações de humor e personalidade.
Segundo o neurologista Roger Zanandréa, do Hospital de Clínicas Ijuí (HCI), o Alzheimer está associado ao acúmulo anormal de duas proteínas no cérebro: beta-amiloide e tau. “Essas proteínas seguem um padrão de deposição que afeta inicialmente as áreas relacionadas à memória. Embora possam estar presentes em cérebros de idosos saudáveis, no Alzheimer elas se acumulam de forma mais agressiva e previsível”, explica.
Embora ainda não exista tratamento curativo, avanços na neurociência têm apontado caminhos promissores. Medicamentos em fase de desenvolvimento buscam reduzir os depósitos de beta-amiloide, com o objetivo de frear a progressão da doença. Enquanto isso, o tratamento precoce e multidisciplinar continua sendo a principal estratégia para preservar a autonomia e a qualidade de vida dos pacientes.
Além da abordagem clínica, o estilo de vida tem se mostrado um fator decisivo na prevenção. “Há fatores de risco não modificáveis, como idade e predisposição genética. No entanto, fatores comportamentais têm grande impacto na modulação do risco”, afirma Zanandréa.
Entre os hábitos recomendados estão:
- Atividade física regular, que melhora a vascularização cerebral e reduz inflamações sistêmicas.
- Alimentação equilibrada, com foco em padrões como a dieta mediterrânea, rica em antioxidantes e ácidos graxos essenciais.
- Sono de qualidade, fundamental para a consolidação da memória e a eliminação de toxinas cerebrais.
- Estímulo cognitivo, por meio de leitura, jogos de lógica e atividades intelectualmente desafiadoras.
- Vínculos sociais saudáveis, que reduzem o risco de isolamento e depressão, fatores associados ao declínio cognitivo.
“Estudos internacionais apontam que a adoção consistente desses hábitos pode retardar entre cinco e dez anos o aparecimento dos sintomas”, destaca o neurologista.
A prevenção também depende de políticas públicas eficazes e ações comunitárias. Especialistas defendem que o envelhecimento ativo — com acesso à saúde, educação continuada e espaços de convivência — é essencial para mitigar o impacto da doença. Em países com investimentos robustos em saúde preventiva, os índices de demência têm se mantido estáveis, mesmo diante do aumento da longevidade.
No Brasil, iniciativas como o Programa Nacional de Saúde da Pessoa Idosa e campanhas de conscientização têm buscado ampliar o acesso ao diagnóstico e ao acompanhamento especializado. No entanto, muitos casos ainda são identificados em estágios avançados, quando os sintomas já comprometem significativamente a autonomia do paciente.
Para familiares e cuidadores, o suporte emocional e a informação qualificada são fundamentais. O Alzheimer não afeta apenas quem recebe o diagnóstico, mas toda a rede de relações ao redor. “É uma doença que exige paciência, compreensão e adaptação constante. Mas com suporte adequado, é possível garantir dignidade e bem-estar ao longo do processo”, afirma Zanandréa.
Neste Dia Mundial do Alzheimer, o recado dos especialistas é claro: cuidar da saúde cerebral deve começar muito antes dos primeiros sinais. E pequenas mudanças no cotidiano podem representar avanços significativos na prevenção e no enfrentamento da doença.
Fonte: O Sul