Mulheres 50+ e o tabu da menopausa: os impactos do silêncio
24 de agosto de 2025

A psicóloga e advogada Michele Klotz da Rosa demorou a identificar que os sintomas que vivia, como confusão mental, insônia e ansiedade, estavam ligados à perimenopausa. Convidada do podcast Fala 50+, ela reconhece que só conseguiu nomear a experiência muito tempo depois, um reflexo do silêncio que ainda cerca o tema.
Assim como Michele, milhares de brasileiras atravessam essa transição hormonal sem apoio, acolhimento ou informação. A pesquisa Menopause Experience & Attitudes, encomendada pela farmacêutica Astellas e realizada em seis países com 13.800 entrevistados, revelou que 8 em cada 10 brasileiras (79%) relatam efeitos psicológicos negativos da menopausa. Entre os mais comuns estão ansiedade (58%), depressão (26%), constrangimento (20%) e vergonha (16%).
No trabalho, o impacto é direto. Quase metade das brasileiras ouvidas (47%) relatou alguma consequência negativa na carreira, que varia da queda de produtividade ao medo de contar a colegas ou gestores o que estão vivendo. Apenas 29% se sentem à vontade para falar com seus líderes sobre o tema. “A gente se sente sozinha, como se fosse uma falha nossa. Mas não é. O problema é a falta de informação e empatia”, afirma Michele.
O julgamento, segundo ela, agrava ainda mais a situação. “Se eu esqueço algo no trabalho, ninguém pensa que pode ser um efeito da menopausa. Pensam que estou desatenta, desleixada, desatualizada. O julgamento é imediato. Isso adoece.”
Corpo em mudança, não em silêncio
Para Michele, o tabu da menopausa se soma ao etarismo, criando um ciclo de silenciamento sobre o corpo da mulher madura. “É como se ele se tornasse um problema a ser escondido. Mas não é. É um corpo que está mudando, e precisa de cuidado, não de repressão.”
A pesquisa da Astellas reforça essa percepção. O levantamento mostra que 65% dos brasileiros ainda consideram a menopausa um tabu, e 66% acreditam que ela não é levada a sério. O nível de conhecimento também é baixo: apenas 30% dizem conhecer bem os sintomas e, entre mulheres que já passaram pela experiência, esse número chega a 42% — menos da metade.
Romper esse silêncio, defende Michele, é um passo essencial para garantir dignidade às mulheres. “Falar sobre menopausa não é só uma questão de saúde. É uma questão de trabalho, de carreira, de pertencimento. A gente não pode aceitar mais que isso seja tratado com descaso.” A empresária Carla Carnevali Gomes concorda que o tema precisa entrar no dia a dia das empresas, lembrando que inclusão também passa por acolher as transformações do corpo e da vida das mulheres maduras.
Fonte: Correio do Povo