O aniversário de um clássico: Santa Helena da Serra celebra 40 anos

Pode uma música se tornar um grande sucesso e ainda vencer duas vezes o mesmo festival? Pela forma como normalmente os festivais se organizam, a resposta seria não, mas foi isso que aconteceu na segunda metade da década de 1980 e começo dos anos 90 com Santa Helena da Serra, o maior clássico revelado pela Seara da Canção Gaúcha. A composição venceu a quinta edição do festival de Carazinho em 1985, caindo nas graças do público.

Seu segundo título viria seis anos depois. Na época, a 11^a Seara reuniu músicas marcantes dos anos anteriores em uma edição comemorativa, a “Seara das Searas”, vencida novamente por Santa Helena, cujo sucesso só aumentou. A música foi composta por Rui Biriva e José Luis Vilela. No palco foi interpretada por Biriva e Daniel Torres. Além de revelar Santa Helena, a 5^a Seara é considerada por muitos como a melhor edição da Seara. De lá saíram outros sucessos marcantes, como Baile de Rengo e Benquerença, entre outras.

– Na primeira noite o Rui Biriva subiu ao palco e cantou muito, da mesma forma que Eraci Rocha, com Baile de Rengo. E então veio o César Passarinho e destruiu cantando (Benquerença). O público recebeu todos com muito carinho, mas já se percebia de início um destaque para Santa Helena da Serra. Parece que foi ontem… Acho que nem nos demos conta que já se passaram 40 anos deste momento, do sucesso de Santa Helena e da grande 5^a Seara – recorda Terson Praxedes, diretor de palco na ocasião e que também participou da triagem em 1985.

“Na final, o Biriva se ‘possui’”

Segundo Praxedes, durante a reunião do júri para a seleção das 12 finalistas, Santa Helena não foi unânime, teve seis dos sete votos dos jurados. Diferente de Benquerença e Baile de Rengo, que tiveram os sete votos para se classificar. Na final, ocorre a sua consagração.

– Na final, o Biriva ‘se possui’, canta muito, se emociona, perde o fôlego e desmaia na saída do palco. Ele sai arrastado pelos outros músicos. O público vem abaixo. É uma cena espetacular. Emocionante. César Passarinho também canta divinamente, mas não com o apelo popular que Santa Helena teve. Os jurados foram unânimes em definir Santa Helena como campeã e quando o resultado foi anunciado o público veio abaixo – comenta Praxedes, que voltou a atuar como diretor de palco na Seara com a retomada do festival em 2022.

A força da repercussão de Santa Helena no público é confirmada pela seareira Terezinha Camargo, que viu a história acontecer e até hoje se emociona com as lembranças. “A energia que se instalou no Ginásio da Acapesu naquele dia foi indescritível. Rui Biriva se consagrou ao lado de Daniel Torres e de todos os músicos”, recorda.

Ovacionada antes mesmo do final

O aplauso é o sinal de reconhecimento e respeito do público por uma obra. Aplaudir de pé é quando ela cai no gosto popular. Santa Helena da Serra foi aplaudida de pé por uma Acapesu lotada enquanto ainda estava sendo tocada e cantada no palco pelos artistas, um dos grandes fatos na história da Seara.

– A emoção toma conta de mim cada vez que ouço Santa Helena da Serra. Foi inesquecível a reação do público, que ovacionou e vibrou em uníssono por Santa Helena. Nós, os organizadores do festival, nos sentimos no auge da alegria. Nosso esforço, e não foi pouco, estava sendo recompensado. Santa Helena da Serra é um marco na história da Seara da Canção Gaúcha – reforça Terezinha.

“Tu toca Santa Helena né?”

Se a história de Santa Helena da Serra já é cheia de emoção e lembranças, imagine então acabar no palco tocando essa música de forma totalmente inesperada. Foi o que aconteceu com Adilson Leonhardt Franck, sobrinho de Rui Biriva, mas com diferença de idade de apenas oito anos para o cantor. “Tínhamos uma proximidade muito grande, tanto que fui um dos primeiros a ouvir a Canção do Amigo”, revela Franck, referindo-se a outro grande sucesso de Rui, falecido em 2011.

Adilson ficou encarregado de trazer o contrabaixista Paulo Diniz Júnior de Santa Rosa para Carazinho para tocar na 11ª Seara, a “Seara das Searas”. Chegando em Carazinho, recebeu um pedido inesperado do tio:

– Adilson tu toca Santa Helena né? – questionou Rui.

– Eu toco – respondeu Adilson.

Rui disse: “Então, tu vai pro palco!”.

– O violonista não pode vir. Eu nem violão tinha trazido, aí arrumaram um violão pra mim. Subi ao palco e por uma felicidade enorme Santa Helena se torna a campeã das campeãs. Foi um momento muito bonito. Fiquei lisonjeado pelo convite do Rui. Foi muito especial poder participar da Seara mesmo que por acaso e estar no palco com a vencedora – recorda Franck.

Inscrições para a 24^a Seara encerram amanhã!

Se por um lado o passado fica em evidência com os 40 anos de Santa Helena da Serra em 2025, por outro lado, no presente, a Seara também ganha destaque nesta segunda quinzena de agosto. Isso porque o prazo para inscrição de músicas para a 24^a Seara da Canção Gaúcha e 11^a Searinha encerra neste sábado (23). As inscrições devem ser feitas por este link, onde também estão disponibilizados na íntegra os regulamentos da Seara e da Searinha.

Mais de 700 composições já foram inscritas. Classificam-se 38 músicas para o festival. Destas, serão 28 inéditas, com 20 composições da categoria Geral e 8 da categoria Local, que concorrem nas linhas Galponeira, Nativista e Contemporânea Gaúcha. Completam a lista as 10 concorrentes da Searinha, sendo 5 da categoria Piazito (até 12 anos) e outras cinco da categoria Piá (de 13 a 17 anos). Na Searinha, os jovens talentos interpretam músicas de edições anteriores da Seara.

Ainda em agosto, dos dias 25 a 28, ocorre a triagem para definir dentre todas as inscritas as 38 composições selecionadas para o festival. No dia 28/08, ocorre o lançamento da 24^a Seara, tendo como destaques o show com Luiz Marenco e o anúncio das músicas classificadas. Lembrando que a 24^a Seara da Canção Gaúcha acontece nos dias 24, 25 e 26 de outubro de 2025.