Estudo revela como secas e chuvas vêm afetando calendário escolar no Brasil
23 de julho de 2025

Mais de 15 milhões de estudantes brasileiros do Ensino Médio frequentam escolas com baixa ou mínima capacidade de enfrentar enchentes. Outros 8 milhões estão em unidades de ensino sem preparo algum para períodos de estiagem ou seca. O alerta foi feito por pesquisadores do INCT (Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia) durante a 77ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), realizada em julho, no Recife (PE).
Além de evidenciar a vulnerabilidade das instituições de ensino, o levantamento traz dados alarmantes: mais de 1 milhão de alunos perderam aulas em 2023 por causa de eventos climáticos extremos, como secas severas e inundações.
Enchentes e secas afetam rotina escolar
Os pesquisadores analisaram o ISH (Índice de Segurança Hídrica), ferramenta que utiliza mapas georreferenciados para medir o grau de exposição das escolas aos riscos ambientais. O índice revela que a infraestrutura escolar brasileira está longe de garantir segurança climática mínima para os estudantes.
Exemplo disso foi o impacto da seca de 2024, que afetou os rios Trombetas e Madeira, na Amazônia. O baixo nível das águas interrompeu a navegação e, com isso, centenas de jovens ficaram impedidos de ir à escola.
Evasão escolar: o risco invisível das mudanças climáticas
Diante desse cenário, especialistas chamam a atenção para o risco de aumento da evasão escolar em regiões vulneráveis. As interrupções constantes no calendário letivo, associadas à falta de recursos, tornam ainda mais difícil a permanência dos alunos na escola.
Segundo o MEC, inclusive, o Brasil não atingiu a meta de alfabetização infantil em 2024, e um dos principais motivos foram as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2023.
“Resiliência pedagógica” como resposta
Para minimizar os impactos das mudanças climáticas no ambiente escolar, pesquisadores sugerem ações de curto e médio prazo. Entre elas estão a arrecadação de fundos, doação de suprimentos e a priorização de materiais escolares nos meses mais secos, especialmente julho e novembro na região Norte.
Essas estratégias fazem parte do conceito de “resiliência pedagógica”, termo usado pelo professor Eduardo Mario Mediondo, da Escola de Engenharia de São Carlos da USP, um dos autores do estudo.
Desde 2012, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) também colabora com esse enfrentamento, monitorando os períodos de seca no Brasil com foco em áreas agrícolas, comunidades rurais e terras indígenas.