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Custo dos fertilizantes pressiona safra de verão no RS e expõe dependência externa do Brasil

Agronegócio

21 de julho de 2025

Custo dos fertilizantes pressiona safra de verão no RS e expõe dependência externa do Brasil
Foto: Divulgação

A instabilidade geopolítica global voltou a acender o alerta sobre a dependência do Brasil na importação de fertilizantes, principalmente para culturas como a soja. No Rio Grande do Sul, o cenário é ainda mais delicado: eventos climáticos extremos, dólar alto, dificuldade de acesso ao crédito e a disparada nos preços dos insumos devem resultar em lavouras com menos tecnologia na próxima safra de verão.

Segundo Mauro Osaki, pesquisador do Cepea/Esalq-USP, o país é fortemente dependente de países como Rússia, China, Arábia Saudita, Irã e Catar para obter os três principais macronutrientes agrícolas — nitrogênio, fósforo e potássio. “São as substâncias mais críticas. No caso do potássio, por exemplo, importamos cerca de 90% do cloreto usado como adubo, e isso nos deixa na mão de três países: Canadá, Rússia e Bielorrússia”, alertou.

Guerra e clima: combinação perigosa

Além da guerra entre Rússia e Ucrânia e das tensões no Oriente Médio, produtores brasileiros ainda lidam com fatores internos. No caso gaúcho, as seguidas perdas de safra reduziram o fluxo de caixa no campo, dificultando o planejamento para a próxima temporada.

“O produtor do Sul está em uma situação muito mais delicada. Sem financiamento e com dificuldades para renegociar dívidas, muitos ainda não compraram os fertilizantes para o plantio de outubro”, apontou Ireneu Orth, presidente da Aprosoja-RS. Ele prevê que muitas lavouras no Estado serão implantadas com insumos de menor qualidade — ou em menor quantidade.

Alta do dólar e baixa oferta elevam preços

Dados da consultoria StoneX apontam que os preços de fertilizantes dispararam nos últimos meses: o MAP (fosfato monoamônico) subiu 20%, a ureia 30% e o cloreto de potássio 21%, entre janeiro e julho. “Qualquer conflito global ou desdobramento diplomático impacta diretamente o Brasil. O produtor acaba pagando a conta dessa volatilidade”, afirmou o analista Tomás Pernías.

A reativação de fábricas nacionais pela Petrobras, como as unidades de fertilizantes na Bahia, Sergipe e Paraná, é vista como positiva, mas ainda insuficiente para mudar o quadro. “Não alcançaríamos a autossuficiência, mas reduziríamos a dependência internacional se políticas públicas tivessem priorizado esse tema nos últimos anos”, comentou Osaki.

Fertilizante chinês: quantidade, mas não qualidade

Outro alerta veio da Mosaic, uma das maiores produtoras globais de fosfatados. A empresa observa um crescimento das exportações de adubos com baixa solubilidade vindos da China, que prioriza hoje a produção de baterias para carros elétricos — utilizando parte do fósforo antes destinado à agricultura.

“O que parece barato na compra pode sair caro no campo. Produtos de baixa solubilidade não liberam nutrientes no ritmo ideal para as plantas, prejudicando o arranque da lavoura e a produtividade”, explicou Rogério Medeiros, gerente de Desenvolvimento de Mercado da Mosaic.

Pesquisas da Embrapa e universidades já documentam os prejuízos cumulativos desses adubos, que incluem plantas menos vigorosas, raízes pouco desenvolvidas e menor tolerância a estresses climáticos.

Números do setor mostram crescimento, mas com riscos

Mesmo com todas as incertezas, os números da Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos) mostram crescimento nas entregas e importações. No primeiro quadrimestre de 2025, o país recebeu mais de 11,2 milhões de toneladas de fertilizantes intermediários — 12,2% a mais que no mesmo período do ano passado. Mato Grosso lidera nas entregas, com mais de 2,9 milhões de toneladas.

Porém, especialistas alertam: o aumento na quantidade não garante qualidade, nem preços acessíveis. E a crise global de fertilizantes, associada às dificuldades climáticas e financeiras dos produtores, pode comprometer a safra 2025/2026, especialmente no Rio Grande do Sul.

“Estamos caminhando para uma safra com custos maiores, margens pressionadas e crédito mais caro. É um cenário realmente desafiador”, resumiu Pernías.