Área do trigo no Rio Grande do Sul pode cair 18%
26 de maio de 2025

Os revezes climáticos no Rio Grande do Sul, como a seca recente do último verão, não afetam apenas as culturas da estação em que acontecem. Multiplicam efeitos ao longo do ano e vão impactar sobre as culturas de inverno. O diretor e coordenador da Comissão do Trigo e Culturas de Inverno da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Hamilton Jardim, projeta uma redução de área em geral das culturas de inverno, salvo o plantio da canola, que deve se manter numa faixa de crescimento dentro do normal. No caso do trigo, o dirigente estima um recuo significativo.
“Tínhamos no ano passado uma área aproximada de 1,350 milhão e se neste ano chegar a 1,100 milhão será muito”, alertou Jardim.
Ele também aponta a descapitalização dos produtores rurais (em consequência das perdas na soja principalmente) como um dos fatores preponderantes para essa retração, junto com o endividamento do agricultor. “Não tivemos ainda notícias dos pleitos em termos de renegociação de dívidas”, desabafou.
Outros motivos relevantes, segundo Jardim, são a desvalorização nos preços da soja, a dificuldade de obter crédito para a semeadura, e a indisponibilidade de seguro agrícola. O dirigente aponta que a oleaginosa é o principal produto para o produtor rural fazer dinheiro e lembra que as cotações estão baixas. Afirma também que a obtenção de crédito está complicada em razão de que não há juros suportáveis pela atividade no Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).
Hamilton Jardim lamenta que a cultura do trigo, alimento do qual o Brasil ainda é muito dependente da importação, não tenha incentivos e uma política agrícola fomentada pelo governo.
“O trigo é a cultura que o produtor espera ter resultado de produtividade com qualidade, pois é uma renda para o final do ano”, justificou.
O dirigente destaca que mesmo se resoluções para o alongamento dos prazos de pagamentos das dívidas rurais (provenientes de secas sucessivas e da enchente de 2024) fossem anunciadas neste momento não seriam suficientes para reverter a tendência de redução das áreas de plantio das culturas de inverno. “Reverteria um percentual muito pequeno, pois o produtor tem que tomar sua decisão tempestivamente. A tempestividade é agora porque a janela de plantio já começou e muitos já desistiram totalmente da atividade”, finalizou, acrescentando que o preço do cereal no Mercosul também está muito baixo.
De acordo com os dados divulgados pela Emater/RS-Ascar, em dezembro do ano passado, em 2024 o Rio Grande do Sul produziu 3,75 milhões de toneladas de trigo, semeados em 1,322 milhão de hectares, com produtividade de 2,839 quilos por hectare.
Canola cresce, mas menos que a estimativa inicial
Mesmo com perspectiva de expansão de área, a canola também não vai escapar dos efeitos da estiagem do verão no Rio Grande do Sul.
“No início deste ano tínhamos uma expectativa um pouco maior em relação à semeadura. Mas tivemos uma frustração da safra de soja e o produtor ficou um pouco descapitalizado e com dificuldade de acesso ao crédito. Então a expectativa (de crescimento) reduziu”, afirmou o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Canola (Abrascanola), Vantuir Scarantti.
Baseado em informações dos agricultores, cooperativas e cerealistas, ele estima um avanço de 20% de área. “É um percentual normal. Mas esperávamos mais”, admite.
No ano passado os gaúchos foram responsáveis por 179 mil hectares do cultivo da oleaginosa, o que representou 96,11% da área plantada no país. “Vai ter um crescimento mas não na proporção que estimamos”, reforçou Vantuir. Ele destaca que, nesse momento, a semeadura está no auge, com 60% das áreas plantadas.
“Quem plantou está em um bom momento, com uma expectativa interessante em termos de produtividade versus o clima e de precificação para o produtor rural, pois a canola em si está com bons preços”, pontuou.
Mas o dirigente ressalta que há muito para acontecer até a conclusão da semeadura e o final da colheita “Temos uma janela de praticamente mais de 20 dias de negócios e semeadura dentro do Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc)”, sublinhou.
Fonte: Correio do Povo