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SUS deve adotar tratamento de queimaduras com técnica que ajudou vítimas da Boate Kiss

Saúde

18 de maio de 2025

SUS deve adotar tratamento de queimaduras com técnica que ajudou vítimas da Boate Kiss
O objetivo, segundo a proposta, é ter uma alternativa acessível e segura aos curativos convencionais.
Foto: Divulgação/SantaCasaPOA

A Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (Conitec), órgão do Ministério da Saúde, recomendou que o uso da membrana que envolve o feto para tratar queimaduras seja adotado pelo Sistema Único de Saúde (SUS) Embora recomendada só agora, a tecnologia foi utilizada sob caráter emergencial durante o acidente na Boate Kiss, em Santa Maria (RS), em 2013. À época, países onde a prática já era legalizada doaram membranas amnióticas à Santa Casa de Porto Alegre, que tratou os feridos.

A decisão da pasta deve ser publicada no Diário Oficial da União em 180 dias. Parte da placenta, a membrana amniótica será coletada em partos cesarianos com autorização da mãe. O objetivo, segundo a proposta, é ter uma alternativa acessível e segura aos curativos convencionais, além de reabastecer os bancos de tecidos de pele humana, que hoje suprem apenas 40% da demanda por pele no Brasil. De acordo com a Sociedade Brasileira de Queimaduras, 1 milhão de pessoas sofrem queimaduras a cada ano.

Diretor do Banco de Tecidos do hospital e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Eduardo Chem liderou a iniciativa durante o incidente. Ele afirma que a quantidade de doações superou a de vítimas e, portanto, os tecidos foram estocados pelo hospital.

Em casos de grandes queimaduras, explica o médico, o tecido morto precisa ser retirado. No entanto, se a ferida ficar aberta, a chance de contaminação é de 100%. Para cobrir esse ferimento, pode ser usada pele sintética – cujo valor é muito alto, segundo Chem – e pele humana advinda do banco de tecidos, que é escassa. Agora, chega a opção da membrana amniótica.

“Os quatro bancos de tecidos que existem no Brasil não suprem nem 40% da demanda por enxerto de pele. Com a membrana amniótica, que é descartada na hora do parto, será possível suprir essa carência”, explica o cirurgião.
Após coletada, a membrana passará por análise microbiológica, triagem e exames sorológicos. Os tecidos alterados serão descontaminados para que o uso seja seguro. Por isso, só serão captadas membranas de partos cesarianos, por meio dos quais o risco de contaminação é menor.

“Hoje, o processo de coleta de pele humana é muito complexo. Quando doada, a pele vem bastante contaminada – geralmente, tem resquícios de pólvora, de asfalto – e o custo para descontaminar esse tecido é muito alto. Já a membrana vem esterilizada dentro do ventre materno. Além disso, a mãe já passou por um pré-natal, o hospital tem dados como tipagem sanguínea e outras sorologias importantes, reduzindo o custo para que essa membrana seja utilizada”, diz.

Chem afirma, ainda, que o índice de doação de pele é baixíssimo: para cada seis doadores de rim, há um doador de pele.

“A gente ouve muito ‘não’. Abordar pessoas que acabaram de perder um familiar é difícil, ainda mais para pedir a doação de pele. É bem diferente de abordar uma mãe que acabou de dar à luz e pedir uma membrana que já seria descartada. Com certeza, teremos mais ‘sins’.”

Em países onde o uso da membrana amniótica é aprovado para tratar queimaduras, é regulamentado também o uso para outros tipos de procedimento:

* Em cirurgias oftalmológicas para tratar lesões oculares.
* Em cirurgias realizadas em pacientes diabéticos, cuja cicatrização é prejudicada.
* No tratamento de endometriose.
* Em cirurgias vasculares.

Chem afirma que, no Brasil, a aprovação para uso em procedimentos similares deve acontecer em breve. Atualmente, a utilização é analisada caso a caso via consultas públicas.

Fonte: O Sul