Um dia sem eletricidade: assim foram as horas de escuridão na Europa
29 de abril de 2025

Luis Ibañez Jimenez estava em uma rodovia no leste de Madri quando a Espanha ficou sem eletricidade.
“De repente, não havia semáforos”, disse à CNN o residente da capital. Os carros se amontoavam e ninguém tinha preferência de passagem. “Eu estava parando para que as pessoas pudessem passar […]. Vi um ônibus enorme chegando e tive que acelerar muito para ultrapassá-lo”, disse ele. “Era uma espécie de selva”.
Jimenez tinha acabado de testemunhar como o fornecimento de energia em seu país foi interrompido em questão de segundos. Apagou-se a luz em cidades, vilas, aeroportos e estações de trem; as telas de computador e os terminais de pagamento foram desligados em um instante. Confusão e preocupação se espalharam por Espanha e Portugal. E para os funcionários de ambos os países, uma corrida contra o pôr do sol começou.
Era uma batalha que as nações vizinhas perderiam. Algumas horas se passariam até que o fornecimento de energia fosse definitivamente restabelecido; ao anoitecer, as famílias se reuniram à luz de velas e trocaram anedotas de uma segunda-feira memorável.
“Definitivamente foi um dos dias mais estranhos da minha vida”, disse Jimenez, de 29 anos, diretor de operações de uma empresa de treinamento profissional.
O apagão foi desconcertante e, um dia depois, ainda não se sabe a causa. Em apenas cinco segundos, 15 gigawatts de energia foram repentinamente interrompidos do fornecimento de eletricidade espanhol, segundo informaram à CNN fontes do governo espanhol -o equivalente a 60% da eletricidade consumida naquele momento, e, como resultado, toda a rede elétrica espanhola entrou em colapso.
O fornecimento de energia foi praticamente restabelecido nesta terça-feira (29) de manhã, mas a confusão ainda se espalha pela Espanha. “A investigação das causas continua”, declarou uma fonte do governo. “Todas as hipóteses permanecem abertas e mais detalhes serão conhecidos nas próximas horas”.
Caos, confusão e pagamentos em dinheiro
Alanna Gladstone, editora de cinema de 40 anos, tinha pousado em Lisboa, a capital de Portugal, num voo proveniente de Nova York horas antes do apagão. Ela se registrou no seu Airbnb e tirou uma soneca; quando acordou, a tecnologia que o país dá por certa tinha desligado.
“Eu não sabia o que estava acontecendo”, disse a nova-iorquina. saiu para buscar suprimentos, com dois euros e US$ 10.
“Houve um caos e uma energia frenética”, disse Gladstone à CNN. Os supermercados estavam fechados, então as filas iam pela rua em direção aos mercados de frutas, onde compradores receberam a informação de que não poderiam pagar com cartão”.
Passou um tempo antes que os espanhóis e portugueses entendessem a magnitude do que estava acontecendo. “As pessoas perguntavam: ‘Isso é um ataque russo? É um ato de terrorismo?’”, disse Gladstone.
Ellie Kenny, uma turista no aeroporto Humberto Delgado de Lisboa, disse que centenas de pessoas estavam fazendo fila no escuro, sem ar condicionado ou água corrente. As lojas só aceitavam dinheiro, disse à CNN.
Horas depois, com o corte de luz ainda em vigor e a jornada de trabalho perto do fim, as pessoas se adaptavam a uma nova e estranha realidade. A polícia controlava o tráfego com sinais manuais. As principais cidades estavam congestionadas e as calçadas estavam cheias de pessoas tentando encontrar o caminho para casa.
Jimenez dirigiu para casa com cuidado. “As pessoas foram surpreendentemente gentis e bem coordenadas”, disse. “Mas toda a cidade estava bloqueada por volta das 16h”. A viagem, que normalmente dura 30 minutos, durou duas horas.
Gladstone tinha outro problema: voltou para o apartamento com a compra, mas os teclados eletrônicos que permitiam o acesso ao prédio e ao apartamento não funcionavam. Depois de bater na entrada principal sem sucesso, um vizinho encontrou uma maneira de entrar em seu próprio apartamento e a recebeu.
Os bombeiros de Madri realizaram centenas de “intervenções em elevadores” por toda a cidade na segunda-feira (28), disse seu Escritório de Informações de Emergência; membros da Guarda Civil da Espanha levaram uma idosa em cadeira de rodas para o apartamento dela no sexto andar, informou a agência.
Ao anoitecer, com o sol se pondo e ainda sem eletricidade na maior parte da Espanha e Portugal, a desinformação se espalhou pela internet e entre as pessoas. “Os rumores dispararam”, ele disse à CNN. Circulava a falsa teoria de que toda a Europa tinha ficado sem eletricidade, e com o acesso intermitente ao telefone e à internet, era impossível para muitos verificarem se era verdade.
O presidente do governo espanhol, Pedro Sánchez, pediu aos cidadãos que usem os telefones de forma “responsável”, que façam chamadas apenas quando necessário e que sejam breves para aliviar a carga sobre o sistema.
Ao anoitecer, a alternativa era recorrer aos amigos. “As pessoas aproveitaram para ‘enrolar’ […] Havia gente bebendo cerveja por toda parte”, fazendo rodadas de bebidas até que a bateria das máquinas de pagamento com cartão se esgotou, disse Jiménez. “Todos os terraços estavam cheios”.
Em Lisboa, as luzes acenderam por volta das 22:30, hora local. A essa altura, os vizinhos de Gladstone já tinham feito amigos. “Passamos a noite falando sobre a vida e como tudo é estranho”, disse ela. “Eles prepararam comida com uma lanterna Mag-Lite e bebemos vinho”.
“A bondade dos estranhos nunca deixa de surpreender”.
Fonte: CNN