Fórum Florestal debate formas de tornar mais rentável a produção de erva-mate
14 de março de 2025

A erva-mate gaúcha foi o centro dos debates do 17º Fórum Florestal, realizado na manhã desta quinta-feira (13), no Auditório Central da 25ª Expodireto Cotrijal. No evento, foram discutidas formas de valorizar o produto, geração de créditos de carbono e ainda foi lançado um concurso que premiará a maior árvore de erva-mate do Rio Grande do Sul.
O fórum teve início com a formação da mesa de autoridades, composta pelo vice-presidente da Cotrijal, Enio Schroeder; secretário estadual de Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação, Clair Kuhn; secretário estadual de Desenvolvimento Rural, Vilson Covatti; presidente da Emater/RS, Luciano Schwerz; o engenheiro agrônomo, Emiliano Santarosa, representando a Embrapa Florestas; presidente do Sindimate/RS, Álvaro Pompermayer; coordenador administrativo do Ibramate, Ismael Rosset; e pela coordenadora do Polo Ervateiro do Nordeste Gaúcho, Selia Felizari.
Enio Schroeder, em sua fala, destacou a importância do evento e a necessidade da preservação ambiental. “O Fórum Florestal tem uma grande importância porque ele mexe com tudo aquilo que nós gostamos e necessitamos. Nós precisamos tanto que as florestas e a natureza sejam preservadas, e o fórum tem esse propósito, com pessoas que trabalham muitas vezes no anonimato, mas que fazem uma diferença enorme”, disse o vice-presidente da Cotrijal.
Erva-mate Região de Machadinho
Selia Felizari, que também é presidente da Associação dos Produtores de Erva-mate de Machadinho (Apromate), anunciou no evento a concessão de Registro pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) da Indicação Geográfica “Erva-mate Região de Machadinho”.
“Esse registro foi feito em 4 de fevereiro. Trata-se da valorização da erva-mate e o reconhecimento da própria colonização daquela região, uma vez que os descendentes de imigrantes italianos chegaram até aquele local em busca do “ouro-verde”, que era a erva-mate que existia na mata-nativa junto aos pinhais”, disse Selia.
Os testes foram validados em 2014, o que proporcionou o registro no Ministério da Agricultura e Pecuária da primeira cultivar de erva-mate do Rio Grande do Sul, a Cambona 4. Segundo Selia, um dos pilares do projeto que envolve a planta é a questão ambiental.
“Não colocamos erva-mate na mata, trazemos outras espécies de plantas nativas para dentro do erval. Por exemplo, na área que se plantava soja é feito um erval com outras espécies nativas. E a produtividade é ótima porque essa terra já está pronta e é de fácil manejo e colheita. Comparada à soja, a erva-mate é mais rentável se bem manejada”, relata Selia.
Hoje, a Apromate possui 591 produtores associados e, com o novo registro no INPI, é esperado que a Erva-mate Região de Machadinho valorize o produto, amplie o turismo na região e abra novos mercados. Atualmente, os principais importadores são Uruguai, Síria, Estados Unidos e países da Europa.
Créditos de carbono
O engenheiro agrônomo, Gabriel Dedini, coordenador dos Programas de Erva-mate e Café da Fundação Solidaridad, de São Paulo, ministrou uma palestra com o tema “Geração de créditos de Carbono pela erva-mate: proposta de projeto para o Rio Grande do Sul”, cuja estrutura de trabalho é vinculada com cerca de 120 famílias do Sul do Estado.
“Essa proposta vem sendo construída ao longo dos últimos cinco anos, quando a gente começou a trabalhar aqui no Sul do Brasil com a cultura ervateira, desenvolvendo toda uma perspectiva de arranjos, vinculados ao modelo de agricultura de baixo carbono, orientado por uma agricultura mais inclusiva via assistência técnica responsável e dentro de uma perspectiva de continuidade ao longo dos anos”, disse Dedini.
O objetivo do projeto era estabelecer indicadores, parâmetros e objetivos relacionados a uma estrutura onde a geração de renda e altas taxas de produtividade pudessem ser conectadas a uma estrutura de sequestro, remoção e estoque de carbono. Ou seja, essas áreas atuam como drenos de gases causadores do efeito estufa.
Dentro dessa prerrogativa, foi construída uma articulação setorial e trabalhado com stakeholders tanto brasileiros quanto do exterior. A meta era promover a erva-mate dentro de mercado para gerar pagamentos por serviços ambientais, aliado a uma agenda positiva climática.
“Hoje, temos uma sinalização de investimento na casa de milhões de euros para estruturarmos um trabalho de nível territorial em três pólos ervateiros do Estado. Porém, isso não pode e não deve ser desenvolvido única e exclusivamente pela Solidaridad”, explica Dedini.
Conforme o engenheiro agrônomo, o projeto envolve muitas mãos, está integrado dentro de uma agenda do Programa ABC (visa reduzir a emissão de carbono na agropecuária até 2030), liderado pela Secretaria de Agricultura, ao mesmo tempo em que contribui para o fortalecimento do setor ervateiro.
A maior Ilex paraguariensis gaúcha
O professor da Universidade de Passo Fundo (UPF), Jaime Martinez, graduado em Ciências Biológicas e Agronomia – e doutor em Ecologia – lançou no fórum o “Concurso Árvores Gigantes do Rio Grande do Sul – 2025: o ano da erva-mate”. O objetivo é encontrar a maior árvore de Ilex paraguariensis (nome científico da erva-mate) dentro do território gaúcho.
“O concurso busca despertar nos proprietários rurais o interesse sobre os ambientes florestais e as espécies florestais que estão dentro da sua propriedade. Então, através de uma competição fraterna, vamos buscar identificar aquilo que a gente chama de árvores gigantes, que são aquelas árvores que conseguiram viver por muito tempo e, por consequência, possuem uma carga genética resistente ao clima, doenças e pragas”, afirma Martinez.
Essas plantas estão muito bem adaptadas ao solo e seriam, naturalmente, candidatas a fornecerem sementes para o futuro, para a produção de mudas de qualidade de espécies arbóreas. Para o concurso, será usado o critério de circunferência, uma vez que é mais fácil para o produtor realizar o cálculo.
“Normalmente, as pessoas conhecem erva-mate plantada para fins de colheita, mas poucos conhecem erva-mate nativa, que está há centenas de anos dentro dos nossos remanescentes florestais”, explica o professor.
A coordenação geral do concurso ficará sob a responsabilidade do Laboratório de Manejo da Vida Silvestre (LAMVis) da UPF, com apoio operacional da Emater/RS. O concurso conta com a participação dos cinco polos ervateiros do Estado, Ibramate, Sindimate, Secretaria Estadual da Agricultura, Projeto Charão/AMA, Associações de Produtores de Erva-mate, Cotrijal, Coprel e ICMBio-Floresta Nacional de Passo Fundo.
“Esta é uma forma de nós resgatarmos a importância de uma planta natural, nativa do Sul do Brasil e que tem um potencial fantástico. Gostaríamos que não só os gaúchos tomassem chimarrão, mas que esse hábito percorresse o mundo afora para fortalecer também a atividade produtiva da erva-mate do Rio Grande do Sul”, disse Martinez.
As inscrições para o concurso poderão ser feitas nos escritórios da Emater/RS. A divulgação da árvore gigante será no dia 21 de setembro de 2025, quando se comemora o Dia da Árvore.
O 17º Fórum Florestal foi promovido por Emater/RS, Cotrijal, Programa Gaúcho para a Qualidade e Valorização da Erva-Mate, Governo do Estado do Rio Grande do Sul, Embrapa Florestas, Sindimate/RS, Sindimadeira/RS, Ageflor, Ibramate e Apromate.