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Presidente da Cotrijal é o primeiro convidade do CeresCast

Ceres Agronews

12 de março de 2025

Presidente da Cotrijal é o primeiro convidade do CeresCast

O presidente da Cotrijal Nei Manica foi o primeiro convidado do CeresCast, o podcast do Grupo Ceres de Comunicação, lançado nesta semana como forma de homenagear os 25 anos de história da feira. Na página 38, tem uma matéria com mais detalhes sobre o CeresCast e sobre as demais ações do Grupo Ceres na Expodireto.

Use o QR Code aqui desta página para assistir a entrevista completa com Manica. Claro que a conversa foi sobre os 25 anos da feira e o significado disso na vida do presidente da Cotrijal. Confira:

CeresCast: Ao pensar no contexto da primeira edição, qual é a primeira lembrança que o senhor tem?

Manica: Lá em 1999 se faziam vários dias de campo e tínhamos a ideia de fazer uma exposição, usando o espaço onde hoje é o estacionamento. Nesse mesmo período, fomos visitar um evento de agronegócio e ouvimos muitas críticas sobre o seu funcionamento. Foi aí que pensamos em fazer algo diferente, uma exposição com foco mais definido em inovação, tecnologia e oportunidades de negócio. Definido isso, aquele local já não era mais apropriado. Então fomos pro local atual. De outubro de 1999 até março de 2000 fizemos os preparativos. Desenhamos o parque, fomos gramar, drenar, iluminar, dividir setores, de máquinas e sementes, por exemplo. Tínhamos pouco tempo. Me lembro que plantávamos grama sábado de noite, domingo, sem energia, canalizando. Recebemos algumas críticas de quem queria a presença de outros setores, mas decidimos focar só em tecnologia e inovação para o agronegócio. O evento não permitia bebida alcoólica, vender rifa, distribuir papeis de propaganda nem ter parque de diversões. Ao redor do parque houve venda de lanches e bebidas através da tela, situações como folders dizendo máquinas durante o dia e máquinas à noite, entenderam o que quero dizer (risos)? Tínhamos uma segurança velada contratada pela Cotrijal que flagrava essas questões e eles faziam um relatório ao final para nós. Aí fomos melhorando. Você ganha o jogo na arrancada. O piloto de Fórmula 1 que larga em primeiro lugar dificilmente perde, quem larga atrás dificilmente ganha. Iniciando com qualidade e diferencial, vai ser a imagem que fica. Por isso não quisemos ir melhorando ano a ano e sim na primeira edição já dar esse choque. Fizemos a primeira feira e realmente foi um sucesso. 

CeresCast: A organização que se vê hoje, por segmentos, então vem desde o início?

Manica: No primeiro ano já fizemos e depois aperfeiçoamos. Quem vem interessado em um produto, sabe que encontra todas as opções em determinada região do parque. Importante também foi pensar o que fazer para evitar as questões que comentei antes. Existe uma questão cultural e se não tiver um regulamento rígido realmente não se consegue fazer. Aí foi feito um decreto para não ter vendedor ambulante do lado de fora. Também tínhamos um pessoal com cabo de vassoura com prego na ponta que recolhia papeis no chão e entregava para quem espalhava dizendo “o senhor deixou cair”. Isso constrangia e deu certo, ninguém mais espalhou. Virou uma questão cultural. A feira começou estadual, aí então no segundo e terceiro anos virou feira nacional. E no ano seguinte o então ministro da Agricultura Pratini de Moraes sugeriu: “Manica, essa feira tem que ser do Mercosul”, já vinham visitantes de outros países. E na sequência se tornou feira internacional. 

CeresCast: Houve dificuldade em impor as regras?

Manica: Quando se implanta um plano com rigidez, muitos tentam dar o seu jeitinho. Precisamos dar o exemplo. Para haver participação internacional, precisamos viajar muito a outros países levando a imagem da Expodireto. Tem um episódio curioso. Estávamos no Japão visitando um grupo de empresários acompanhados por um intérprete. Aí um japonês perguntou se tinha aeroporto em Não-Me-Toque. Aí eu pensei: ‘se eu disser que não, eles não vêm’. Mas também não podia mentir. Aí eu falei: “tem aeroporto, só que ele fica a 60 quilômetros do centro de Não-Me-Toque” (risos). Aí o japonês falou: “em Tóquio aeroporto também fica longe, nós vamos para a Expodireto”. Não menti, estava me referindo ao aeroporto de Passo Fundo. Eles percorrem essa distância e não houve problema. Isso foi um fato curioso nessa caminhada e hoje são mais de 70 países nos visitando. Quero citar também o Troféu Semente de Ouro e a Calçada da Fama do Agronegócio, homenagens para quem fez algo pela Expodireto, pelo agro e pela nossa região. Às vezes tem gente que quer “se escalar” para ganhar uma homenagem. Avaliamos com critério, não por amizade. 

CeresCast: Como o senhor lida com esse assédio de quem se escala para ganhar prêmio ou quer dar um jeitinho nas questões do parque? 

Manica: Primeiro, com relação a premiações é normal muitas pessoas acharem que podem ganhar. Eu digo “temos uma comissão, talvez ali na frente você ganhe”, com habilidade e gentileza você diz um não. E deixa na expectativa, se merecer, um dia vai ganhar. Há uma pressãozinha sim, mas isso é normal. Sobre o parque, aí a pressão às vezes é muito grande de algumas empresas que usam políticos, empresários para tentar algo. São 132 hectares, você administra, mas não levando para o pessoal. Algumas não entram por não terem o foco do agronegócio. Tem empresas na lista de espera que não entram porque não tem vaga. 

CeresCast: Muitas pessoas duvidaram que a ideia da feira daria certo?

Manica: No início tinham dúvidas. Nos diziam: “Isso é uma loucura! Vai dar prejuízo”. Depois da primeira e segunda edições não houve mais isso. Na caminhada criamos uma comissão que organiza, bem segmentada por setores e essa equipe faz acontecer. A limpeza tem que ser de primeira linha, tanto que algumas pessoas dizem: “estamos chegando na Disney do Agronegócio”. Uma vez aconteceu um episódio interessante. Fui ao banheiro e tinham dois homens conversando, acredito que eram paulistas pelo sotaque. Sem me conhecer, um disse pro outro: “num fim de mundo desses acontece uma feira desse tamanho. Não dá pra acreditar”. Eles sem saber quem eu era e eu feliz da vida por eles estarem elogiando a Expodireto. A feira é um divisor de águas. Várias mãos construíram toda essa história. Ficamos felizes por esse aniversário de 25 anos, mostrando para o mundo que o produtor e o cooperativismo têm competência para fazer uma feira dessa magnitude.

CeresCast: Quando o senhor viu que a feira seria grande? Que a “loucura” deu certo?

Manica: De uns anos para cá que entendemos a grandeza da Expodireto. Pessoas de outros estados nos perguntavam sobre a feira e diziam que sabiam dela por causa dos veículos de comunicação.  Acontecem fatos como você estar em uma sala de espera em Porto Alegre, falar que é Não-Me-Toque e as pessoas responderem “ah lá da Expodireto”. Então, onde você vai, 90% das pessoas sabem que existe a Expodireto. É impressionante. 

CeresCast: Pode-se dizer que o crescimento da feira passou por quebrar várias resistências?

Manica: Com certeza. Se fôssemos ouvir todos os “nãos”, a Expodireto não seria o que é hoje. Vou te dar outro exemplo: quando começamos a trazer políticos na abertura também fomos contestados. Diziam: “ih, vai virar palanque político”. A Expodireto não é palanque e os políticos sabem. E aí começamos a fazer reivindicações em prol do agronegócio. Pelo contexto climático vivido nos últimos anos, na sexta-feira teremos uma audiência púbica que vai reunir um grande público sobre securitização. O produtor precisa equalizar suas dívidas. 

CeresCast: A feira teve grandes discussões nesses 25 anos. Dos debates que ocorreram, esse da securitização neste ano vai ser mais importante que os transgênicos?

Manica: Os dois são grandes debates. Transgênicos são uma tecnologia que mudou a produção e dentro de uma provação científica. Foi uma grande luta. A securitização tem importância igual ou até maior pelo momento que o Rio Grande do Sul vive. Não é perdão de dívida, é recurso para alongar essa dívida com taxas compatíveis com a capacidade de pagamento do produtor. A audiência de sexta é uma das mais importantes que já se realizou. O governo precisa auxiliar nesses momentos. Até porque se o governo alcançar recurso, na produção o produtor devolve muito mais em renda para o governo do que o subsídio que ele daria no juro. Acredito que da Expodireto poderá sair esse ajuste final. Vai ser um marco importante para a história do Rio Grande do Sul. 

CeresCast: A feira atravessou a pandemia, não ocorrendo em 2021. Que sentimento ficou nessa ocasião ao chegar o mês de março e não ter a Expodireto?

Manica: Fizemos a feira em março de 2020 e dois dias depois estourou a pandemia no Brasil. Não fizemos no ano seguinte e deu um sentimento de vazio, mas necessário, porque era impossível fazer a feira. Era uma questão de saúde, então não nos desanimou. Depois voltamos com toda a força em 2022. 

CeresCast: O senhor já usou termos como “menina dos olhos”, “A Expodireto é como um filho” ao se referir à feira. Que espaço a Expodireto ocupa no seu coração?

Manica: É uma pergunta interessante. Aprendi que na vida você tem que sonhar, e sonhar pequeno ou sonhar grande é a mesma coisa. Então aquilo foi na verdade um sonho de fazer uma exposição diferente. Por isso digo “menina dos olhos” porque consegui ter a ideia, os colegas nos ajudaram, muitos têm mérito nisso, eu levei esse desafio adiante e hoje você vê o sucesso das empresas, das pessoas. Você vê a felicidade do expositor, do visitante, da família, do jovem, todo mundo vem com alegria. Isso nos enche de orgulho, realmente criamos algo em benefício da sociedade. Todos vamos chegar ao final de nossa caminhada um dia e quando eu chegar quero olhar e pensar: “eu contribuí para muita coisa, sociedade, família”. Vou enxergar e ficar feliz. 

CeresCast: É o seu maior orgulho?

Manica: O maior orgulho é a família, mas profissionalmente, sim. Comecei na cooperativa como contínuo, depois fui crescendo, assumi algumas áreas, virei presidente, que foi um grande desafio. A Expodireto é conhecida no mundo todo e para mim é muito gratificante.

CeresCast: Como está o projeto de ampliação do parque, que inclui a mudança de local da ERS 142?

Manica: A grande questão é onde colocar os expositores que estão na lista de espera. Então, surgiu a ideia de mudar o traçado da rodovia e começamos a ver como fazer. Apresentamos o projeto para o governador na feira do ano passado e levamos quase um ano para fazer a parte burocrática na questão das áreas. Houve a municipalização de dois quilômetros em frente ao parque e cedemos em outro local essa mesma área para fazer uma nova rodovia. O parque da Expodireto é comprido, então expandir no comprimento ficaria ruim para o visitante. Por isso a ideia de expandir para a frente, tornar a área do parque digamos assim mais “quadrada”. Quando terminar a Expodireto deste ano, vamos focar na obra. É um trabalho grande, com terraplanagem, canalização, instalação de energia, calçamento, colocar gramar, vai ser bastante arrojado. Queremos chegar em 2026 com ela ampliada. Para o futuro será bacana. 

CeresCast: O senhor possui algum arrependimento ao longo desses 25 anos?

Manica: Não. Talvez pudesse ter feito alguma coisa a mais, mas arrependimento não tenho nenhum. Tudo o que a gente fez, faria tudo de novo. Se não tivéssemos a coragem de fazer, a Expodireto não seria o que é hoje.

CeresCast: Qual é o futuro da Expodireto?

Manica: A Expodireto vai cada vez mais se consolidar. Vejo num futuro não muito distante que o parque pode ser utilizado para fazermos outros grandes eventos durante o ano, como feiras de outros segmentos da economia. No futuro, a ideia é também construir um grande centro de convenções, centralizar outros grandes eventos do estado em Não-Me-Toque. É um segundo sonho. A Expodireto é construção conjunta, muitas mãos nos ajudaram. O sentimento é felicidade e gratidão.