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Polícia divulga trechos de escritos deixados por mulher que envenenou família com bolo

Estado

22 de fevereiro de 2025

Polícia divulga trechos de escritos deixados por mulher que envenenou família com bolo
Bolo com arsênio matou três pessoas da mesma família no litoral gaúcho.
Foto: Sofia Villela/IGP

A Polícia Civil do Rio Grande do Sul divulgou três trechos de escritos deixados por Daise Moura dos Anjos antes dela morrer na prisão. Ao concluir a investigação, a polícia decidiu divulgar tais trechos que corroboram para a conclusão de que Daise foi a responsável pela morte de quatro pessoas envenenadas com arsênio.

Nos trechos, Daise parece reforçar que sua desavença maior era com a sogra, Zeli dos Anjos. “Muito obrigado por esses 20 anos que fez da minha vida de casado um inferno”, escreveu a mulher.

“Mais uma vez eu sou a vilã e você é a mocinha”, continuou. “Conseguiu ficar com tudo que é meu, minha família, minha casa”, disse Daise em outro trecho.

A nora também afirmou que tinha afeição ao sogro e a outras pessoas da família, mas uma desavença de 20 anos atrás teria feito com que a relação desandasse.

O objetivo de Daise era matar sua sogra, Zeli dos Anjos. Ela colocou arsênio na farinha da casa de Zeli, e sua sogra usou o ingrediente, sem saber que estava envenenado, para fazer um bolo. Nisso, “como efeito colateral”, Daise acabou envenenando e causando a morte de três das pessoas que acabaram consumindo o alimento: as irmãs Neuza Denize Silva dos Anjos e Maida Berenice Flores da Silva, assim como a filha de Neuza, Tatiana Denize Silva dos Anjos.

Isso aconteceu em dezembro passado em Torres, no litoral do Rio Grande do Sul. Já a quarta vítima foi seu sogro, Augusto dos Anjos, que morreu três meses antes do caso do bolo envenenado. Ele ingeriu leite em pó contaminado pela nora, e isso foi constatado apenas com o desenrolar do caso.

A sogra sobreviveu e recebeu alta do hospital em que ficou internada em janeiro deste ano. Além dela, uma criança de 10 anos também sobreviveu após comer o bolo.

“Ela é única autora [dos crimes]. Até o momento, não surgiu nenhum outro autor desse fato criminoso. E, por isso, em razão do seu falecimento, o fato dela ter tirado a própria vida no presídio de Guaíba, levou a extinção da punibilidade”, apontou o delegado Fernando Sodré, chefe de polícia, na coletiva dessa sexta.

O caso misterioso demandou grande empenho de inteligência e investigação policial e levou à prisão da mulher que, posteriormente, a polícia classificou como serial killer.

Equipes multidisciplinares das forças de segurança do Rio Grande do Sul atuaram de forma integrada. Foram realizadas necropsias, análises químicas e toxicológicas, para esclarecer o caso e encontrar provas científicas para a investigação.

O Instituto-Geral de Perícias do Rio Grande do Sul (IGP-RS) analisou materiais biológicos das vítimas. Entre as cerca de 90 amostras analisadas foram verificados conteúdo estomacal, sangue e urina. Os níveis de arsênio no sangue ficaram de 20 a 60 vezes acima da concentração da faixa considerada tóxica em seres humanos, afastando a hipótese de intoxicação alimentar, contaminação ocupacional, acidental ou natural.

Com análises técnicas, a perícia confirmou que a farinha utilizada no preparo do bolo apresentava uma concentração de 65 gramas de arsênio por quilograma, cerca de 2,7 mil vezes maior do que a encontrada no próprio alimento.

A forma mais comum do arsênio é uma substância branca sem gosto nem cheiro. Deste modo, a acusada do crime misturou o item na farinha, o que passou despercebido por quem manuseou o ingrediente. Para identificar a substância na cozinha da família, o Instituto-Geral de Perícias utilizou um aparelho chamado XRF, que tem como princípio a fluorescência de raio x e detecta metais como o arsênio.

Fonte: O Sul