Mais uma vez, o auditório do Centro de Operações de Passo Fundo ficou lotado. Cerca de 700 colaboradores pararam o trabalho para receber mais uma palestra educativa. O Juiz de Direito Dr. Luciano Bertolazi Gauer e a Promotora de Justiça da 3° Vara Criminal de Passo Fundo/RS Dra. Clarissa Ammélia Simões Machado abordaram os vários tipos de violência, especialmente contra crianças e adolescentes.
“Nós, mulheres, sempre fomos tratadas como objeto e não como sujeitos de direito. Não vamos esquecer que houve até ‘cinto de castidade’ na história da humanidade e que até há pouco tempo a mulher não podia votar. É como se saíssemos agora numa corrida onde estamos no ponto de largada, mas os homens estão quilômetros à frente. As leis já existiam até para proteger animais, mas não havia para proteger uma criança. Agora, evoluímos para proteger todos que se encontrarem em situação vulnerável”, afirma a Promotora de Justiça.
A Dra. Clarissa Simões Machado falou sobre o histórico de violência encontrado em muitas famílias e ressaltou o quanto nenhum tipo de violência pode ser considerado normal. Quem passou por esses abusos no ambiente familiar pode crescer pensando que a violência é normal, mas não é. A Promotora contou que os principais casos de violência sexual são feitas por pai, padrasto, tio e avô. E não se pode considerar apenas o termo “abuso sexual”, mas também a “ofensa sexual”. “Quando digo ofensa sexual é porque a criança começa a receber aproximação, com ‘carinhos’, por pessoas que são muito sedutoras e não aparentam maldade, psicopatas mesmo, e a criança, ingênua, não sabe ainda do que se trata exatamente, não sabe o crime que está ocorrendo. É preciso denunciar para o caso não ficar ainda pior”, explica a doutora. “Desde uma ’passada de mão’, a lei garante penas entre 8 e 15 anos em regime fechado, e há casos bem mais pesados”, reforça o juiz.
As vítimas, normalmente, só entendem a ofensa sexual, quando percebem que havia conotação sexual, por volta de 12, 13 anos de idade, e é quando demonstra mais sinais. Além de se mostrar travada, muitos até se cortam, dando sinais de que passaram por abusos. Nós, como sociedade, precisamos observar o que ocorre ao nosso redor para proteger nossas crianças e denunciar.
“A verdade liberta, a mentira escraviza”
A Lei Maria da Penha protege nos casos de Violência contra a Mulher e a Lei Henry Borel protege a criança e o adolescente da Violência Doméstica e Familiar. O Estatuto da Criança e do Adolescente surgiu como a maior rede de proteção legal que existe. Tudo criado para proteger.
“É um dever para nós, como empresários, fazer parte dessa mudança de consciência, levando informação para as pessoas. A empresa também deve ser educadora, isso também é humanização, interromper ciclos de todos os tipos de violência nas famílias”, aponta o Presidente das Farmácias São João, Pedro Brair.
A violência não pode ser normalizada
“Há muita conscientização a ser feita para evoluirmos. As prisões necessárias precisam ser feitas a todos que põem a sociedade em risco, mas precisamos também mudar toda uma consciência. Não é possível aceitar como normal nenhum tipo de violência. Não se bate em criança, não se aceita nenhuma violência como normal”, reforça o Juiz Luciano Bertolazi Gauer.
Quando se fala de proteção, é inclusive das ‘palmadas’ – porque a violência não pode ser normalizada. Qualquer criança que cresce acreditando que isso é normal será afetada na vida adulta e costuma passar novamente por novos abusos ou repetir os mesmos erros que cometeram com ela. É necessário quebrar esses “ciclos” de violência pedindo ajuda.
Por isso, é importante inclusive alimentar a espiritualidade na sociedade, seja qual for. “É normal ter raiva, até ter vontade de bater em alguém. Mas não fizemos isso. Não batemos. Por que achar que é normal fazer isso com uma criança? Por que ela não pode revidar? Isso é terrível. Hoje temos essa consciência dos erros que eram cometidos no passado”, comenta a Promotora.
Como agir em caso de suspeita de algum tipo de violência
- Não duvidar.
- Fazer boletim de ocorrência.
- Não ficar perguntando mais nada. Muitas pessoas acham que sabem resolver, mas não sabem. É importante deixar um profissional conduzir a situação para não fazer a criança até ampliar as memórias negativas.
“A nossa memória tende a preencher informações. Não fiquem perguntando, nem para a criança, nem para adolescentes. Perguntas erradas podem até fazer a memória criar novos problemas. Quanto mais se pergunta, mais dano se faz. Deixa a vítima ser ouvida por profissional competente, a psicóloga do Tribunal. A proposta é oferecer através do acolhimento psicológico e a correta conduta, um ambiente seguro para a criança de um jeito que a justiça seja feita sem ampliar memórias que já são tão ruins”, reforça o Juiz.
Farmácia São João é amiga da criança
- Ensine seus filhos que “o corpo deles é deles”. Ensine que ninguém toca no corpo de criança, só se necessário para higiene quando for muito pequena ou se o médico precisar avaliar;
- Ensine também que não é para tomar banho com adulto nem dormir junto. Ensine essa independência para seu filho, da importância de aprender a dormir sozinho;
- Cuidado em deixar o filho com qualquer pessoa, na casa de alguém que você não conhece, pois não se sabe quem estará próximo. E se a criança não gosta de ir em um lugar, respeite. Pode ser sinal de que houve algum tipo de abuso;
- O amor é o que todas as crianças precisam receber.
“Uma coisa é a criança te ouvir e obedecer porque ela te admira e ama e quer ser como você quando crescer. Outra, é a criança obedecer porque tem medo. Isso pode virar algo muito ruim”, reforça a Dra. Clarissa.
Onde denunciar
- Disque 100: Violação de direitos humanos – A denúncia é anônima e pode ser feita por qualquer pessoa.
- Disque 180: Violação contra mulheres e meninas.
- Disque 190: Polícia Militar – quando a criança está correndo risco imediato
Esta foi mais uma palestra de conscientização promovida pela Rede de Farmácias São João para os seus colaboradores. Constantemente, as equipes recebem palestras e treinamentos com temas como saúde, como cuidar do seu corpo e da sua mente, espiritualidade, liderança, relacionamentos interpessoais, entre outros. Todas as manhãs, é feita a leitura do devocional “Café com Deus Pai” na rádio interna da empresa, a qual ouvem cerca de 3 mil colaboradores dos CDs de Passo Fundo e Gravataí. Cada dia, um colaborador lê a mensagem. A proposta é que, ao receber todas essas informações, os colaboradores multipliquem entre seus conhecidos e amigos e tragam um impacto positivo na comunidade.
Fonte: Ascom São João