Nesta terça-feira (2), é celebrado o Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo. A data foi criada em 2007 pela ONU (Organização das Nações Unidas) para difundir informações sobre o TEA (Transtorno do Espectro Autista), promovendo a educação sobre a condição e reduzindo o preconceito acerca de quem tem o diagnóstico.
O TEA é um transtorno do neurodesenvolvimento humano e é caracterizado por dificuldades na comunicação e interação social. Essas dificuldades podem ocorrer em diferentes níveis, podendo comprometer a linguagem, o comportamento social e a capacidade de se expressar. Além disso, é frequente que as pessoas com autismo tenham uma gama restrita de interesses e realizem atividades repetidamente.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), uma em cada 100 crianças é diagnosticada com o TEA. Em geral, a condição costuma ser diagnosticada ainda na primeira infância. Por isso, é importante que os pais estejam atentos aos principais sinais de alerta.
De acordo com especialistas, os sinais de autismo podem variar de uma criança para outra. Além disso, podem ser observados em diferentes faixas etárias.
“Tem pessoas que só é possível perceber o TEA de forma mais evidente entre os 6 e os 8 anos, quando eles começam com fixações em alguns assuntos, como um interesse específico em aviões ou ao metrô, por exemplo”, explica Erasmo Casella, neurologista da infância e adolescência e membro da SBNI (Sociedade Brasileira de Neurologia Infantil).
Por outro lado, há casos em que os sinais podem ser percebidos logo nos primeiros meses de vida. “Tem crianças que não olham direto nos olhos da mãe enquanto estão amamentando. Isso é um sinal sugestivo de autismo, mas não quer dizer, obrigatoriamente, que a criança tem o transtorno. Mas é preciso ficar de olho”, alerta o especialista.
Casella explica, ainda, que é possível notar os sinais de alerta no primeiro ano de idade. “Nessa faixa, ela já está batendo palma, dando tchau, apontando com o dedo aquilo que a interessa. Em crianças com TEA, há um atraso de modo significativo nesse desenvolvimento. Há casos que a criança está com um ano e três meses e ainda não tem esse comportamento”, explica. “Mas o sinal mais importante é o contato ocular, que pode não durar mais de três segundos”, completa.
Principais sinais de alerta do autismo
De acordo com o manual DSM, um dos mais utilizados para o diagnóstico de transtornos psiquiátricos, o diagnóstico de autismo é feito a partir da existência de dificuldades na linguagem e comunicação social e padrões restritos ou repetitivos de comportamento. É o que explica Victoria Albertazzi, especialista clínica na Genial Care, rede de cuidados especializada em crianças com TEA e suas famílias.
“O manual esclarece que os sinais podem não ser totalmente expressos até que as demandas excedam as capacidades do indivíduo naquela determinada área ou, ainda, que o indivíduo aprenda estratégias que promovam um comportamento mais próximo do considerado típico”, explica.
Entre os principais sinais de alerta do autismo, estão:
- Dificuldade na linguagem e interação social: dificuldade em manter e estabelecer contato visual, atraso na comunicação verbal e não verbal, dificuldade de engajamento em atividades em conjunto e em estabelecer trocas sociais;
- Padrões restritos e repetitivos de comportamento: demonstração de interesses fixos e rígidos, em que a criança quer sempre falar sobre o mesmo tema ou brincar com os mesmos brinquedos, tendo pouca flexibilidade e interesse em outros temas e atividades;
- Dificuldade com mudanças na rotina e um forte apego a rituais.
Além disso, é comum que pessoas com TEA tenham sensibilidade alterada a estímulos sensoriais, como luzes, sons, texturas e cheiros. “É possível ver isso através de comportamentos que ocorrem para diminuir ou alterar o contato com os estímulos, como colocar a mão sobre os ouvidos, apertar os olhos, evitar entrar em contato com alguns estímulos táteis ou olhar para objetos de forma peculiar, como colocá-los ao lado dos olhos ou olhar para eles contra a luz”, esclarece Albertazzi.
No entanto, é importante ressaltar que esses sinais podem ser manifestados em graus diferentes, já que existem diferentes níveis de autismo. Ou seja, em alguns casos, os sintomas podem ser leves, dificultando o diagnóstico na infância — o que leva a muitas pessoas a receberem o diagnóstico já na vida adulta. Em outros cenários, os sintomas são intensos e demonstram um grau grave de comprometimento na linguagem, comunicação e interação social.
Por isso, é importante consultar um profissional especializado caso haja suspeita de TEA. “Geralmente, um profissional especializado consegue, até por volta de um ano e meio, perceber sinais que sugerem TEA e, mesmo que não se feche o diagnóstico, essas crianças devem ser encaminhadas para um tratamento terapêutico”, afirma Casella.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do TEA é feito através da avaliação e investigação feita por um médico especializado, com suporte de uma equipe multidisciplinar. “Ela envolve tanto a observação do comportamento da criança, como a entrevista com os pais e alguns questionários específicos. Também podem ser feitos exames para descartar outros diagnósticos, como a perda auditiva”, afirma Albertazzi.
Para confirmar o diagnóstico, também pode ser usado o manual DSM, que lista as principais alterações no desenvolvimento da linguagem, comunicação e comportamento da criança.
Opções de tratamento para o autismo
O TEA não tem cura, mas o tratamento serve para que a pessoa com autismo possa viver sua vida de maneira plena, efetiva e com maior bem-estar. Para isso, existem diferentes tipos de terapias. A mais utilizada e reconhecida cientificamente é a ABA (Análise do Comportamento Aplicada), cujo foco é o ensino de habilidades importantes de comunicação, imaginação e autorregulação emocional.
O tratamento medicamentoso pode ser usado, eventualmente, quando a criança apresenta muita irritabilidade ou quando há TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade) associado ao autismo. Também é uma opção quando o paciente apresenta ansiedade ou problemas para dormir, conforme explica Casella.
“O mais importante de tudo é o esforço para que tudo seja feito para uma melhora na evolução. Mas as terapias devem ser baseadas em evidências científicas”, reforça o neurologista.
“É muito importante que a terapia seja orientada aos valores da criança e da família, focando na aquisição de habilidades importantes e na criação de um ambiente enriquecido e acolhedor, capaz de auxiliar a pessoa com TEA em seu processo de desenvolvimento”, complementa Albertazzi.
Fonte: CNN