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Envolvimento crescente da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia eleva risco de conflito global

Relatos da presença de tropas norte-coreanas ainda não foram confirmados pela imprensa ocidental

por Daiane Giesen
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Depois do compromisso de defesa mútua firmado em junho por Vladimir Putin e Kim Jong-un em Pyongyang, crescem os sinais de presença de tropas norte-coreanas na Rússia para apoiar a campanha contra a Ucrânia.

É mais um passo no encadeamento de alianças envolvendo o Leste Asiático, o Indo-Pacífico, a Europa, Oriente Médio e até a América Latina, que eleva o risco de um conflito mundial.

Fontes militares no Extremo Leste da Rússia disseram à BBC que um regimento aerotransportado russo está treinando uma unidade de soldados norte-coreanos. Integrantes da inteligência militar ucraniana acrescentaram a vários veículos ocidentais que a unidade, chamada “Batalhão Buryat”, seria composta por 3 mil norte-coreanos.

No início do mês, o ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Yong-hyun, considerou “altamente prováveis” informações segundo as quais seis oficiais norte-coreanos teriam sido mortos em um ataque de mísseis ucranianos perto da cidade de Donetsk, no Leste da Ucrânia, ocupada pela Rússia. A Coreia do Sul monitora de perto os movimentos dos militares de seu inimigo do Norte.

Estima-se que o regime de Kim Jong-un fornece metade da munição de artilharia usada pela Rússia na campanha contra a Ucrânia, apoiada maciçamente nesse vetor.

Em seu vídeo diário no domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou: “Vemos uma crescente aliança entre a Rússia e regimes como a Coreia do Norte. Já não é mais só a transferência de armas, mas também de pessoas da Coreia do Norte para as forças militares de ocupação”.

Na quarta-feira, ao apresentar no Parlamento um novo plano para tentar derrotar a Rússia, Zelensky reiterou a acusação.

O nome “Batalhão Buryat” é uma referência a uma região russa que faz fronteira com a Mongólia, habitada pela etnia de mesmo nome, que tem feições orientais semelhantes aos coreanos. Buryat é uma das regiões periféricas onde o recrutamento de soldados tem sido maciço. Três mil soldados podem formar vários batalhões.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descartou a presença de militares norte-coreanos como invenções dos serviços de inteligência americano e britânico. A imprensa ocidental ainda não encontrou evidências da presença dos norte-coreanos.

De acordo com uma análise do Instituto de Estudo da Guerra, com sede em Washington, a invasão de território russo por tropas ucranianas em agosto pode ter arrastado os norte-coreanos para a guerra.

O acordo entre Coreia do Norte e Rússia prevê apoio militar mútuo se um dos países for atacado. A incursão ucraniana na região de Kursk ofereceria a justificativa para o envolvimento das tropas norte-coreanas. O acordo deve ser ratificado no Parlamento russo nos próximos dias.

No aniversário de Putin, no dia 7, Kim enviou uma mensagem declarando o presidente russo seu “mais próximo camarada”.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, afirmou que, se confirmada, a presença das tropas norte-coreanas “marcaria um incremento significativo” na relação entre os dois países, e “um novo nível de desespero da Rússia”.

Putin evita o recrutamento em massa de soldados nas grandes cidades russas, por temor da repercussão política negativa do alto número de mortos e feridos. Por isso o recrutamento tem focado na periferia da Rússia.

Calcula-se que a Rússia esteja perdendo mais de mil soldados russos com sua tática de avanços maciços da infantaria, que leva o apelido macabro de “moedor de carne”. O Exército norte-coreano tem cerca de 1 milhão de soldados, uma reserva considerável para suprir as perdas russas.

Cadeia de alianças

O envolvimento norte-coreano na guerra da Ucrânia reforça a aproximação de Japão e Coreia do Sul, inimigos da Coreia do Norte, à Otan, dedicada à defesa da Europa contra a ameaça russa. Por outro lado, enrijece o alinhamento entre Rússia e China, que também é adversária de Japão e Coreia do Sul.

Os Estados Unidos têm o compromisso de defender Japão, Coreia do Sul e Taiwan de eventuais ataques chineses.

A China é percebida ainda como ameaça por um grande número de países do Indo-Pacífico, como Austrália, Nova Zelândia, Filipinas e Vietnã, além da própria Índia. Os Estados Unidos têm firmado acordos de defesa e de inteligência com esses países. O Japão tem feito o mesmo.

O Irã, aliado da China e da Rússia, está cada vez mais próximo de um confronto direto com Israel, principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio. A Rússia depende dos drones e foguetes iranianos tanto quanto da munição de artilharia norte-coreana.

O Irã, a China e a Rússia têm ajudado a Venezuela a driblar as sanções americanas. Uma invasão da Guiana pela Venezuela se torna uma hipótese cada vez mais plausível. O presidente Nicolás Maduro saiu mais fragilizado da evidente fraude eleitoral de junho.

Na segunda-feira, ele promoveu mudanças em todo o alto comando das Forças Armadas e, na quarta, anunciou mais investimentos no arsenal venezuelano, modernizado com armamento russo na época de Hugo Chávez e da bonança do petróleo.

Durante a contestada eleição, três navios de guerra russa aportaram na costa venezuelana para demonstrar apoio ao regime.

Maduro parece tentado a seguir o roteiro de Putin para se perpetuar no poder: a criação da ameaça imaginária de um vizinho menor, democrático, próspero, alinhado com o Ocidente e inferior militarmente, para se projetar como o único protetor possível da nação, e justificar a repressão brutal à oposição.

 

Fonte: CNN

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