Início » Envolvimento crescente da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia eleva risco de conflito global

Envolvimento crescente da Coreia do Norte na guerra da Ucrânia eleva risco de conflito global

Relatos da presença de tropas norte-coreanas ainda não foram confirmados pela imprensa ocidental

por Daiane Giesen
34 visualizações

Depois do compromisso de defesa mútua firmado em junho por Vladimir Putin e Kim Jong-un em Pyongyang, crescem os sinais de presença de tropas norte-coreanas na Rússia para apoiar a campanha contra a Ucrânia.

É mais um passo no encadeamento de alianças envolvendo o Leste Asiático, o Indo-Pacífico, a Europa, Oriente Médio e até a América Latina, que eleva o risco de um conflito mundial.

Fontes militares no Extremo Leste da Rússia disseram à BBC que um regimento aerotransportado russo está treinando uma unidade de soldados norte-coreanos. Integrantes da inteligência militar ucraniana acrescentaram a vários veículos ocidentais que a unidade, chamada “Batalhão Buryat”, seria composta por 3 mil norte-coreanos.

No início do mês, o ministro da Defesa da Coreia do Sul, Kim Yong-hyun, considerou “altamente prováveis” informações segundo as quais seis oficiais norte-coreanos teriam sido mortos em um ataque de mísseis ucranianos perto da cidade de Donetsk, no Leste da Ucrânia, ocupada pela Rússia. A Coreia do Sul monitora de perto os movimentos dos militares de seu inimigo do Norte.

Estima-se que o regime de Kim Jong-un fornece metade da munição de artilharia usada pela Rússia na campanha contra a Ucrânia, apoiada maciçamente nesse vetor.

Em seu vídeo diário no domingo, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, declarou: “Vemos uma crescente aliança entre a Rússia e regimes como a Coreia do Norte. Já não é mais só a transferência de armas, mas também de pessoas da Coreia do Norte para as forças militares de ocupação”.

Na quarta-feira, ao apresentar no Parlamento um novo plano para tentar derrotar a Rússia, Zelensky reiterou a acusação.

O nome “Batalhão Buryat” é uma referência a uma região russa que faz fronteira com a Mongólia, habitada pela etnia de mesmo nome, que tem feições orientais semelhantes aos coreanos. Buryat é uma das regiões periféricas onde o recrutamento de soldados tem sido maciço. Três mil soldados podem formar vários batalhões.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, descartou a presença de militares norte-coreanos como invenções dos serviços de inteligência americano e britânico. A imprensa ocidental ainda não encontrou evidências da presença dos norte-coreanos.

De acordo com uma análise do Instituto de Estudo da Guerra, com sede em Washington, a invasão de território russo por tropas ucranianas em agosto pode ter arrastado os norte-coreanos para a guerra.

O acordo entre Coreia do Norte e Rússia prevê apoio militar mútuo se um dos países for atacado. A incursão ucraniana na região de Kursk ofereceria a justificativa para o envolvimento das tropas norte-coreanas. O acordo deve ser ratificado no Parlamento russo nos próximos dias.

No aniversário de Putin, no dia 7, Kim enviou uma mensagem declarando o presidente russo seu “mais próximo camarada”.

O porta-voz do Departamento de Estado americano, Matthew Miller, afirmou que, se confirmada, a presença das tropas norte-coreanas “marcaria um incremento significativo” na relação entre os dois países, e “um novo nível de desespero da Rússia”.

Putin evita o recrutamento em massa de soldados nas grandes cidades russas, por temor da repercussão política negativa do alto número de mortos e feridos. Por isso o recrutamento tem focado na periferia da Rússia.

Calcula-se que a Rússia esteja perdendo mais de mil soldados russos com sua tática de avanços maciços da infantaria, que leva o apelido macabro de “moedor de carne”. O Exército norte-coreano tem cerca de 1 milhão de soldados, uma reserva considerável para suprir as perdas russas.

Cadeia de alianças

O envolvimento norte-coreano na guerra da Ucrânia reforça a aproximação de Japão e Coreia do Sul, inimigos da Coreia do Norte, à Otan, dedicada à defesa da Europa contra a ameaça russa. Por outro lado, enrijece o alinhamento entre Rússia e China, que também é adversária de Japão e Coreia do Sul.

Os Estados Unidos têm o compromisso de defender Japão, Coreia do Sul e Taiwan de eventuais ataques chineses.

A China é percebida ainda como ameaça por um grande número de países do Indo-Pacífico, como Austrália, Nova Zelândia, Filipinas e Vietnã, além da própria Índia. Os Estados Unidos têm firmado acordos de defesa e de inteligência com esses países. O Japão tem feito o mesmo.

O Irã, aliado da China e da Rússia, está cada vez mais próximo de um confronto direto com Israel, principal aliado dos Estados Unidos no Oriente Médio. A Rússia depende dos drones e foguetes iranianos tanto quanto da munição de artilharia norte-coreana.

O Irã, a China e a Rússia têm ajudado a Venezuela a driblar as sanções americanas. Uma invasão da Guiana pela Venezuela se torna uma hipótese cada vez mais plausível. O presidente Nicolás Maduro saiu mais fragilizado da evidente fraude eleitoral de junho.

Na segunda-feira, ele promoveu mudanças em todo o alto comando das Forças Armadas e, na quarta, anunciou mais investimentos no arsenal venezuelano, modernizado com armamento russo na época de Hugo Chávez e da bonança do petróleo.

Durante a contestada eleição, três navios de guerra russa aportaram na costa venezuelana para demonstrar apoio ao regime.

Maduro parece tentado a seguir o roteiro de Putin para se perpetuar no poder: a criação da ameaça imaginária de um vizinho menor, democrático, próspero, alinhado com o Ocidente e inferior militarmente, para se projetar como o único protetor possível da nação, e justificar a repressão brutal à oposição.

 

Fonte: CNN

Publicações Relacionadas

Receba nosso Informativo

Informação de Contato
© 2023 - Grupo Ceres de Comunicação - Todos os direitos reservados. | Política de Privacidade