Há 150 anos um grupo de aproximadamente 400 italianos embarcou em uma jornada rumo ao desconhecido, deixando para trás sua terra natal em busca de novas oportunidades no Brasil. A bordo do veleiro de três mastros La Sofia, partiram do porto de Gênova, enfrentando uma viagem de cerca de um mês e meio em condições precárias, agarrando-se à esperança de um futuro melhor do outro lado do oceano.
Essa jornada marca o início de uma das maiores e mais significativas migrações para o Brasil, que ao longo dos anos moldaria não apenas a paisagem cultural do país, mas também suas tradições e identidade. Os meses seguintes após a chegada se mostraram desafiadores, com o clima tropical e promessas não cumpridas pelo governo italiano, mas a maioria optou por permanecer em solo brasileiro.
Lair Zanatta, integrante da Associação Cultural Ítalo-Brasileira Michelangelo de Não-Me-Toque, compartilhou detalhes dessa história em uma entrevista ao Grupo Ceres de Comunicação. Ele destacou a necessidade de mão de obra agrícola no Brasil após o fim da escravatura, bem como as dificuldades enfrentadas na Itália, que motivaram os italianos a deixarem sua terra natal em busca de uma vida melhor.
Os italianos não apenas contribuíram para o desenvolvimento econômico do Brasil, especialmente na indústria cafeeira em São Paulo e na colonização agrícola no sul do país, mas também deixaram um legado cultural profundo. Em Não-Me-Toque e região, a presença italiana é forte, refletindo-se em tradições, culinária e até mesmo na língua.
Zanatta destacou a importância de preservar essa herança cultural, enfatizando os esforços da comunidade para manter viva a língua talian, uma mistura dos diversos dialetos italianos trazidos pelos imigrantes. O talian foi recentemente reconhecido como língua oficial no Brasil, um marco significativo na valorização da cultura italiana no país.
Com relação à lingua, Zanatta destaca o reconhecimento da lingua Talian, como a segunda lingua aqui no país. O Talian é uma das autodenominações para a língua de imigração falada no Brasil na região de ocupação italiana direta e seus desdobramentos desde 1875, onde os mais diversos dialetos deram origem à uma única lingua. Sua origem linguística é o italiano e os dialetos falados, principalmente, na regiões do Vêneto, Trentino-Alto e Friuli-Venezia Giulia e Piemontes, Emilia-Romagna e Ligúria.
Segundo dados do último recenseamento, o Talian é falado por aproximadamente meio milhão de pessoas, também proficientes na língua portuguesa.
À medida que o Brasil comemora 150 anos de imigração italiana, é uma oportunidade não apenas de celebrar as conquistas e contribuições desses pioneiros, mas também de refletir sobre a importância da diversidade cultural e do respeito às nossas origens. A história dos italianos no Brasil é uma história de resiliência, perseverança e sucesso, que merece ser honrada e preservada para as futuras gerações.
Ouça a entrevista na íntegra: