Agricultores de Não-Me-Toque que possuem propriedades no Distrito de Pinheiro Marcado, em Carazinho, têm enfrentado há mais de uma década problemas ambientais atribuídos ao funcionamento de uma empresa local. Segundo relatos, a empresa descarta dejetos e restos de animais provenientes de frigoríficos e outros resíduos, incluindo leite, de maneira irregular, resultando em graves impactos ambientais e à saúde dos moradores.
Entre as consequências apontadas estão a proliferação de moscas em larga escala, mau cheiro em um raio de até 10 quilômetros e contaminação de cursos d’água próximos. Os agricultores relatam que, apesar de diversas denúncias feitas à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (FEPAM) e ao setor ambiental da Prefeitura de Carazinho, as ações adotadas até o momento não solucionaram o problema de forma satisfatória.
Luiz Carlos Whithauper, um dos proprietários afetados, questionou a legalidade da operação da empresa, destacando práticas como a pulverização aérea de produtos químicos, que seriam proibidos para uso agrícola por pequenos produtores. Ele também alertou para o descarte inadequado de resíduos sem o tempo de tratamento exigido por lei.
“O que acontece lá, é que a empresa não comporta o volume diário de resíduos enviados. Caminhões passam o dia inteiro transportando materiais que acabam espalhados sem o devido processamento. Isso perpetua o problema das moscas e gera contaminação ambiental”, afirmou Luiz.
Henrique Van Riel, morador mais próximo da área de operação da empresa, reforçou as dificuldades enfrentadas pela comunidade local. Ele relatou que, em 2016, houve uma mobilização que resultou no fechamento temporário da empresa, mas as atividades foram retomadas após a obtenção de nova licença. Desde então, a situação permanece crítica.
“Já tivemos surtos de moscas que impossibilitam até mesmo uma refeição em casa. O problema afeta não só as pessoas, mas também os animais, que sofrem com picadas constantes. Isso gera estresse, dificuldade de manejo e, em alguns casos, pode ser caracterizado como maus-tratos”, disse Henrique.
Os agricultores esperam uma resposta mais efetiva das autoridades ambientais. Embora reconheçam que há diálogo com a FEPAM e o setor ambiental municipal, eles destacam a necessidade de ações concretas para resolver os problemas que impactam a qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental na região.
Posição da Prefeitura de Carazinho
Audrin Kaiser, representante do setor de Meio Ambiente da Prefeitura de Carazinho, esclareceu que, embora a fiscalização seja responsabilidade da Fepam, a Prefeitura também acompanha a situação. “Recebemos denúncias e realizamos uma vistoria recente no local. O laudo técnico foi enviado à Fepam para colaborar no processo”, afirmou. Segundo ele, a empresa está em processo de adequação conforme orientações anteriores do órgão estadual, mas a Prefeitura não tem poder para autuar diretamente, devido à natureza estadual do licenciamento ambiental.
Kaiser informou que a Fepam já aplicou multas e notificações contra a empresa nos últimos dois anos. Ele também destacou que a empresa opera no local há pelo menos uma década e já enfrentou interrupções nas atividades em 2016, após mobilização de moradores.
A situação permanece em monitoramento. Até o momento não tivemos retorno da Fepam com relação às medidas que foram tomadas.
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