Aumentar o volume de leite produzido por hectare durante o ano e reduzir custos é a principal forma de garantir rentabilidade na atividade leiteira. A missão está clara, mas para atingi-la vários fatores precisam ser observados. Uma das ações que vem auxiliando os produtores é o programa de qualidade do leite.
Em Rio Bonito, interior de Coqueiros do Sul, a família Winter comemora os resultados alcançados em um ano. “Antes, descartávamos leite. Agora, estamos transformando leite em dinheiro”, avalia Leonardo, que, junto com os pais Márcio e Adriana e a irmã Ellen, conduz a atividade.
Nos últimos doze meses, eles viram a contagem de células somáticas reduzir de 1 milhão para 204 mil e por consequência aumentar o percentual de vacas sadias de 50% para 75%. Em outubro do ano passado, a contagem de células somáticas média do tanque chegou a 1,8 milhão. “Teve um mês em que estávamos com oito vacas em tratamento contra a mastite e tivemos que descartar o leite por 14 dias”, conta o produtor.
“Melhorou tudo”, completa Ellen, que, dentre outras tarefas, é responsável pelas coletas do controle leiteiro mensal. “Antes até separávamos os animais com mastite em um lote, mas não conseguíamos identificar os que tinham a mastite subclínica, gastávamos muito com medicação e às vezes o tratamento não era o mais adequado”, revela a jovem.
O programa auxiliou na identificação do problema e na tomada de decisão. O resultado foi a redução da frequência de mastite. “Em alguns meses nem tivemos animais para tratar”, contam Márcio e Adriana.
A analista de qualidade do leite Victória Baldin Silvestri, que atende a propriedade, explica que através do programa, quando os produtores adotam as melhores práticas e trabalham em parceria com a equipe da cooperativa, os resultados são animadores. “Não é que não teremos vacas com mastite clínica ou subclínica, mas conseguimos ser mais assertivos nos tratamentos e nas decisões de manejo”, aponta.
CONFIRA A ENTREVISTA COM OS PRODUTORES E A EQUIPE DE ANALISTAS DE QUALIDADE DO LEITE
Melhor custo-benefício
A família Winter comemora a redução de custos e o crescimento da produção controlando os números “na ponta do lápis”. Em média, para um tratamento de cinco dias para mastite, considerando a produção diária de 27 litros de uma vaca, eles calculam que gastariam aproximadamente R$ 1.300,00, já descontado o volume de leite que deixa de ser vendido.
“O investimento feito nas análises do controle leiteiro é muito menor e traz uma série de benefícios”, avalia Leonardo.
Ação conjunta
O programa já havia sido desenvolvido na cooperativa anteriormente, mas desde 2021 ganhou reforço, com equipe específica dedicada às atividades, além de novas tecnologias e parcerias.
Atualmente são três analistas de qualidade do leite na área: Thaís Endrigo, Victória Baldin Silvestri e Taiani Ourique Gayer.
Thaís explica que o sucesso depende muito da parceria do produtor, já que a condução de todos os processos dentro da propriedade é ele quem faz. Ela ressalta que graças à compreensão dessa necessidade pelos produtores os resultados alcançados são animadores.
“É um trabalho de longo prazo e permanente e muito importante especialmente nas propriedades que realmente querem manter a atividade como um negócio rentável”, destaca.
A retomada do programa, em maio de 2021, começou com cinco produtores. Agora, já são 50 propriedades na região de atuação da Cotrijal, totalizando 2,4 mil vacas monitoradas por mês e 2,2 milhões de litros de leite em análise de controle leiteiro.
Thaís ressalta que a cooperativa buscou a parceria de laboratório que garante agilidade nos resultados e também análises complementares. Além disso, a equipe tem a missão de capacitar e treinar os produtores para executarem seus processos na ordenha com o máximo de qualidade. E ocorre uma grande integração com os médicos veterinários que atendem as propriedades na parte de nutrição e reprodução.
LEITE TEM QUE SER DE QUALIDADE
Um dos produtores que foi pioneiro nesse novo momento do programa é Nédio Genário. Ele trabalha com 95 vacas em lactação, em sistema de compost barn, em Linha Schleder, interior de Vila Lângaro, e tem consciência da importância da qualidade do leite para o consumidor final.
“O leite é um produto nobre. Precisamos ter a certeza de que o produto que entregamos é de qualidade. E o programa nos ajuda nessa missão, porque melhora a saúde da vaca”, explica.
Genário começou a trabalhar com a Cotrijal há quatro anos. Hoje, além do programa de qualidade do leite, recebe o atendimento do médico veterinário Nathan Batistelli da Rosa, que organiza toda a parte de nutrição da propriedade. O produtor ainda participa do programa de gestão de custos oferecido pela cooperativa.
“A redução da contagem de células somáticas é um processo lento, que exige atenção permanente, tanto de quem trabalha na propriedade quanto do técnico que nos atende. Os números que o controle leiteiro nos proporciona facilitam muito esse planejamento de longo prazo”, finaliza Genário.
Facilita o planejamento
Nathan destaca que o controle leiteiro é essencial no fornecimento de dados voltados a nutrição, pois possibilita acessar os índices de gordura, proteína e nitrogênio ureico individual de cada vaca em lactação. “Com estes dados temos a capacidade de montar uma dieta com equilíbrio nutricional, para gerar altas produtividades”, avalia, relatando que a produtividade da propriedade de Genário está em 38 litros/vaca/dia.
Além disso, o programa facilita avaliações conjuntas com dados reprodutivos, como os dias em lactação, para montar gráficos de dispersão e verificar o período pós-parto ou mesmo o pico de lactação e a curva da propriedade. “Os dados gerados possibilitam ajudar o produtor a interpretar e fazer um planejamento visando melhores resultados”, finaliza Nathan.
Ações que impactam toda propriedade
O gerente de Produção Animal da Cotrijal, Alan Issa Rahman, reforça que o trabalho de qualidade de leite afeta vários setores de uma propriedade leiteira. “Ao longo do tempo, e com muito trabalho, reduzimos os animais com mastite e consequentemente o uso de medicamentos e descarte de leite. Além de maior volume de leite para comercializar, temos dados para trabalhar com mais precisão a parte nutricional e também melhorar a reprodução dos animais da propriedade”, explica.
As vacas com contagem de células somáticas alta e/ou mastite têm índices de concepção piores que vacas sadias. “Dessa forma é visível que o trabalho de qualidade de leite é de fundamental importância em uma propriedade leiteira, pois pode impactar positivamente ou negativamente várias áreas”, conclui.
Fonte: Cotrijal