No dia seguinte à votação do primeiro turno, o dólar registrou a maior queda diária (-4,09%), desde junho de 2018 e deu uma breve amostra daquilo com que os investidores estavam acostumados a conviver nos meses que antecedem a abertura das urnas: o aumento das oscilações na cotação da moeda norte-americana, pressionada pelas movimentações de campanha. No entanto, o episódio é, até agora, o único ao longo do embate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL), e foi incapaz de alterar a trajetória de apreciação do real no acumulado do ano, bem como a tendência de estabilidade ao longo do período eleitoral.
Sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho explica que, sempre que a Presidência está em disputa, as incertezas pairam no ar em decorrência das distintas propostas e perfis de um ou outro candidato. Na Bolsa de Valores, que busca alinhamento permanente com políticas mais liberais, esse tipo de ambiente costuma remunerar melhor aqueles investimentos mais expostos à dinâmica de riscos da corrida eleitoral. É o que se denomina de prêmio pelo risco.
No histórico das eleições brasileiras, entretanto, o câmbio tende a protagonizar esse processo, guiado por volatilidade (sobe e desce de precificações) e especulação na antessala da escolha do novo chefe do Poder Executivo. Em 2022, ainda que o pleito seja marcado pela polarização, os efeitos foram pouco sentidos, constatam os analistas consultados por GZH.
Na contramão das expectativas, o real exibe valorização de 6,37% sobre a moeda norte-americana no acumulado do ano, até o fechamento do mercado na terça-feira (11). De setembro até aqui, indiferente ao acirramento dos debates, a situação beira a estabilidade, com a leve alta do dólar (+1,37%), cotado a R$ 5,27 na véspera do feriado.
— No mercado, a gente está sempre em busca de novidade e volatilidade, todo mundo quer saber onde se posicionar. Já acompanhei movimentações pré-eleitorais em que os mercados estiveram sensíveis. Desta vez, após a redemocratização, seguramente é a menor volatilidade da história em períodos eleitorais. Isso demonstra que os investidores não estão tão preocupados com quem irá ganhar as eleições — resume o CEO da Top Gain, Alison Correia, analista que atua desde 2005 na Bolsa.
Histórico eleitoral
Para se ter uma ideia, em idêntico período de 2002, em meio à disputa que levaria Lula ao Palácio do Planalto pela primeira vez, o dólar sairia do patamar de R$ 3,03, no início de setembro, para R$ 3,92 em 11 de outubro daquele ano – elevação de 29,55%. Naquele ano, a apreciação da moeda norte-americana frente ao real acumulava 69,09%.
Fonte: Rafael Vigna/GZH
Edição: Grupo Ceres de Comunicação