Quando em 25 de fevereiro deste ano o Governador Eduardo Leite anunciava que o modelo de cogestão, disposto aos municípios e às regiões Covid pelo Estado, estava suspenso e os protocolos da bandeira preta, de risco altíssimo, deveriam ser cumpridos sem abrandamento nas restrições, o receio dos prejuízos voltou à pauta das conversas em todos os setores da economia gaúcha.
O comércio e os prestadores de serviço, diretamente são os mais afetados, pois a abertura das portas para o varejo e o atendimento presencial de quem precisa receber ou visitar seus clientes fica restrito à tele-entrega ou ao pegue e leve. O ensino também se ressente das proibições, com prejuízos incalculáveis no aprendizado para todos os níveis educacionais.
A indústria, o setor primário e os transportes têm autorização para operarem, com restrições, claro, e com protocolos muito rígidos para o controle de aglomerações, com o objetivo principal de evitar a disseminação viral.
Esse encarceramento funcional da atividade econômica, segundo o Governador, é necessário para que os índices de infecção pelo novo coronavírus – que nesta semana alcançaram números alarmantes – sejam reduzidos.
Em meio a toda essa tensão, a avalanche de informações, na grande maioria tomadas da áurea negativista de veículos de comunicação preocupados em propor um sensacionalismo descabido para esse momento e que são aditivados pelo avassalador poder propagador das redes sociais, acaba por levar a sociedade por caminhos ainda mais sinistros, derradeiro.
O fim dessa primeira semana de bandeira preta nos protocolos do distanciamento controlado (já que nesta sexta-feira, 5, foi ratificada a condição para prosseguir até o próximo dia 21) uma notícia publicada em um veículo impresso de Não-Me-Toque despertou uma série de questionamentos, já que, nas entrelinhas, leva à compreensão de um desentendimento entre setores da economia local, o comércio a e indústria no caso.
No primordial momento de ter a comunidade uníssona em prol de sua literal sobrevivência, a matéria, que cita fontes anônimas e apresenta números subjetivos com comparações proporcionais de esferas incomparáveis, instiga o desencontro de objetivos dos entes empresariais do município.
Para o empresário Gilson Trennepohl, vice-prefeito e membro do conselho diretivo da empresa Stara, um profissional que produz material como este referido, tem apenas como “finalidade, criar obstáculos para a cidade de Não-Me-Toque”. “Não é uma pessoa que entende ou procure entender as coisas”, avaliou.
Para Willian Garcia, presidente da Associação Comercial, Industrial, Agropecuária e Serviços (Acint), é impresumível a possibilidade de ter em Não-Me-Toque a dissidência entre comércio e indústria. “Se for parar para analisar, boa parte do incentivo que vem para essa campanha (de incentivo ao comércio local) é da indústria. Tem todo um contexto, que pra mim é muito claro, Não-Me-Toque é o que é, em muito, por suas indústrias”, enalteceu Garcia.
No entanto, Willian lembra que há sim o descontentamento de um setor. “O questionamento, de estar de porta fechada, é do setor alimentício, que é o que mais reclama disso, de estar de portas fechadas”, detalhou.
O presidente da Acint também se demostra contrariado as restrições protocolares impostas pelo distanciamento controlado. “Não consigo entender (o fechamento do comércio), assim como não entendo a suspensão das aulas, são locais onde há o maior cuidado, são locais onde se cumprem todos os protocolos e não vão funcionar por quê?”, questionou Willian.
Confirmando o posicionamento do setor, o empresário Celso Arocena, proprietário de um restaurante e uma sorveteria em Não-Me-Toque, é firme em indicar seu apoio à industria de portas abertas. “A industria tem que trabalhar sim, e a indústria que gera renda e emprego, e que faz movimentar o comércio. Um está atrelado ao outro, não adianta de nada alguém querer que o outro feche”, ratificou Arocena.
Condição corroborada pelo Vice-prefeito. “Diferente do governador do Estado, não acreditamos em lockdown, eu não acredito que à noite, fechando um restaurante, um pequeno comércio, vai diminuir a contaminação, a circulação do vírus”, enfatizou Trennepohl, que foi além: “nos festerês, nas junções, ali pode ter transmissão e isso é um grande problema. Agora, quando o cara vai para uma academia fazer ginástica, isso é quase como ir à consulta médica e nossas academias estão fechadas, o comércio está fechado, quem vai cuidar disso?”
Indústria de portas abertas amparada pelas regras do distanciamento: maiores empresas de Não-Me-Toque vão além da segurança protocolar
Conforme previsto no protocolo de bandeira preta, para o distanciamento controlado, “as indústrias devem respeitar critérios específicos de funcionamento, com teto de operação de percentual máximo permitido de trabalhadores presentes em 75%, no mesmo turno, ao mesmo tempo, respeitando o teto de ocupação do espaço físico”.
Na empresa Implementos Agrícolas Jan a semana teve pouco mais de 70% do total de funcionários passando nas catracas das suas unidades fabris. “Temos um protocolo sendo respeitado rigorosamente, com reforço na testagem e na avaliação, para não deixar ninguém entrar com algum sintoma”, revelou Ivan Fleck, gerente de RH da Jan.
Na Stara, são cumpridos cotidianamente, desde o início da Pandemia, 75 regras do protocolo sanitário próprio da empresa. “Desde março (de 2020) já vinhamos com vários protocolos sendo observados e nossos turnos foram bem espaçados, assim evitamos aglomerações nas entradas e saídas”, explicou Volmir Amann, gerente de RH na Stara.
A Secretaria da Saúde de Não-Me-Toque também tem vistoriado as rotinas dos trabalhadores nas duas indústrias e levado orientações. A convite da direção da Jan, os profissionais da saúde visitaram a empresa. “Queríamos saber o que vamos fazer, então a Secretária (Liliane Erpen, da saúde) e os agentes da Vigilância Epidemiológica vieram para nos orientar. Olharam, verificaram tudo e está tudo ok”, contou Ivan Fleck.
Os refeitórios também têm atenção especial, com controle de frequência não ultrapassando o limite de 30% da capacidade de cada ambiente e servindo pratos feitos, sem contato dos funcionários com bufês.
Mas o alerta dos cuidados vai além dos limites físicos das fábricas. “A Supervisão (setor) os funcionários para estarem alertas sobre o distanciamento fora da empresa, pra evitarem aglomerações. Aqui dentro o pessoal está protegido pelo plano de contingência, mas lá fora depende de cada um e de sua responsabilidade”, alertou o responsável pelos Recursos Humanos da Jan, que acrescentou: “a partir da obediência aos protocolos mais rígidos, já percebemos redução no número de casos de infecção entre nossos funcionários, o que indica que está sendo feito corretamente”.
“Aqui, na Stara, jamais teve surto. Já tivemos 120, viemos para 60, hoje estamos em 40 pessoas que positivaram. Destes, tem um número de pessoas que são afastadas e passam a ser monitoradas porque estavam próximas daquelas que positivaram. Num universo de 3 mil pessoas, em que o número (de positivos) vem se mantendo há cerca de quatro semana, não tivemos pico nenhum, não há surto nenhum”, enfatizou Gilson Trennepohl, contrariando o que foi divulgado com relação aos casos observados na Stara.
As precauções começam no ônibus
Os funcionários das indústrias, que vêm de outros municípios, que dependem de transporte coletivo para se deslocarem ao trabalho, desde o embarque são condicionados ao respeitos dos protocolos sanitários. “Desde a bandeira vermelha já tínhamos os coletivos fretados apenas com 50% da capacidade de lotação e essa condição foi reforçada agora na bandeira preta, inclusive pelo transporte público”, detalhou Volmir Amann, com referência aos trabalhadores da empresa Stara.
“Aos nossos colaboradores que utilizam os coletivos da empresa Hélios, sugerimos que monitores as condições, inclusive fazendo fotos se algo estiver em desacordo. Até agora nada foi descumprido, inclusive a empresa tem destinado mais três carros para que os protocolos sejam obedecidos”, esclareceu Ivan Fleck, com referência aos trabalhadores da Jan.
A empresa Zimmer Tur, de Santo Antônio do Planalto, transporta trabalhadores daquele município para as indústrias de Não-Me-Toque. Maicon Zimmer, um dos proprietários da firma de coletivos, revela que “desde o início da pandemia a empresa é orientada pelas indústrias a cumprir os protocolos do distanciamento”. “Em cada carro na nossa empresa tem um funcionário da Stara pra fazer isso, medir a temperatura, questiona todos os que embarcam se não tá sentindo algum sintoma. Quando chegamos na Stara, os ônibus são higienizados e é feita a reposição do álcool gel”, explica Zimmer.