Falar em sucessão familiar empresarial é um tema relevante que precisa ser debatido. O processo de transição de geração para geração necessita abrir espaço para o diálogo e possibilitar a construção de novos aprendizados para os filhos que tem interesse em participar da tomada de decisões na empresa.
A empresa Grazmec, Não-Me-Toque, não realizou um planejamento de sucessão, ela ocorreu de forma espontânea. E hoje, com 34 anos de história, consolidada no mercado na fabricação de máquinas para tratamento de sementes, é exemplo de que sucessão familiar empresarial ainda em vida contribui para o bom andamento e torna evidente que a troca de conhecimento entre pai e filhos se complementa.
Para Antônio Alberi de Mattos, fundador da empresa juntamente com a esposa Maria Cristina de Mattos, os pais não devem forçar os filhos a participarem ou tocarem adiante os negócios da família. “A sucessão precisa ocorrer de maneira livre, natural, sem obrigar”, aconselha ele.
Segundo Alberi os filhos, ainda pequenos, já demonstravam interesse em trabalhar junto no negócio familiar. Hoje, ele conta com a ajuda dos filhos no gerenciamento da empresa. Com olhos vibrantes, orgulho estampado no rosto, seu Alberi apresenta os filhos com euforia.
-Graziela de Mattos Souilljee, advogada, e Emerson de Mattos, graduado em Engenharia Mecânica. Ambos contribuem para o andamento do trabalho que teve início em 1986. Graziela tem 23 anos de empresa e ajuda no administrativo, já Emerson fica no setor industrial sendo engenheiro responsável dos projetos das máquinas fabricadas e tem 09 anos de participação ativa na empresa. Eles sempre estiveram ao meu lado e nunca pararam de buscar conhecimento. Eles estudaram e já trabalharam em diversos setores aqui dentro da empresa. Graziela já limpou banheiros e o Emerson já encarou o almoxarifado, contou ele.
A participação dos filhos nos diversos setores também contribui para o olhar humanizado que a Grazmec direciona aos colaboradores.
O grande desafio das empresas, na sucessão, é trabalharem as questões profissionais, negócios, desprendidas do laço afetivo que os envolvem. Para Emerson, este processo pode parecer simples, mas exige maturidade.
– A gente sempre procura conversar, querendo ou não as coisas misturam, mas é preciso ter maturidade para separar o que é da empresa e o que é da família, relatou Emerson.
Para Graziela, o relacionamento entre os integrantes da família está sólido e cada um respeita a opinião do outro. Ela informou que nos almoços em família eles procuram não falar sobre assuntos relacionados à empresa.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), mais de 90% das empresas constituídas no país são familiares. A pesquisa apontou que somente 5% das empresas familiares se mantêm vivas até a terceira geração. Diante nisso, a família Grazmec, já está pensando nos próximos passos, na próxima geração. Emerson acredita que o processo da transição da segunda para a terceira geração, será um processo diferente do que ocorreu. Ele explica que será um processo mais burocrático. Para Graziela este processo precisa ser pensado com cuidado.
-É necessário que tudo seja formalizado e a ideia é fazer o pacto família / sociedade. A formalização seria para instruir, registar como seria feito esta associação para a terceira geração. Primeiramente seria realizada uma conversar para ver o interesse em fazer parte, em seguida fazer a preparação. É necessário oficializar o pacto para não houver nenhuma surpresa, argumenta Graziela.
Com toda experiência, Alberi afirma que o desafio não é começar uma empresa, o desafio é manter.
Camila Soares