De origem humilde para um grande sucesso empresarial, sendo reconhecido Brasil afora. Assim pode ser resumida a trajetória de Gilson Trennepohl, que foi diretor-presidente da Stara de 2006 a 2020.
O empresário relata que trabalhou desde a infância para ajudar no sustento da família. Serviu o Exército e ao voltar para sua cidade natal, Ibirubá, havia perdido o trabalho de operador em uma emissora de rádio, motivo que o fez se mudar para Não-Me-Toque. Em solo não-me-toquense, trabalhou em diferentes funções até ser comunicador na Rádio Ceres. “Me convidaram para fazer o programa da manhã, das 8h às 11h30min. Apaixonei! Apaixonei! Fazia com o maior amor. Era uma coisa inigualável”, recorda Trennepohl.
Ele tinha o objetivo de ser radialista em São Paulo ou Rio de Janeiro. Mas seus sonhos foram mudando ao longo do caminho. “Eu seguia com aquela ideia era ir embora para São Paulo, mas não tinha nenhum contato, não tinha nada. Nesse período eu comecei a namorar, final de 1980. Me apaixonei e ficou menor o tamanho do sonho de sair e ficou mais perto de eu ficar em Não-Me-Toque. Aí saí da rádio, fui trabalhar seis meses na fazenda do meu sogro e depois fui trabalhar no antigo Bamerindus. Saí do banco e fui para a Stara. E na Stara neste ano vão fazer 40 anos que eu trabalho na empresa. O meu sonho mudou durante o caminho. Mas ficou o sonho de ter uma família legal. Graças a Deus isso eu e a Suzi (esposa) conquistamos juntos e a gente é muito feliz por isso”, destaca.
Atualmente, Trennepohl é presidente do conselho administrativo da Stara, proprietário do Grupo Ceres de Comunicação e vice-prefeito de Não-Me-Toque. Nesta entrevista exclusiva, ele fala de temas como sua vida profissional, a expansão da Stara e gestão de talentos.
Grupo Ceres: A primeira vez que o senhor ouviu o nome da Stara sentiu algo diferente?
Gilson: Não. Não deu essa liga. Na verdade, nós no Bamerindus tínhamos problema de aceitar cheque da Stara porque às vezes o cheque era sem fundo. Cheque da Stara era só com a assinatura do gerente. Então esse era o conceito que eu tinha da empresa. E a Stara estava quebrada. Em momentos extremamente difíceis. Eu vou te dizer que esse momento difícil também me botou muita energia quando fui pra Stara, porque eu falei assim “poxa vida, pior que tá, não fica, né?”. Então nós vamos trabalhar daqui para frente. Tudo que nós alcançarmos são objetivos novos e sonhos novos. E a partir dali, baixar a cabeça e trabalhar, né? E fomos para a estrada. Eu viajei muito nesse período e ficava às vezes 21 dias fora de casa. Quase não vi meus filhos crescerem. Mas era um preço, talvez, que eu tinha que pagar para aprender. E eu aprendi muito lá na Stara e acabei depois virando diretor. Eu já era sócio e em 2006 nos tornamos sócios majoritários. Nessa época, a Stara tinha cerca de 250 funcionários. Reduzimos para 188 e aí nós começamos a decolar. Hoje nós estamos com 4.000 colaboradores.
Grupo Ceres: E esse período aí de viagens Brasil afora, de demonstração, de venda, vender se tornou uma paixão sua?
Gilson: Eu acho que eu sempre fui um vendedor. Porque vendedor não é só quem vende produto. Vendedor também é aquele que vende sonhos, que vende oportunidades. E imagina que a gente ia contratar alguém para trabalhar na Stara. Eu ia lá fazer a entrevista. Nem era da minha área, mas eu ia lá fazer a entrevista. Por quê? Porque eu olhava e via essa pessoa pode ser um futuro talento. Depois que eu comecei, a minha venda era vender para o vendedor. Fazer com que quando eu saísse da região o vendedor continuasse a vender como se eu estivesse lá. E aí no treinamento nós usávamos o carro para fazer perguntas e tal, passava textos a fita cassete e assim nós fomos crescendo. Por exemplo, nós íamos lá em Sinop, que na época era tudo estrada de chão, para tirar um pedido. E era assim. Era gostoso demais. Dormíamos nos hotéis da beira da estrada, dormia em motel. Num lugar que não conseguimos hotel, chegamos a dormir, eu e o Orlando (Orlando Mandelli, representante comercial da Stara e amigo) num motel. Conseguimos um quarto de motel e só tinha uma cama. Botamos um travesseiro no meio. Vai pra lá que eu vou pra cá, dividindo a cama no motel (risos).
Grupo Ceres: Quando vocês assumem de forma majoritária a gestão da empresa, muitas pessoas diziam que o senhor era louco, né? Diziam “o Gilson em três meses vai quebrar a Stara”. E ocorreu justamente exatamente o contrário. A empresa cresceu exponencialmente e se tornou o que é hoje. A que fatores o senhor atribui tudo que foi construído desde então na Stara?
Gilson: A sorte não faz mal a ninguém, tá? Eu falo que nós tivemos um pouquinho de sorte e aproveitamos uma oportunidade magnífica que o Brasil proporcionou que foi o crescimento do agronegócio. No ônibus do agronegócio tinha uma poltrona reservada para nós. Nessa época, o agro brasileiro produzia 70 ou 80 milhões de toneladas de grãos, talvez menos do que isso. E hoje produz 300 toneladas. 330 toneladas. Hoje, o Brasil é o maior exportador de grãos, de soja, de café, de laranja, de frango, carne. Tchê! Que loucura! E nós estávamos no lugar certo.
“A Stara tinha cerca de 250 funcionários. Reduzimos para 188 e aí nós começamos a decolar. Hoje nós estamos com 4.000 colaboradores”
Grupo Ceres: Ou seja, o agro estava explodindo a produção. E a Stara embarcou nessa com a diversificação da linha de maquinário. Foi isso?
Gilson: Exatamente. O agro está em crescimento. Eu acho que vai continuar crescendo, não na mesma velocidade dessa ocasião, mas numa boa velocidade. As pessoas que rodeiam o agro, todas elas, eu vejo que todas cresceram. Botamos na cabeça que nós íamos ser a maior indústria de máquinas agrícolas do Brasil e a maior da América Latina. Quando nós tivemos essa ideia, nós tínhamos 180 colaboradores. Aí o cara só pode me chamar de louco mesmo. Então, com o trabalho de todo mundo, com a rede de concessionárias, com o banco, com as exportações, com produtos de alto gabarito nós crescemos. Temos produtos que são um verdeiro show, se eu fosse cliente, eu comprava porque são demais. E assim nós viramos a página dos produtos que eram feitos no Brasil.
Grupo Ceres: Como foi o desafio de criar uma rede de concessionárias?
Gilson: Ninguém queria ser concessionário Stara. Aí tu ia procurando até encontrar alguém que tinha vontade. Aí a pessoa relatava que não tínhamos produtos para ela ser uma revenda exclusiva Stara. Então dissemos, siga vendendo como tu faz atualmente e nós vamos criar produtos para todas as linhas agrícolas. Quando tivermos tudo pronto, você vai ser só Stara. Aí eu dizia para o revendedor, teus mecânicos serão treinados, teus técnicos serão treinados, você será treinado e terá uma revenda com um bom faturamento. E assim foi acontecendo.
Grupo Ceres: A Stara tem algo diferente que são os nomes das máquinas, como Imperador, Hércules. Como se definem os nomes? São escolhas suas?
Gilson: Praticamente todas. Eu cito também a Absoluta, a Prima, a Victória, alguns exemplos. A gente recebia uma iluminação e fazia a máquina. Agora nós fizemos uma máquina nova, pro plantio, que é sensacional. Dá para escrever “sensacional” em letra maiúscula. É a plantadeira Eva, para pequenos e médios produtores. Nós vamos rachar de vender.
Grupo Ceres: O senhor então tem um começo de vida profissional na Rádio Ceres e depois muitos anos mais tarde se torna dono do Grupo Ceres. Que significado isso tem pra ti?
Gilson: Sempre busco que as pessoas tenham orgulho de trabalhar onde trabalham. Aí a empresa cresce. E é o que estamos fazendo. Compramos essas duas salas, projetamos um ambiente claro, arejado, um ambiente bom. Nosso desejo é que quem trabalha aqui tenha orgulho de trabalhar na Rádio Ceres, na Positiva FM. E as coisas estão acontecendo. Sempre trabalhei muito com jovens, gosto muito de trabalhar com gente. E aqui na Ceres os profissionais estão imbuídos de muita vontade e vão aonde as coisas acontecem e logo a notícia está no ar. Aqui também estou junto com a minha sobrinha, Talyta. Então, tchê, eu estou muito feliz de estar na Rádio Ceres.
“Por incrível que pareça, é muito rápido para eu conhecer uma pessoa, fazer uma análise e ver se ela tem potencial ou não”
Grupo Ceres: O senhor trabalha muito com pessoas e procura ter um olhar para descobrir talentos. Isso também é uma paixão?
Gilson: Tchê! Eu acho que essa é a maior virtude que Deus me deu: descobrir talentos. E pessoas às vezes que nem imaginam, mas se transformam em grandes profissionais. Eu vou te dar um exemplo lá da Stara que é o Fabio Bocasanta. Poderia citar vários outros. O Fabio foi jogar bola para o Arsenal e entrou na Stara. Eu falei para ele, “você pode fazer uma baita carreira aqui, Fábio”. Ele entrou na empresa e hoje é o diretor financeiro da Stara. Passa por ele todo o processo. E era um piazinho que tinha 16 anos quando entrou na empresa. Eu já dizia para ele que ele tinha muito futuro. Os pais dele são muito bons e a fruta não ia cair longe do pé.
Grupo Ceres: Como é que o senhor percebe o talento na pessoa?
Gilson: Hoje eu estou fazendo menos isso, né? Fui ficando mais velho e ficando mais matreiro. Por incrível que pareça, é muito rápido para eu conhecer uma pessoa, fazer uma análise e ver se ela tem potencial ou não. Eu também sempre digo que a melhor hora de pegar um feedback de uma pessoa é numa confraternização, tomando uma cervejinha com os amigos. Ainda hoje acontece de eu conhecer uma pessoa e sugerir para alguma vaga e vai embora. É natural. Não tem explicação.
Grupo Ceres: E quando o senhor vê que acertou na escolha do talento. O que sente?
Gilson: Pra mim é uma satisfação enorme. Não tem preço. Hoje tem vários setores da Stara com colaboradores com mais de 30 anos de carreira na empresa. E isso pra mim é muito importante. Quem tem mais experiência ensinando que tem menos. Esses dois componentes juntos são um combustível para que a empresa cresça e deslanche.
Grupo Ceres: Analisando sua vida, o senhor tem algum arrependimento?
Gilson: Nada. Sou um homem feliz por viver esse momento maravilhoso, a família maravilhosa que tenho, os amigos. Não tenho arrependimentos e faria tudo de novo. Não mudaria nada na minha biografia e no meu caminho. Sou um homem de sorte.
Grupo Ceres: Do que o senhor se orgulha?
Gilson: Me orgulho de ter uma família muito boa. Esposa, filhos, netos, a Neca (irmã), Talyta (sobrinha)… E roda por aqui a nossa vida. Estou muito feliz. Família é tudo e tenho orgulho da minha família. Sempre estamos procurando fazer coisas boas.