Participante da comissão organizadora da Expodireto desde a primeira edição, o vice-presidente da Cotrijal Enio Schroeder comenta expectativas para o evento deste ano e também vários temas relativos ao agronegócio. “Precisamos sim, de uma vez por todas, ter um seguro oficial que garanta renda ao produtor”, destacou. Confira a entrevista completa.
Grupo Ceres: A feira vem batendo recordes atrás de recordes nas últimas edições, seja na presença de público, seja no volume comercializado. A responsabilidade da Cotrijal em organizar a Expodireto fica maior a cada ano?
Enio: Se você falar em Cotrijal e falar em Expodireto, uma faz parte da outra. A cooperativa é sólida, fundada em 1957 por um grupo de agricultores, e chega até os dias atuais crescendo com muita segurança. Quando iniciamos a Expodireto, jamais alguém poderia imaginar que seria um evento tão grandioso e tão importante na nossa região, capaz de modificar o estado em termos de agricultura. A Expodireto faz a diferença. Ela é uma feira que traz muitas tecnologias, muitas inovações e a cada ano vem com novos desafios. A prova disso é que muitas empresas que ainda não conseguiram estar no parque expondo estão numa lista de espera aguardando uma oportunidade. E aquelas empresas que iniciaram desde as primeiras edições continuam e cada ano vêm com estandes maiores. É uma feira completa. Tem uma grande equipe trabalhando, são milhares de mãos que fazem a Expodireto e temos que ser gratos ao associado da Cotrijal que permite que a feira aconteça. Como o evento ficou muito grande só para o nosso associado, outros produtores e demais pessoas também aproveitam o conhecimento que passa por aqui. Então, é um ano de grandes expectativas e vamos ver o que vai acontecer durante a semana.
Grupo Ceres: O volume comercializado no Show Rural Coopavel (R$ 6,1 bilhões) projeta algo para a Expodireto?
Enio: Sempre são tendências. São sinais. Hoje o produtor é muito estruturado e organizado, não depende só de uma safra. Ele tem todo um cronograma de renovação de máquinas, de investimentos que ele faz na sua atividade. Além disso, na Expodireto não temos só produtores do Rio Grande do Sul. Aqui vêm muitos agricultores de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Roraima, enfim, de várias regiões do país fazer suas aquisições. Sobre o Show Rural Coopavel, as informações que nós temos é de que foi uma feira que teve um excelente público, os negócios também fluíram muito bem e nós temos a esperança de que aqui também saiam muitos negócios. A feira tem o papel de expor e muitas vezes o produtor faz a aquisição ao longo do ano de algo que ele viu na Expodireto. A comercialização ultrapassa os cinco dias de feira. E além de negócios, a Expodireto oportuniza conhecimento, que não deixa de ser uma aquisição.
Grupo Ceres: O senhor participa da organização da Expodireto desde a primeira edição. E hoje, vendo o tamanho que a feira ganhou, qual é o seu sentimento?
Enio: O crescimento da feira é notório e o orgulho de todos é muito grande. Todas as pessoas que já passaram pela cooperativa e que de uma forma ou outra contribuíram para a feira têm um sentimento de que algo diferente aconteceu aqui nesse Planalto Gaúcho. A prova disso é que as cidades aqui no entorno e a cidade-sede, Não- Me-Toque, jamais atingiriam os níveis que têm hoje. Não-Me-Toque foi colocado no mapa, as pessoas conhecem e sabem que existe. A feira movimenta a região, num raio de 150 quilômetros não tem quarto de hotel disponível durante o evento. Isso é um sinal de que houve uma evolução muito grande. As empresas daqui se consolidaram e muitos eventos acontecem na região por causa da Expodireto. Então, me sinto parte disso e friso: milhares de mãos também fazem parte. A Expodireto precisa ser boa para o nosso associado, mas ela se tornou tão grande que ela é do Brasil. Então, sim, eu me sinto muito orgulhoso de ter sido, desde o início, alguém que participou efetivamente da criação e da organização da Expodireto.
Grupo Ceres: O que deve ser reivindicado pelo agro junto às autoridades públicas neste ano?
Enio: O agro hoje está muito visível e todo mundo quer estar junto com ele. Percebe-se que muitas vezes aquilo que existia no passado, que as pessoas não conheciam o setor rural, já não existe mais tanto. Mas é necessário ainda que haja um respeito maior por esse setor tão importante, que gera riquezas, divisas nas exportações e que mantém milhares e milhares de empregos. Nosso país é agrícola. Aliás, não sei o que seria do nosso país se não fosse a agricultura. O agricultor é muito responsável, faz o seu cultivo com muita tecnologia, muito investimento e corre altos riscos. A prova disso é quando dá uma safra frustrada, ele fica endividado. E não tem nenhum seguro agrícola que dá garantia para ele. Ele investe não sabendo o que vai acontecer. Então, precisamos sim, de uma vez por todas, ter um seguro oficial que garanta renda. Temos que criar isso juntos e precisa ser algo muito grandioso porque não há empresa sozinha, isolada, que suporte tudo isso. É uma iniciativa, a meu juízo, que o governo também deve olhar junto com o setor para que tenhamos segurança nos investimentos que o agricultor faz. Precisamos também de recursos e de juros mais adequados para se produzir.
Há também uma certa incompreensão por parte de quem não conhece o setor, acham que o agricultor destrói. O produtor rural é o que mais preserva o meio ambiente. Porém, não tem como produzir alimentos sem proteção. Se você não proteger a lavoura, não colhe nada. E não adianta ficar imaginando que a gente vai conseguir produzir sem nenhum tipo de produto que é necessário usar porque não vai ter alimento para a humanidade. Então esse é um assunto que precisa ser cada vez mais divulgado e a Expodireto tem um papel importante nisso também.
Grupo Ceres: É um desafio gerenciar a organização do parque?
Enio: Com certeza, afinal são mais de 550 empresas expositoras, cada uma com suas particularidades. Por sua vez, cada expositor tem o seu fluxo de trabalho intenso dentro do seu estande. É um quebra-cabeça que não é tão simples de resolver. E a Expodireto só é o que é por causa desse grande trabalho das empresas. Nós também participamos como expositores em outros eventos, então a gente sabe o que é montar um estande, tem seus investimentos, tem o prazo e tudo mais. E que bom que a gente consegue fazer com que as empresas gostem tanto da Expodireto, porque ela é das empresas também. Nós a organizamos, mas ela é de todos que participam, seja empresa, produtor, visitante ou fornecedor.
Grupo Ceres: E como é ser expositor em outros eventos?
Enio: Você tem que seguir as regras da feira onde vai, né? E eu acredito que de certa forma isso até facilita pela experiência que se tem aqui. Não tem outro jeito de fazer uma feira a não ser com regras claras e organização. E com o passar do tempo todos vão entendendo. É impressionante essa cultura que se criou, uma cultura Expodireto, onde os expositores já sabem que vamos por um determinado caminho na organização e eles gostam disso. O expositor e o público gostam de organização. É um parque realmente diferenciado no mundo. Eu me atrevo a dizer com toda a segurança: parques tão organizados assim são poucos.
Grupo Ceres: Como o senhor avalia, já passado algum tempo, a mais recente expansão da Cotrijal, ou seja, a incorporação da Coagrisol. Como isso tem repercutido?
Enio: Desde a sua fundação, a cooperativa vem crescendo. Hoje estamos em 53 municípios. Há dois ou três anos começou a se falar numa possível união de cooperativas. A Cotrijal com muito estudo, diálogo e responsabilidade fez a incorporação da Coagrisol, que foi o caminho mais adequado. Além desta incorporação, já tínhamos adquirido duas unidades, uma em Pantano Grande e outra em Encruzilhada, que têm potencial grande de produção e como organização a gente precisa ter este olhar de crescimento porque cada as margens são menores. Você precisa ter volume para viabilizar o produtor. Então, quando se faz uma expansão, é olhando para aquele produtor que iniciou a cooperativa porque aí você tem mais volume, fica mais competitivo no mercado e consegue fazer mais frente às dificuldades que têm por aí.
Gupo Ceres: Existem novas expansões previstas?
Enio: No momento não. Nós temos que consolidar o que temos agora. Veja o exemplo da França, lá tinham centenas de cooperativas e hoje existem pouco mais de 15. E em outros países é assim também. Então as cooperativas foram se juntando para serem mais competitivas. É o que se vê mundo afora. Só que isso tem que ser feito com responsabilidade e segurança. Nosso papel não é ser um gigante só por ser. Tem que fazer sentido para o agricultor, para o colaborador e para as comunidades em que atuamos. Mas o olhar de expansão você tem que ter sempre, esta é a ordem natural do empreendedor. Tanto o produtor quanto a cooperativa precisam ser empreendedores.
Grupo Ceres: Que recado o senhor deixa para o visitante da feira?
Enio: Aproveite ao máximo, visite os estandes, faça perguntas. A feira tem equipamentos e maquinários que nunca imaginamos ver no mundo, cada máquina que é um verdadeiro espetáculo, muita tecnologia aliada, lindas, enfim, enchem os olhos. Quem precisa adquirir que o faça. Quem não tem a possibilidade de aquisição, que aproveite o conhecimento, a possibilidade de conhecer novas variedades, novos produtos, de receber as informações das entidades de pesquisa. A feira é muito completa. Tem várias coisas acontecendo na Expodireto. Quem vem sai diferente de como chegou e quem não vem deixa de adquirir um conhecimento que está aqui à disposição sem custo.