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Leite: uma paixão de família

Conheça a história da família Neuberger, que enfrenta no dia a a dia os desafios do mercado e tem a atividade leiteira no sangue

por Daiane Giesen
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A atividade leiteira, essencial para a alimentação e para a economia, transcende a mera produção, sendo uma na maioria das vezes uma vocação que se herda e se cultiva como legado. Nesta reportagem, mergulharemos na trajetória da família Neuberger, cujo cotidiano envolve a dedicação à criação de vacas leiteiras, enfrentando os desafios e celebrando as conquistas que permeiam essa jornada diária.

– Somos uma família que tem o leite no sangue. Há mais de 12 anos nos dedicamos a essa atividade, e nosso objetivo é passar esse legado para as futuras gerações – relata Gisele Neuberger, evidenciando o amor pela atividade.

A propriedade leiteira dos Neuberger abriga cerca de 75 vacas em ordenha, com planos ambiciosos de expansão para alcançar a marca de 100 vacas. Em uma abordagem colaborativa, Gisele, seu esposo Marcos, seu pai Elismar e sua mãe Maria Lourdes trabalham em equipe para garantir o sucesso do empreendimento.

A produção leiteira é orquestrada através de um sistema de confinamento, onde vacas em lactação e pré-parto são mantidas, enquanto parte do rebanho desfruta de um sistema de semiconfinamento. Duas ordenhas diárias são realizadas, com planos de aumentar para três, uma vez que mais funcionários possam ser contratados.

As vacas holandesas do plantel Neuberger são a força propulsora da produção de leite, tendo apresentado uma média superior a 36 litros por vaca diariamente em 2023. O compromisso com a melhoria constante impulsiona a família a buscar novas práticas e tecnologias para elevar ainda mais esse índice. “Pelo menos 50% do sucesso do negócio depende do amor que temos por essa atividade. É um trabalho árduo, mas gratificante”, comenta Gisele.

Rotina intensa

A rotina da família Neuberger é marcada por intensidade, com o início das atividades às 5h30min. Além de cuidar do rebanho, eles gerenciam outros aspectos da propriedade, como a lavoura e a horta, exemplificando o compromisso integral necessário para o êxito na atividade leiteira.

Desafios não são estranhos aos produtores de leite e Gisele compartilha: “o mercado, muitas vezes, impõe baixos preços para o produto. Lidar com as flutuações é um desafio constante, assim como as longas horas de trabalho e a falta de folgas e feriados”, pontua.

Para o pesquisador Wagner Beskow, o mercado é frio e impessoal e entender a compatibilidade entre preço, custos e margem é crucial para a sobrevivência dos produtores de leite. Ele cita alguns desafios da atividade, mas ressalta que com determinação, conhecimento e boa assistência, é possível superá-los. “Falta de mão de obra, preços de insumos, barro, calor, mastite, tristeza parasitária, falta de sucessão e tantos outros desafios fazem parte da rotina. Mas todos são possíveis de se superar, desde que haja compreensão e se organizem as prioridades”, explica.

Importância da atividade

Ao consumidor final, Gisele faz um apelo: “É fundamental entender o valor e o esforço por trás da produção leiteira. Apesar do preço, é importante valorizar um produto tão exigente em termos de produção”, afirma. Ela ressalta a importância do trabalho em família e a oportunidade de ver seus filhos crescerem e aprenderem sobre a atividade.

A família Neuberger participa ativamente da Expodireto, sempre em busca de novidades e tecnologias para a atividade leiteira. Durante o evento, aproveitam para fazer compras e negociar produtos com preços vantajosos.

A história dos Neuberger é um reflexo do papel crucial da atividade leiteira para muitas famílias rurais, representando trabalho árduo, desafios superados e a satisfação de colher os frutos do esforço coletivo. A atividade leiteira não é apenas um pilar econômico, mas uma tradição que merece ser valorizada, compreendida e celebrada por toda a sociedade.

Pesquisador analisa gargalos e estratégias para a Pecuária Leiteira

Em uma entrevista exclusiva para o Ceres Agro News, Wagner Beskow, PhD e sócio-diretor da Transpondo Pesquisa, Treinamento e Consultoria Agropecuária, compartilha suas análises sobre a atual situação da atividade leiteira no Rio Grande do Sul, os desafios enfrentados pelos produtores e estratégias para enfrentar as incertezas do mercado em 2024.

Dificuldades após ciclos de estiagem e chuva

Segundo Beskow, a combinação de dois a três ciclos de estiagem seguidos de um período de chuvas constantes teve impactos significativos na atividade leiteira gaúcha. 

– O problema da última seca foi sua prolongação, seguida de forte recuo no preço do leite quando as chuvas retornaram. Assim, o período que seria de recuperação se tornou outro problema – afirma o pesquisador.

Ele ressaltou que apenas produtores bem estruturados conseguiram atravessar 2023 sem comprometer o futuro, enquanto outros deixaram a atividade ou correm o risco de parar devido a passivos incompatíveis com a geração de caixa.

Beskow enfatiza três lições cruciais a serem aprendidas: “a importância de ter uma reserva financeira, a resiliência do sistema e o planejamento a longo prazo para anos médios, evitando extremos positivos ou negativos”, revela.

Rebanho confinado versus a pasto

Sobre a escolha entre rebanho confinado ou a pasto, Beskow observou um aumento nos confinamentos, mas alertou: “a mudança de sistema não elimina desafios, ela muda os desafios. O investimento em estrutura traz, sim, maior controle na entrega daquilo que se julga que o animal necessita, mas os princípios e compromissos diários continuam a demandar das pessoas”, elenca.

Ele complementa que “os confinamentos estão aumentando, mas não veremos o Rio Grande do Sul todo convertido em confinamentos. Há produtores com excelentes resultados em base pasto com suplementação que conseguiram superar grande partes dos desafios citados e que continuarão com seu sistema”.

O pesquisador destacou um estudo de 2020 que indicou que diferentes sistemas de produção atingiram limites semelhantes de produção, enfatizando que a produtividade está relacionada à capacidade da terra de produzir forragem.

Mercado em 2024 e estratégias para produtores

Beskow alerta para a volatilidade do preço do leite e a necessidade dos produtores se planejarem para um ano médio. Ele destacou o desafio do baixo poder aquisitivo do consumidor brasileiro, indicando a necessidade de uma estratégia para lidar com preços praticados no mercado internacional.

O pesquisador recomenda que os produtores busquem eficiência produtiva e mantenham custos operacionais abaixo de níveis específicos para competir internacionalmente. “Ao produtor, não lhe resta alternativa a não ser continuar aperfeiçoando aquelas políticas internas que proporcionam maior eficiência produtiva, especialmente aqueles ainda abaixo de 20.000 L/ha/ano”, destaca.

Beskow ressalta ainda a importância de feiras como a Expodireto para os produtores de leite, proporcionando uma oportunidade de sair da rotina, aprender coisas novas, trocar ideias e recarregar as baterias.

 

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