O boicote à carne do Mercosul sugerido pelo CEO da rede francesa Carrefour, Alexandre Bompard, reverteu-se em um movimento contra as lojas da marca no Brasil, unindo produtores e parlamentares, com o apoio até mesmo do ministro da Agricultura e Pecuária, Carlos Fávaro. As ações propostas, além de interrupção de fornecimento e de compras nos hipermercados, incluem a eventual instalação de uma comissão externa da Câmara dos Deputados.
Parlamentares ligado ao agronegócio se mobilizaram acompanhando a indignação dos produtores. O presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Pedro Lupion (PP-PR), apoiou que o setor de proteínas interrompa o fornecimento de carnes ao Carrefour e demais marcas do grupo no Brasil.
O deputado Alceu Moreira (MDB-RS), diretor de Política Agrícola, pretende apresentar ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), um requerimento para instalar uma comissão externa da Casa com o objetivo de “colocar o dedo na ferida” da rede de hipermercados.
Moreira diz que é preciso avaliar a conduta e as denúncias contra o Carrefour no Brasil. O deputado afirma que há antecedentes “graves” da rede no país, ligados a violações raciais, ambientais e trabalhistas.
No Senado, Tereza Cristina (PP-MS) apresentou um pedido para que o embaixador da França no Brasil, Emmanuel Lenain, seja convidado a comparecer à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional para “prestar informações” sobre o posicionamento da França contra um acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, considerando manifestações tanto do presidente Emmanuel Macron durante a reunião do G20, no Rio de Janeiro, no início da semana passada, quanto de Bompard.
Origem da disputa
A disputa está relacionada com a oposição da França a concluir um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul – integrado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai –, em meio a protestos de agricultores franceses, que temem a concorrência sul-americana.
Na quarta-feira, 20, Bompard disse que a rede deixaria de vender carne procedente do Mercosul, em solidariedade aos agropecuaristas conterrâneos. Bompard também sugeriu que outras empresas adotassem a medida. O anúncio causou imediato repúdio no Brasil, ainda que o Carrefour tenha enfatizado que a decisão se restringia aos estabelecimentos franceses. O desconforto evoluiu desde então.
Interrupção de fornecimento
Na quinta-feira, 21, seis entidades do agronegócio brasileiro se manifestaram afirmando que, se o Mercosul “não serve para abastecer o Carrefour no mercado francês, não serve para abastecer o Carrefour em nenhum outro país”. Na noite do mesmo dia, o ministro da Agricultura endossou o posicionamento. “Me surpreende a presidência local aqui no Brasil dizendo ‘não, nós vamos continuar comprando porque nós sabemos que tem boa procedência. Quem não quer comprar é a matriz lá, a França”, disse Fávaro.
“Ora, se não serve ao francês, não vai servir aos brasileiros. Então, que não se forneça carne nem para o mercado desta marca aqui no Brasil”, disse o ministro Carlos Fávaro, em evento da Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados.
O governador do Mato Grosso, Mauro Mendes (União), se somou à indignação. “Do jeito que você me trata, eu posso também te tratar. Como cidadão, não vou mais comprar nas lojas deles”, disse Mendes em vídeo publicado na internet, na sexta-feira.
De acordo com a imprensa da região, conforme informou a Agência Estado, cerca de 150 supermercados Carrefour no Brasil teriam deixado de ser abastecidos com carne.
Por meio de comunicado, o Grupo Carrefour Brasil negou o desabastecimento. “Tal alegação, veiculada sem identificação de fonte, contribui para desinformação. A comercialização do produto ocorre normalmente nas lojas. Nenhuma loja está desabastecida”, acrescenta o texto.
Deixar de comprar
Ainda na sexta-feira, a Federação de Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo distribuiu nota convocando empresários a se “engajarem” ao movimento.
“Somos mais de 500 mil empresas, apenas no Estado de São Paulo, que deixarão de comprar do Carrefour, enquanto insistir em desqualificar nossa carne, questionando uma qualidade comprovada globalmente. Solicitamos o engajamento e a adesão das empresas de hotelaria e de alimentação neste movimento, até que a varejista volte atrás deste posicionamento errôneo e desrespeitoso”, diz a entidade.
A medida se estende às redes Atacadão e Sam’s Club, que pertencem ao grupo francês.
Fonte: Correio do Povo