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Cooperativas oferecem modelo de atuação

A Organização das Nações Unidas definiu 2025 como o Ano Internacional do Cooperativismo, que destaca a importância do sistema associativo para atingir metas de sustentabilidade até 2030

por Daiane Giesen
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Setor fundamental à operação do agronegócio no Brasil, o cooperativismo ganhará maior destaque a partir de janeiro de 2025, com o início do ano internacional dedicado à atividade, conforme definido pela Organização das Nações Unidas (ONU). No país, o cooperativismo, historicamente vinculado ao consumo de produtos agropecuários (veja matéria na próxima página), contempla hoje sete áreas – agropecuário, consumo, crédito, infraestrutura, saúde, trabalho e produção de bens e serviços, e transporte – com os ramos agro, crédito e consumo constituindo os principais destaques.

De acordo com dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o segmento agropecuário tem o maior número de cooperativas. São 1.179, o equivalente a 26,1% do universo de 4.509 instituições em operação no país. No acúmulo de ativos, as cooperativas agro somam R$ 274 bilhões, perdendo apenas para as de crédito, com R$ 809 bilhões, e com quase quatro vezes mais do que o gerenciado pela saúde, com R$ 63,6 bilhões. O crédito lidera também no número de cooperados, com 17,9 milhões, seguido pela área de consumo, com 2,3 milhões, de infraestrutura, 1,5 milhão, e finalmente, o agro, com presença predominantemente no campo, com 1 milhão de associados.

No mundo, as 300 maiores cooperativas somam um faturamento de 2,4 trilhões de dólares. Fossem um país, as três centenas de organizações ocupariam o oitavo lugar no ranking de nações com maior produto interno bruto, superando Brasil, Itália e Canadá, classificados pelo Fundo Monetário Internacional como oitavo, nono e décimo colocados na lista, respectivamente. Destas 300, conforme a Aliança Cooperativa Internacional, 35% (105) são do ramo agropecuário.

Cerca de um bilhão de pessoas, ou 12% da humanidade, estão vinculadas a três milhões de cooperativas no mundo, de acordo com dados apresentados por Feulga Reis, analista de Relações Internacionais da OCB, no 9º Encontro Nacional com Jornalistas e Formadores de Opinião do Sicredi, ocorrido no último dia 7, em Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha.

Prevista para ser oficializada entre os dias 25 e 30 de novembro, em Nova Déli, Índia, durante a Conferência Cooperativa Global, a homenagem da ONU às cooperativas tem um propósito que vai além dos números pujantes, conforme antecipa o slogan adotado: “Cooperativas constroem um mundo melhor”. No entendimento da organização, os sistemas de auxílio mútuo tornaram-se indispensáveis à implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável até 2030. Tratam-se de 17 metas, entre elas a erradicação da pobreza, a fome zero e agricultura sustentável.

Participando de forma remota do evento promovido pelo Sicredi, a CEO do Conselho Mundial das Cooperativas de Crédito (Woccu, sigla em inglês para World Council of Credit Union), Elissa McCarter LaBorde, cita exemplos de atuações na Austrália, Quênia e mesmo em Porto Alegre que se harmonizam com as prioridades da ONU. De acordo com Elissa, a Woccu atua para influenciar órgãos mundiais de tomada de decisão financeira, como o G20 e o Comitê de Basileia, para adoção de iniciativas cooperativas em ações climáticas. O conselho também defende o uso de tecnologias inovadoras para garantir a inserção de populações de baixa renda de Peru, Equador, Brasil e Indonésia no sistema financeiro

O diretor-presidente do Banco Cooperativo Sicredi, César Bochi, disse que a instituição está alinhada à sustentabilidade financeira e ambiental, gerando impactos positivos no campo e na cidade. “No agronegócio não é diferente, pois fomentamos a atividade e estimulamos a adoção práticas sustentáveis”, disse Bochi.

Consumo estimulou surgimento de cooperativas

Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, tornou-se o berço nacional das Caixas Rurais, que se expandiram pelo Rio Grande do Sul na primeira metade do século 20 e deram origem ao segmento de crédito no setor

Monumento ao padre Teodor Amstad, Nova Petrópolis

Monumento ao padre Teodor Amstad, Nova Petrópolis | Foto:

Foi o consumo que impulsionou o surgimento das experiências de cooperativismo bem-sucedidas mundo afora, embora iniciativas voltadas à produção, vinculadas a projetos de reforma do capitalismo, tenham ocorrido desde o século 18. Considerada o marco fundador do movimento, a Sociedade dos Probos Pioneiros de Rochdale (Rochdale Society of Equitable Pioneers), de 1844, reunia 28 tecelões da Inglaterra, interessados na aquisição de produtos por preços mais baixos.

No Brasil, a primeira cooperativa tinha objetivo semelhante, mas contemplando principalmente o mercado agropecuário. A Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, em Minas Gerais, estabelecida em 1889, é apontada como a instituição pioneira no Brasil, mesmo que existam registros de associações desde o Império.

Nova Petrópolis, na Serra Gaúcha, tornou-se o berço do cooperativismo de crédito do país, com a inauguração da Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, depois Caixa Rural de Nova Petrópolis, em 1902, sob inspiração do padre jesuíta suíço Teodor Amstad (1851 – 1938). A partir dessa ação pioneira, as Caixas Rurais, ou Caixas Raiffeisen (em referência ao alemão Friedrich Wilhelm Raiffeisen, que estabeleceu os princípios do cooperativismo de crédito), ofereceram a principal modalidade de operação popular no mercado financeiro gaúcho na primeira metade do século 20.

A expansão das casas resultou na criação da Central de Caixas Rurais, em Porto Alegre, avançando de 17 associadas, em 1926, para 62, em 1962. A organização deu origem ao sistema Sicredi e ao Banco Cooperativo Sicredi, o primeiro banco deste tipo no país.

Atualmente, Minas Gerais, com 165 cooperativas de crédito, e São Paulo, com 140, estão à frente do Rio Grande do Sul, com 79, no ranking das unidades da Federação com maior número desse tipo de instituição. O Estado, porém, lidera no número de associados, com 2,9 milhões, contra 2,5 milhões em Minas Gerais.

Sucessora do empreendimento Amstad, em Nova Petrópolis, a Sicredi Pioneira, uma das cem cooperativas que formam o sistema Sicredi, atua hoje em 21 municípios da Serra Gaúcha e do Vale do Sinos, reunindo 265 mil associados. “Não existe cooperativa rica numa sociedade pobre”, diz o presidente Tiago Schmidt, ao informar os R$ 970 milhões de patrimônio líquido e os R$ 5,2 bilhões em créditos da Pioneira.

“Cooperativa não dá lucro. Cooperativa dá sobra. E a sobra volta para a sociedade”, explica Felga Reis, analista de relações internacionais da Organização das Cooperativas Brasileiras.

RS tem o maior número de associados no setor do agro

De acordo com dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), o Rio Grande do Sul é o estado brasileiro com maior adesão ao sistema cooperativo no setor agropecuário. O Estado encerrou o ano de 2023 com 258,5 mil associados em instituições do segmento, conforme informações que constam no Anuário do Cooperativismo Brasileiro 2024, publicado pela entidade. Minas Gerais, com 197,4 mil associados, e São Paulo, com 128,2 mil, aparecem em segundo e terceiro lugar, respectivamente.

A relação se inverte quando examinado o número de estabelecimentos. Neste caso, Minas Gerais apresentou 186 cooperativas agropecuárias, contra 110 de São Paulo e 88 do Rio Grande do Sul. As 88 cooperativas agropecuárias gaúchas formam o maior segmento no cooperativismo estadual, seguido pelas instituições de crédito, com 79 casas, e de transporte, 66.

O anuário destaca que, atualmente, a expansão das cooperativas agropecuárias ocorre principalmente nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do Brasil, nas quais têm se verificado o maior saldo de novas matrículas. As cooperativas contemplam todos os elos da cadeia produtiva, garantindo acesso a insumos, novas tecnologias, assistência técnica, armazenagem e agregação de valor à produção e comercialização. Do crédito distribuído pelas cooperativas brasileiras para pessoas físicas entre 2018 e 2023, 44,5% foi destinado ao agro, informou Arthur Nery, analista de estudos econômicos da OCB.

No ano passado, as cooperativas agropecuárias do país movimentaram R$ 38 bilhões em crédito rural. Metade dos recursos, R$ 19,1 bi, foram destinados à industrialização. O custeio ficou R$ 10,4 bilhões, seguido por projetos de comercialização (R$ 4,8 bi) e de investimento (R$ 3,3 bi).

O sistema Sicredi é o segundo maior operador de crédito do agronegócio no país, atrás apenas do Banco do Brasil. Segundo o diretor-presidente do Banco Cooperativo da instituição, César Bochi, a carteira de crédito rural do Sicredi soma R$ 100 bilhões. “A cada R$ 35 mil que entregamos para o agro, como fomento ou investimento, abrimos uma vaga de trabalho”, diz Bochi.

 

Linha Imperial oferece rota turística

Roteiro é formado por 28 pontos relacionados à criação do cooperativismo de crédito no país e oferece pelo menos seis atrações com preços que variam entre R$ 50 e R$ 500

Situada às margens da rodovia ERS 235, no caminho entre Nova Petrópolis e Gramado, na Serra Gaúcha, a localidade de Linha Imperial tornou-se uma meca do cooperativismo de crédito nacional. Para lá convergem turistas interessados em conhecer a história pioneira do segmento, que reúne o maior número de associados e concentra o maior valor em ativos do cooperativismo brasileiro.

O chamado Roteiro do Cooperativismo soma 28 pontos de interesse, envolve os esforços de boa parte dos cerca de 700 habitantes de Linha Imperial e oferece, pelo menos, seis experiências de vivência custando entre R$ 50 e R$ 500, por adulto, de acordo com informações disponibilizadas no site da Casa Cooperativa (casacooperativa.com.br), uma entidade sem fins lucrativos, que tem como principal objetivo promover o ramo por meio da educação.

Entre as atrações, está a casa que abrigou, entre 1903 e 1933, a sede da Caixa de Economia e Empréstimos Amstad, a primeira cooperativa de crédito do Brasil e (afirmam) da América Latina, fundada em 1902. Erguida em estilo enxaimel, em 1900, a construção era a residência de Joseph Neumann, eleito gerente da Caixa de Economia. Outras casas em enxaimel, como a do padre Teodor Amstad, considerado o patrono do cooperativismo de crédito brasileiro, e de produtores rurais que integraram o grupo de 20 fundadores da instituição fazem parte da rota. O diretor-executivo da Casa Cooperativa, Paulo Cesar Soares, salienta que Amstad uniu agricultores católicos e luteranos, grupos religiosos que se confrontavam no Estado.

As principais atividades da rota ocorrem em torno da Praça Teodor Amstad, no centro de Linha Imperial. A praça foi instalada por decisão e obra dos próprios moradores da cidade. Os caminhos do logradouro conduzem ao monumento em homenagem ao padre, com uma estátua em meio corpo e placas alusivas às 37 Caixas Rurais surgidas do Estado a partir da iniciativa de Nova Petrópolis.

No entorno da praça, se encontram a igreja de Linha Imperial, diante da qual estão sepultados, em um túmulo modesto, os restos mortais de Amstad. Ali também se encontra a sede da Casa Cooperativa, que anteriormente foi a sede da Caixa Rural de Nova Petrópolis, sucessora da Caixa de Economia.

Pode-se visitar o Memorial Amstad, no qual estão expostas representações, em tamanho natural, do padre e de sua mula Diana. Com 1,49 metro de altura, Amstad percorreu durante quase 30 anos as regiões de colonização italiana e alemã para difundir os princípios do cooperativismo de crédito, conquistar adesões e assegurar recursos para o sistema. “Omnius ominia”, pregava o jesuíta, em latim. Em português, “tudo para todos”. Em Linha Imperial, Diana é considerada quase tão heroína quanto seu dono. “A criação da instituição financeira muda para sempre a história deles e a história do país”, diz Soares, referindo-se aos fundadores. “Já está comprovado que municípios com cooperativas têm IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) maior”, acrescenta.

 

 

Fonte: Correio do Povo

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