Gedeão Pereira, presidente da Farsul (Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul), criticou em entrevista a decisão do governo de editar uma MP (medida provisória) para importar arroz, em meio à tragédia no estado. “Desnecessária”, assim o representante descreve a ação.
Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil produziu em 2023 cerca de 10,25 milhões de toneladas de arroz — quantidade suficiente para atender a demanda interna —, e a perspectiva era de que a safra avançasse para algo em torno de 10,5 milhões neste ano.
Cerca de 70% da produção nacional vem do Rio Grande do Sul, estado que vem sendo assolado por alagamentos, mas calcula-se que 84% das lavouras já tinham sido colhidas quando se iniciou a crise. Sobre os armazéns de arroz, Pereira indica que é difícil mensurar a proporção das perdas, mas afirma que devem ser pontuais.
Na avaliação de Pereira, com a maior parte da colheita do Estado preservada e o fato de que os demais 30% da produção nacional, que estão majoritariamente em regiões não atingidas pelo desastre climático, seria possível atender a demanda sem uma MP de importação.
Além disso, o Brasil já importa arroz atualmente, especialmente do Mercosul, que será alvo das compras da MP. Cerca de 70% das 800 mil toneladas produzidas pelo Paraguai, por exemplo, cruzam a fronteira — segundo o representante. Nas contas da Farsul, isso torna desnecessária a medida.
“Não prevemos nenhum tipo de desabastecimento de arroz, a não ser momentâneo, por questão de logística e impasses com a emissão de notas fiscais”, disse o presidente da Federação.
Acontece que a maior parte da produção do estado saí fronteiras via BR-101 para abastecer os principais centros do País (a rodovia cruza o litoral do país do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte). Com pontos de alagamentos e rastros de destruição, há problemas na rota logística.
Tanto o MDA quanto a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), que atua sob sua gerência, vem afirmando que o principal objetivo da medida é evitar alta de preços e fake news sobre a falta de arroz — para além de eliminar a possibilidade de desabastecimento.
Também há cuidado, segundo o ministro do MDA, Paulo Teixeira, e o presidente da Conab, Edegar Pretto, para que a medida não afete a produção nacional de arroz.