O Grupo Ceres de Comunicação conversou com exclusividade com o presidente da Cotrijal, Nei César Manica, que fez uma projeção de público e também comentou suas expectativas para a comercialização na feira. O dirigente aponta que esta deverá ser a melhor edição da história Do evento e comentou o que a Expodireto significa para a sua vida.
Grupo Ceres: Depois de alguns anos com um comportamento climático bem difícil para os gaúchos, 2024 tem registrado índices de chuva bem melhores. Nesse contexto, como está o ânimo do setor rural para a Expodireto 2024?
Nei Manica: Nós viemos de três anos com dificuldade climática. 2023 foi um ano bastante difícil, já que além da quebra da cultura de soja e milho tivemos um dano muito grande na cevada e no trigo também. Então, realmente foi um ano muito complicado. Para a safra 2023/2024 iniciamos com bastante chuva, um pouco de atraso no plantio, mas normalizou. Depois identificamos, principalmente na cultura do milho, que aquela expectativa de uma boa safra não estava acontecendo. Então há uma quebra muito significativa em várias regiões do estado e em alguns pontos da área de ação da Cotrijal. E um agravante ainda é a queda dos preços que não pagam nem o custo de produção. A cultura da soja está se desenvolvendo bem, mas também tivemos alguns pontos com preocupação com a questão climática. A tendência é de termos um ano bom, mas vamos ter problemas pontuais em algumas regiões, além do preço da soja que caiu muito, em torno de 40% a 50% se comparamos o valor no mesmo período do ano passado. Então é uma atividade bastante difícil. Acreditamos que possa haver uma melhora, uma reação no mercado, na Bolsa de Chicago e também com relação ao consumo mundial, e desta forma melhorar os preços das commodities.
Grupo Ceres: Para o futuro, o senhor acredita que normalize o preço dos insumos, que tiveram uma grande alta com a pandemia e com o conflito Rússia e Ucrânia?
Manica: Realmente aquele pico da guerra elevou todos os custos. Caíram os preços das commodities e houve um custo muito elevado. Depois os fertilizantes recuaram, vieram para um patamar razoável. Acreditamos que eles devam se manter num patamar razoável e até poderá ter alguma queda de preço porque a soja, o milho e o trigo tiveram uma grande queda de preço. Então, mesmo caindo o valor dos insumos, a renda do produtor fica muito prejudicada em virtude da queda dos preços das commodities.
Grupo Ceres: De todo modo, qual é a expectativa do seto e a sua expectativa pessoal para a feira?
Manica: Nós vamos fazer a melhor feira de todos os anos. Estamos com todos os espaços comercializados, com tudo organizado e estamos otimistas. Nós temos também que ver que grande parte do Brasil está com problemas climáticos e isso influencia. Mas eu acredito que na Expodireto vamos ter boas comercializações porque tem alguns produtores que estão capitalizados. As instituições financeiras deverão trazer recursos com juros mais compatíveis e a feira normalmente acontece com boa comercialização. Também acreditamos que será o maior público de todas as edições. Nós teremos mais de 70 países novamente já confirmados e teremos grandes eventos. E a questão da comercialização é uma consequência do momento. Então nós temos certeza que vai ser a melhor exposição de todas já realizadas.
Grupo Ceres: Surpreendeu o valor comercializado no ano passado, presidente?
Manica: Sim, passou de R$ 7 bilhões. Realmente era uma demanda que estava represada e se der uma safra normal, com chuvas normalizadas aqui, temos o otimismo de uma comercialização ainda maior do que no ano passado.
Grupo Ceres: Podendo superar então?
Manica: Podendo superar. Embora a dificuldade do agronegócio é bastante grande.
Grupo Ceres: Presidente, justamente por falar nisso, das dificuldades, do fator clima, o que deve ser debatido, reivindicado junto às autoridades públicas?
Manica: Principalmente a questão das taxas de juros. A taxa Selic vem caindo, mas não vem caindo na velocidade que gostaríamos. Se nós temos uma inflação anunciada em torno de 4% e uma Selic de mais de 12%, então não fica um juro adequado, muito embora tem alguns recursos, alguns programas do governo com juros menores do que a Selic. Nós vamos voltar a debater a questão da irrigação. Precisamos da liberação para que se possa fazer a retenção de água. Embora tenha chovido mais nesse período, nós não podemos esquecer das secas que já tivemos e as que podem vir. Também vamos discutir a questão da bioenergia, das energias limpas que é um tema importante e a questão da segurança jurídica no campo. E ainda do marco temporal, que embora o Congresso já referendou, o presidente vetou, o Congresso também derrubou o veto. Nós vamos tratar desses assuntos para dar tranquilidade ao homem do campo. Teremos muitos temas importantes para discutir na Expodireto.
Grupo Ceres: Nesse sentido, que avaliação o senhor faz do primeiro ano do governo Lula para o agro?
Manica: Olha, eu diria que houve recursos aí que foram destinados para o agronegócio, mas a gente vê no governo um aumento do déficit público. As contas fecharam com mais de R$ 320 bilhões no negativo e isso tem que sair de alguma fonte. A insistência no aumento de impostos quem paga são as empresas e a população. As empresas repassam o custo para o consumidor. Quem mais vai sofrer com todo esse custo Brasil é o consumidor final e principalmente quem ganha menos. Também temos preocupação com a geração de emprego porque tem muitas empresas demitindo por causa dos custos de produção, por causa dos impostos. E realmente todos, todos os empresários, temos que fazer ajustes para sobreviver a esse momento difícil.
Grupo Ceres: Quem de autoridade pública deve estar presente na feira?
Manica: Nós temos em nível federal a confirmação do ministro da Agricultura Carlos Fávaro, que já veio no ano passado e que deverá se fazer presente. Teremos o governador Eduardo Leite, o presidente da Assembleia Legislativa Adolfo Brito, o procurador do Estado Eduardo Cunha da Costa e também secretários estaduais, senadores e deputados estaduais e federais. Teremos diversas federações, entidades, OCB, CNA, Farsul, Fetag, sindicatos. Teremos uma representação internacional bastante significativa, como por exemplo uma grande delegação da China que com certeza vai abrilhantar o evento. Vamos ter presenças muito expressivas que vão fazer com que a Expodireto possa realmente ser um marco muito importante para mostrar o trabalho do nosso agricultor.
Grupo Ceres: O público total da feira, o alto fluxo de pessoas nas ruas do parque e o movimento na saída do estacionamento são fatores que evidenciam a grandeza da Expodireto. Além disso, o senhor projeta o maior número de visitantes de toda a história para a edição de 2024. Que sensação, que sentimento lhe dá de fazer um resgate histórico de uma feira que começou estadual, com todos os desafios que o senhor enfrentou, com todas as portas que o senhor teve que bater para buscar apoio, para divulgar e ver hoje o tamanho que a feira tem?
Manica: Realmente, veja bem, a cada ano a gente vai fazendo algum incremento e agora vamos focar nessa questão da mobilidade do público. Compramos mais uma área e ampliamos o estacionamento. Contratamos uma empresa especializada em estacionamento para que haja um fluxo mais rápido, embora a gente saiba que as rodovias têm a sua capacidade de fluxo, então vai ter um determinado momento que é normal haver congestionamento. Mas esperamos que melhore bastante esse fluxo. E realmente, a cada ano que passa, aumenta o público. Inclusive organizamos com as cooperativas, com os sindicatos, para que procurem diluir as suas delegações nos cinco dias da feira. Ficamos gratos porque são desafios bons, né? Seria muito ruim se o parque estivesse vazio. O importante é quando o parque está cheio, todo mundo comercializando, todo mundo satisfeito, todo mundo buscando conhecimento. Então esse é o desafio, o que fazer para cada ano ser melhor? Isso é muito gratificante.
GRUPO CERES: O que a Expodireto representa para ti?
Manica: É um marco na minha vida. Na época tinha dias de campo e aí visitando outras exposições tivemos a ideia de fazer uma feira assim. E a Expodireto se tornou um marco muito forte na minha vida. É um divisor de águas, de desafios e de conquistas. Então eu sinto um orgulho muito grande de ter iniciado e poder conduzir junto com toda a nossa equipe. Ninguém faz nada sozinho, né? E hoje ver quantas pessoas cresceram, quanto desenvolvimento a feira gerou… Eu sempre digo que eu fico feliz quando vejo as outras pessoas felizes. O mais importante é você oportunizar e fazer com que todo mundo tenha um resultado em cima de uma ação que você faz. Então eu fico muito feliz e muito gratificado por ter pensado nisso e estar tocando a Expodireto.
Grupo Ceres: A feira é um orgulho, uma paixão para o senhor?
Manica: Com certeza. É a menina dos olhos. A gente tem a família, tem a cooperativa e tem a Expodireto, que é a vida da gente, né?
Grupo Ceres: Pensando no futuro da feira, o que o senhor projeta é aumentar o espaço para expositores?
Manica: Nós temos um planejamento, inclusive junto com a Prefeitura de Não-Me-Toque, de fazer um novo asfalto para poder ampliar a frente da Expodireto. Isso envolve a Prefeitura, o governo do Rio Grande do Sul e expositores. Temos também um projeto muito bacana que poderia aumentar em 50% a área de expositores do setor de máquinas e equipamentos e aí abriria espaço para se construir auditório, praça de alimentação, uma nova Arena Digital e outras iniciativas. E nós também pensamos que poderiam ser realizados mais eventos durante o ano no parque, porque esse espaço pegou junto ao agronegócio como uma marca muito forte. Então nós estamos trabalhando para no futuro fazer durante o ano alguns eventos, não da magnitude da Expodireto, mas programações importantes dentro da cadeia produtiva nos segmentos de carnes, indústria, confecções. Tudo vem do agronegócio. Então estamos pensando nisso para o futuro, não sei quando, mas é uma ideia que pode avançar.
GRUPO CERES: Se tem um diálogo com o governo estadual para duplicar a rodovia em frente ao parque ou duplicar entre Carazinho e Não-Me-Toque?
Manica: Veja bem, o ideal seria nós termos a duplicação entre Carazinho e Não-Me-Toque. A gente lutou, luta, luta, mas o que conseguimos é melhorar o asfalto e fazer algumas terceiras pistas. Eu não vejo muita possibilidade, a curto prazo, de se duplicar, até pelas condições financeiras do governo estadual. E nas demais rodovias que são estaduais também não vejo muita oportunidade de duplicar. O que podemos fazer é ter um fluxo mais rápido de não haver engarrafamento na entrada na saída do parque. E realmente é difícil, porque são cinco dias e são momentos de entrada e de saída, né? Já reivindicamos ao governo melhorias e duplicação, mas temos que ser sinceros que não se vê grande possibilidade de avanço nessas questões.
Grupo Ceres: Que recado o senhor deixa para o visitante? Para o produtor?
Manica: Venham para a Expodireto. São cinco dias para buscar o conhecimento, tecnologia, oportunidades e discutir temas importantes sem cobrança de ingresso. Depois nós temos 360 dias para ficar na propriedade discutindo o nosso negócio. Então convidamos a todos para vir à feira e aproveitar esses cinco dias de programação. Negócios são uma consequência de momento, da necessidade de cada um, mas o conhecimento ninguém tira de nós. A Cotrijal e a Expodireto dão essa oportunidade para que todos venham para se aperfeiçoar. As empresas apresentam muita tecnologia. A cada ano se renova a tecnologia para os produtores, para as empresas, na produção animal, na produção vegetal, na agricultura familiar, no meio ambiente, setor de máquinas e equipamentos. Aos expositores, a gente só tem a agradecer porque a cada ano trazem o que tem de melhor e maior em tecnologia. É tudo globalizado. São empresas mundiais que vêm na Expodireto. Nós temos as empresas nacionais e as multinacionais. Temos a Agricultura Familiar, que são empresas oriundas aqui do Rio Grande do Sul. Queremos ressaltar o reconhecimento aos nossos produtores e que eles estejam na feira nos cinco dias para que todos possam crescer cada vez mais e assim mantermos o homem no campo. Esse é o grande objetivo da Expodireto.