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O clima, a irrigação e o milho

Cultivar milho tem sido um desafio nas últimas safras por conta do comportamento climático

por Daiane Giesen
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Há cerca de um ano, na segunda edição do Ceres AgroNews, os produtores rurais estavam sendo prejudicados com a estiagem, abalando a economia e os rendimentos do agricultor nas lavouras do estado. Nas páginas do jornal, matérias abordavam a importância do sistema de irrigação com a crise hídrica. 

Com o fim do fenômeno climático La Niña, ocorreu um alívio pelo fim da seca. Porém, o inverno na região Sul do país foi de muita chuva e incidência de outro fenômeno da natureza, o El Niño, ocasionou excesso de chuvas justamente no período de plantio do milho.     

O engenheiro agrônomo Otélio Busanello, de São Luiz Gonzaga, representante comercial da Fockink, empresa especializada em pivôs de irrigação, destaca que o ano foi atípico para o milho, desta vez, pelo excesso de chuva, bem ao contrário dos anos anteriores. 

De acordo com Busanello, a chuva abundante é tão prejudicial às lavouras irrigadas quanto para as de sequeiro. “O excesso de chuvas favorece uma alta incidência de doenças bacterianas e pragas, além de dificuldade de floração, não ocorrendo a fecundação em decorrência de pouco frio no inverno”, explica.   

Neste sentido, dois fatores foram preponderantes no comportamento do milho na última safra: genética e janela de plantio. Segundo Busanello, a genética parte da “utilização de híbridos com maior tolerância a doenças e nesse sentido esses materiais conseguiram obter uma produtividade melhor. Com relação à janela, não teve chuva necessária no florescimento. Então, mesmo com toda a chuva na época de plantio, houve necessidade de irrigação durante o ciclo. E a partir do acompanhamento de diversas áreas podemos afirmar que houve aumento na produção do milho em lavouras irrigadas”, salienta.

Água: elemento essencial

Mesmo com toda a tecnologia presente na agricultura há um elemento que faz toda a diferença para o desenvolvimento das cultivares, sejam estas de inverno ou de verão. Segundo Busanello, o fator diferencial é a água. Os demais componentes importantes são a genética e a qualidade do híbrido. “A água responde por mais da metade do sucesso da produção da lavoura.  A planta se alimenta através das raízes e somente o que estiver no meio líquido”, explica. 

 A importância da irrigação 

O produtor rural Martin Wallaurel, com propriedade em Santo Antônio do Jacuí, localidade pertencente ao município de Mormaço, região Norte do Rio Grande do Sul, cultivou uma área de 100 hectares de milho. A propriedade conta com pivôs de irrigação. “Durante a seca, foi fundamental a utilização da irrigação para a lavoura”, destaca.

Ele valoriza a relação custo x benefício do sistema. “O investimento em estrutura de irrigação é alto, contudo ele se paga com o tempo. Além disso, a irrigação se torna essencial devido às instabilidades climáticas recentes”, analisa Wallaurel. Segundo o produtor, a irrigação contribui também no processo de absorção dos nutrientes pela planta.

O agricultor, porém, questiona o emaranhado burocrático e regramentos existentes que desestimulam o investimento e prejudicam a economia do estado. Para ele, deveria ter menos burocracia com “planos de acesso mais fácil à estrutura de irrigação” afirma.

Além da burocracia, outras situações dificultam que mais produtores implantem sistemas de irrigação, como é o caso do agricultor Silvio Van Vüght, com propriedade em Colônia Saudades, interior de Não-Me-Toque. 

Nesta safra, ele plantou 55 hectares de milho e sua projeção para a próxima semeadura é de ampliar o plantio. “Tivemos safras ruins recentemente, quase sem renda. O milho também tem um custo de produção elevado em comparação com o preço na hora da venda. São situações que acabam deixando a implantação de um sistema de irrigação fora da lista de prioridades”, comenta Van Vüght, que reconhece a importância do sistema para a lavoura.

A irrigação no Brasil

A irrigação por pivô central foi patenteada em 1952 nos Estados Unidos e o primeiro equipamento foi instalado no Brasil em 1979, no município de Brotas, em São Paulo, segundo informações da Agência Nacional de Águas. O gráfico nesta página mostra a tendência de crescimento da agricultura irrigada por pivôs centrais no Brasil entre 1985 e 2017.

Com anos de experiência, Busanello analisa que o mercado para irrigação é abrangente em todo o território nacional. Em sua análise de mercado, há muito o que crescer em diferentes regiões do país, principalmente no Rio Grande do Sul. O mercado de irrigação existe no Brasil inteiro e aqui no estado muito atrasados. Minas Gerais tem duas vezes mais área irrigada que o Rio Grande do Sul”, compara. Segundo Busanello, o Rio Grande do Sul não chega a ter 200 mil hectares por pivô de área central irrigada. “Em Minas Gerais são mais de 500 mil hectares”, enumera. 

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