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Pesquisa traça perfil da meliponicultura no Rio Grande do Sul

por Daiane Giesen
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A meliponicultura, criação de abelhas sem ferrão, é uma atividade essencialmente ligada à agricultura familiar no Rio Grande do Sul, com 60% das propriedades rurais com menos de 11 hectares e 61% dos meliponicultores com Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP). Estes e mais dados foram levantados por pesquisa realizada pelo Departamento de Diagnóstico e Pesquisa Agropecuária da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (DDPA/Seapi), em parceria com a Emater/RS-Ascar.

Os resultados foram publicados na circular técnica Diagnóstico da meliponicultura no Rio Grande do Sul, disponível gratuitamente no site da Seapi.

“A meliponicultura é uma prática tradicional e amplamente difundida no Brasil, que proporciona benefícios ambientais, incremento da produtividade de culturas agrícolas e gera produtos. Mas, até o momento, não havia dados oficiais e sistematizados acerca da atividade no Rio Grande do Sul”, explica a pesquisadora Larissa Bueno Ambrosini, uma das autoras da publicação.

O objetivo da pesquisa foi realizar um diagnóstico da meliponicultura no estado, fornecendo informações que permitam: localizar e quantificar as famílias que praticam a atividade nas mesorregiões do estado; estabelecer um perfil socioeconômico dos meliponicultores; quantificar o percentual de contribuição da atividade na renda familiar; e identificar os principais canais de comercialização dos produtos da meliponicultura.

De acordo com informações fornecidas pelos meliponicultores, o estudo também buscou indicar os benefícios proporcionados pela cultura, além de identificar os principais entraves e ações para o desenvolvimento da atividade.

“Uma vez que não existem estatísticas oficiais sobre a atividade no estado, a primeira etapa da pesquisa foi realizar uma estimativa da quantidade de famílias que desenvolvem a meliponicultura, por meio dos escritórios municipais da Emater/RS-Ascar. Assim, chegamos ao número de 16.209 famílias que se dedicam a esta atividade no Rio Grande do Sul”, detalha Larissa.

A partir desse levantamento, foi feito um cálculo amostral, para determinar o número de entrevistas que deveriam ser feitas com os meliponicultores. “Foram 111 entrevistas realizadas com produtores em todas as mesorregiões do estado”, complementa a pesquisadora.

Resultados

A meliponicultura é uma atividade desenvolvida por 16.209 famílias gaúchas, seja para autoconsumo, exploração comercial ou apenas com a presença de colônias nas propriedades rurais. “A maior concentração de famílias está localizada na mesorregião Noroeste Rio-grandense, que já possui uma tradição e destaque de longa data na produção de mel de Apis mellifera”, informa Larissa.

As principais fontes de renda agrícola das famílias são a produção de grãos, a meliponicultura e a apicultura.

Na prática da meliponicultura, a atividade que envolve o maior número de famílias é a coleta de mel, registrada em mais de 80% dos estabelecimentos, e a produção de colmeias, que envolve 57% dos meliponicultores. Destacam-se também atividades como educação ambiental (37%), polinização (35%), coleta de própolis (27%) e paisagismo (28%).

A principal destinação dos produtos da atividade é o autoconsumo, seguido da venda. Os dados sobre comercialização mostram que 58,55% dos meliponicultores vendem mel, 41,4% vendem colônias de abelhas e 13,5% vendem própolis.

“Entre os que coletam mel, a média de produção é de 22 quilogramas por ano, com uma coleta anual, normalmente. O produto é vendido por cerca de R$ 91,00/Kg, podendo variar, entretanto, de R$ 35,00 a R$ 240,00/Kg”, enumera Larissa.

A produção e o preço de venda das colmeias variam de acordo com as espécies. “A espécie mais produzida e cujas colônias são comercializadas em maior quantidade é a jataí: cada colônia é vendida, em média, por R$ 176,80”, conta a pesquisadora. A espécie está presente em 95% das propriedades.

As vendas acontecem de diferentes formas, e os meliponicultores utilizam mais de um canal para isso. A maior parte das vendas é feita de forma direta, na propriedade rural (60%), por meio da internet ou em grupos de mensagens (14%), ou em feiras de produtores (7%). A venda em pontos de comércio (0,9%), no varejo de vendas ou serviço (6%), é menos frequente.

Em termos de renda, os resultados do estudo mostram que 46,8% obtém até um salário mínimo mensal com a meliponicultura, o que equivale a menos de 5% da renda total da família. Um grupo menor (4,5%) gera mais de três salários mínimos mensais com a meliponicultura, o que perfaz de 21 a 50% da renda familiar. Para 38,7% a atividade não gera renda.

A maior parte dos meliponicultores (55%) vê potencial de geração de renda para a família a partir da atividade. Os produtos com maior potencial são: o mel, para 91% dos meliponicultores; produção de colônias (57%); e própolis (35%).

Os maiores benefícios da atividade, na opinião de meliponicultures e extensionistas, são a contribuição dos meliponíneos na polinização de culturas e o fato de a meliponicultura ser uma prática ambientalmente sustentável e que contribui para a conservação da biodiversidade. O uso medicinal dos produtos da meliponicultura foi destacado ainda por quase 90% dos meliponicultores como um potencial.

“O maior entrave para o desenvolvimento da meliponicultura no Rio Grande do Sul está relacionado ao desmatamento e ao uso de agrotóxicos, segundo os meliponicultores”, conclui Larissa.

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