A incidência de atropelamentos de anfíbios diminuiu 80% na Reserva Biológica Mata Paludosa, em Itati, na ERS-486 (Rota do Sol), na comparação com o mesmo período do ano anterior, após a implantação de medidas de proteção à fauna pelo Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer). Esse foi um dos casos que o órgão apresentou na quinta-feira (14/12), durante o I Seminário Estadual de Monitoramento e Mitigação de Atropelamento de Fauna em Rodovias, realizado na sede do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), em Porto Alegre.
Além dessa apresentação – denominada “Mitigação de impacto de atropelamentos de fauna na Rota do Sol: o caso da ReBio Mata Paludosa”, conduzida pelo biólogo Adriano Souza da Cunha, da Biolaw Consultoria Ambiental –, também foi discutida a “Fauna Bioindicadora na ERS-020: monitoramento e identificação de trechos críticos”, pelo também biólogo Lucas Adriano Pachla, da Enecon S.A. Este caso é um estudo de monitoramento e identificação de partes da rodovia com o objetivo de coletar dados para documentar a dinâmica das populações da fauna, bem como o impacto das atividades humanas e das mudanças ambientais em suas populações e habitats. No estudo, são analisados os comportamentos de espécies como onça-parda, gato-do-mato, javali e vários tipos de pássaros.
“Hoje, o Daer e a Fundação Estadual de Proteção Ambiental são referências em licenciamento ambiental para a construção de rodovias. Nosso trabalho conjunto transformou o Rio Grande do Sul em uma referência no país, demonstrando nossa preocupação não apenas com estradas, mas com a fauna também”, observou o diretor-geral do Daer, Luciano Faustino, na mesa de abertura do seminário. “Temos consciência de que precisamos ter cuidado com o ambiente. Nosso orgulho é o trabalho na Rota do Sol, com trabalhos técnicos que viraram referência para o Brasil. É uma área importante, que precisa ser muito mais valorizada no país.”
“Precisamos repensar a questão do licenciamento, trazê-lo para o século atual. Nosso trabalho primordial, como gestores, é usar as tecnologias, avaliar os resultados e verificar quais caminhos trilhar para reduzir os impactos no meio ambiente. E isso se faz com inovação, que não se resume ao uso de novas tecnologias, pois envolve mudança de pensamento”, explicou a secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura, Marjorie Kauffmann, que também esteva na mesa de abertura, completada pela superintendente estadual do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Diara Sartori, pelo superintende regional do Dnit, Hiratan Pinheiro, e pelo diretor-presidente da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Renato das Chagas e Silva.
O seminário foi coordenado pela Fepam, que realizou o evento em parceria com o Daer, o Dnit, a Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR), a Concessionária Caminhos da Serra Gaúcha (CSG), a Concessionária Rota de Santa Maria, o Programa Macacos Urbanos, o Núcleo de Ecologia de Rodovias e Ferrovias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Sistema de travessias é inédito no Brasil
Os dois exemplos apresentados pelo Daer se complementam, uma vez que o primeiro foi realizado após a implantação da rodovia, enquanto o segundo destina-se a prever os pontos críticos que terão de ser levados em consideração na construção da futura obra viária. Além disso, a metodologia empregada no segundo caso servirá como base para obras que venham a ser implementadas em outras regiões do Estado.
Algumas espécies protegidas só existem nesse local no Sul do Brasil e estão ameaçadas de extinção. É o caso da perereca-macaca (Phyllomedusa distincta), perereca-castanhola (Itapotihyla langsdorffii) e perereca-risadinha (Scinax rizibilis). O sistema de travessias utilizado para proteção, com passagens aéreas, inferiores e cercas direcionadoras, constitui uma iniciativa inédita no Brasil, construída do zero, já que não havia referências anteriores nas quais se basear.
O procedimento para evitar o impacto do tráfego sobre a fauna na ERS-486 começou entre 2017 e 2018, com a realização da primeira etapa de monitoramento. Entre 2020 e 2021, foram construídas seis passagens terrestres e cinco aéreas para permitir o deslocamento dos animais, com localização baseada no monitoramento anterior. As aéreas ainda dependem do crescimento da vegetação, mas as terrestres apresentaram resultados animadores para os planejadores. Cercas foram colocadas nos acostamentos, direcionando os animais para pontilhões existentes no local, evitando os atropelamentos de pequenos e médios mamíferos e algumas espécies de répteis e anfíbios. Entre 2022 e 2023 foi finalizada a terceira etapa, com a obtenção dos resultados.
A realização dos serviços é responsabilidade da Superintendência de Meio Ambiente do Daer, que integrou a organização do seminário. “São trabalhos significativos que estão sendo desenvolvidos para a proteção da fauna”, destaca a superintendente Josani Carbonera.