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China tem hospitais lotados com casos de doenças respiratórias

por Daiane Giesen
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Hospitais em Pequim e no norte da China têm enfrentado uma onda de casos de doenças respiratórias em crianças no primeiro inverno no país após o fim das medidas rigorosas contra Covid-19 quase um ano atrás.

O tempo de espera por atendimento tem levado horas, com centenas de pacientes na fila de alguns hospitais infantis nas principais cidades do norte da China, de acordo com informações obtidas de notícias na mídia estatal e de mensagens em redes sociais.

Um funcionário do Hospital Infantil de Pequim disse à mídia estatal na terça-feira (21) que a média atual de mais de 7.000 pacientes atendidos diariamente “excede em muito a capacidade do hospital”.

O maior hospital pediátrico nas proximidades de Tianjin quebrou um recorde no sábado (18) ao receber mais de 13 mil crianças na emergência e em consultas, de acordo com uma agência estatal local.

Sobre horários no Beijing Friendship Hospital na quinta-feira, um membro da equipe disse que um paciente poderia levar o dia todo para ver um pediatra.

“Neste momento, temos muitas crianças aqui. Aqueles que chegaram para consultas de emergência ontem ainda não puderam ver o médico esta manhã”, disse o membro da equipe.

Autoridades de saúde em Pequim e de outras grandes cidades do norte da China disseram que doenças sazonais típicas, incluindo gripe e o vírus sincicial respiratório (VSR) assim como a pneumonia por micoplasma – uma infecção bacteriana que normalmente gera uma infecção leve e afeta crianças – são as principais causas dos atendimentos.

O crescimento nos casos no norte da China ocorre em meio a um aumento nas infecções respiratórias sazonais em todo o hemisfério norte, inclusive nos Estados Unidos, onde o vírus sincicial respiratório (VSR) está se espalhando em níveis “sem precedentes” entre as crianças.

Mas a situação chinesa levantou preocupação global depois que a Organização Mundial de Saúde (OMS) na quarta-feira (22) pediu à China mais informações sobre o aumento de doenças respiratórias e de “grupos com pneumonia não diagnosticada em crianças”, citando um post do Programa de Monitoramento de Doenças Emergentes da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, conhecido como ProMED.

Depois de falar com autoridades chinesas e funcionários do hospital na quinta-feira (23), a OMS disse que os dados indicaram um aumento nas consultas ambulatoriais e internações hospitalares de crianças devido à pneumonia por micoplasma em maio e doenças sazonais comuns, como adenovírus e vírus influenza desde outubro.

“Alguns desses aumentos são mais precoces na temporada do que os registrados historicamente, mas não inesperados, dado o fim das restrições da Covid-19, como aconteceu em outros países”, disse a OMS.

A agência acrescentou que as autoridades chinesas disseram que “não houve detecção de patógenos incomuns ou novos ou apresentações clínicas incomuns.”

Especialistas que monitoram a situação também observaram que não havia evidências de um novo patógeno em ação, mas pediram que a China compartilhasse mais informações sobre a situação com o público.

“Não achamos que haja um patógeno desconhecido escondido em algum lugar”, disse à CNN Jin Dongyan, virologista da Escola de Ciências Biomédicas da Universidade de Hong Kong. “Não há provas disso.”

Catherine Bennett, epidemiologista da Universidade Deakin, na Austrália, afirmou que a principal preocupação é se o aumento da pneumonia infantil indicaria um novo patógeno ou novos níveis de gravidade da doença.

“Até agora não ouvimos relatos de nenhum deles”, disse Bennett, acrescentando que era importante monitorar para descartar mais preocupações.

Hospitais lotados

Nas últimas semanas, famílias chinesas se queixaram nas mídias sociais sobre a situação de hospitais lotados, com horas para as crianças chegarem ao médico e longa espera fazer exames de sangue. Os hospitais podem ficar superlotados durante as estações de pico de doenças.

Na plataforma de mídia social chinesa Weibo, uma foto muito compartilhada mostrou uma tela do hospital notificando os pacientes que a fila tinha mais de 700 pessoas com um tempo de espera estimado de 13 horas.

No Instituto da Capital de Pediatria em Pequim, os corredores estavam tão cheios que algumas crianças com medicamento intravenoso precisavam ficar no colo de seus pais em bancos, como mostram vídeos nas redes sociais.

As autoridades nacionais de saúde da China e os funcionários do hospital pediram aos pais para não levar as crianças diretamente para grandes hospitais pediátricos. A orientação é que elas sejam encaminhadas para diagnóstico em outros centros de saúde que oferecem os primeiros cuidados e triagem.

A Comissão Nacional de Saúde (NHC) alertou os pais na quinta-feira (23) que os grandes hospitais podem ter “longos tempos de espera e um alto risco de infecção cruzada”.

Em um comunicado, a Comissão disse ainda que instruiu “todas as localidades” para fortalecer seus sistemas de gerenciamento e tratamento, incluindo a identificação de casos graves.

O governo de Pequim, entretanto, publicou um artigo na mídia estatal com um médico dizendo aos pais que eles não precisavam pedir por medicamentos intravenosos “assim que uma criança tem febre.”

A OMS na quinta-feira (23) afirmou que as autoridades chinesas informaram que “o aumento da doença respiratória não resultou em pacientes excedendo as capacidades hospitalares.”

Surto pós-Covid

O aumento de casos hospitalares coincide com o primeiro inverno completo da China sem sua política “Covid zero”, que fez com que as pessoas mantivessem um distanciamento social rigoroso com máscaras.

Os controles terminaram abruptamente em dezembro passado, depois de raros protestos no país contra as medidas da pandemia para acabar com confinamentos rigorosos.

Não está claro se houve um aumento nas doenças respiratórias ou casos graves entre crianças em relação aos anos pré-pandemia por causa dos dados públicos limitados divulgados pela China.

“Durante a Covid zero, essas doenças (respiratórias comuns) seriam subestimadas (à medida que as pessoas evitavam hospitais), e porque todos estavam com distanciamento social, a incidência era baixa”, disse Jin, virologista da Universidade de Hong Kong.

“É absolutamente normal que este ano em comparação com o ano passado tenha um grande aumento. Mas se é um grande aumento em comparação com 2018, 2019, isso ainda precisa ser determinado”, disse ele.

Fatores sociais podem estar em jogo na situação atual, acrescentou Jin, já que os pais também podem estar mais preocupados com a saúde de seus filhos após a pandemia, levando a procurar ajuda médica.

Mais atenção está sendo dada aos surtos de doenças após o surgimento do coronavírus no final de 2019. Há também apelos por mais transparência – inclusive da China, que foi acusada de dificultar a investigação nas origens do vírus e não divulgar informações precoces sobre sua disseminação.

Christine Jenkins, professora de medicina respiratória da UNSW Sydney, disse que um aumento nas infecções virais do trato respiratório em crianças nesta época do ano não é inesperado e é um fenômeno que tem sido observado ao longo de muitas décadas em todo o mundo no início do inverno.

“No entanto, no contexto da pandemia devido a um vírus relativamente novo, como (o novo coronavírus) e o potencial de outros novos vírus ou mutações causarem doenças do trato respiratório, relatórios e monitoramento rápidos são essenciais”, disse ela.

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