A francesa Danone decidiu suspender a importação da soja brasileira, levando a associação dos produtores do grão no Brasil a criticar a medida, classificando-a como um “boicote” e “ato discriminatório”. O governo brasileiro também reagiu à decisão e afirmou que o Brasil tem “uma das legislações ambientais mais rigorosas do mundo”, com monitoramento e fiscalização de desmatamento eficientes.
A decisão da gigante de laticínios ocorre em meio a discussões para a prorrogação por 12 meses do prazo para que a lei antidesmatamento da União Europeia (UE) entre em vigor. A nova lei europeia barra importações de produtos originários de terras desmatadas legal ou ilegalmente e exige que os exportadores comprovem a origem dos produtos, com rastreamento da cadeia produtiva.
Ela entraria em vigor em 30 de dezembro deste ano, no entanto, após a forte pressão de países produtores de commodities, incluindo o Brasil, a implementação deve ser adiada. A postergação ainda depende de aprovação do Parlamento europeu.
No dia 25 de outubro, o diretor financeiro da Danone, Jurgen Esser disse à agência de notícias Reuters que a empresa parou de comprar soja brasileira e que passou a comprar o grão de países asiáticos.
— Nós não compramos mais soja do Brasil — disse Jurgen Esser à Reuters. — Temos um rastreamento realmente muito completo, por isso nos certificamos de levar apenas ingredientes sustentáveis do nosso lado — justificou.
Nesta terça-feira, a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja) se posicionou contra a medida e, em nota, afirmou que ela é uma “demonstração de desconhecimento do processo produtivo no Brasil e um ato discriminatório contra o Brasil e sua soberania”.
“O boicote adotado pela multinacional francesa já traz prejuízos para o Brasil e para os brasileiros”, continua a nota.
Em um relatório de 2023, a Danone disse que usou 262 mil toneladas de produtos à base de soja para alimentar suas vacas e 53 mil toneladas de grãos de soja diretamente na fabricação de seus produtos de leite de soja e iogurte de soja, segundo a Reuters.
O que é a lei antidesmatamento da UE e como impacta o Brasil?
O European Union Deforestation Act (EUDR), conhecida como lei antidesmatamento europeia, proíbe a importação de produtos vindos de áreas desmatadas a partir de 2020, mesmo que essas áreas tenham sido desmatadas legalmente, como permite o Código Florestal.
Ela é uma das mais de 50 normas que compõem o Green Deal, projeto aprovado pelo Parlamento Europeu em 2019 e que visa alcançar as metas do Acordo de Paris.
A exigência da lei para que importadores não adquiram produtos de áreas desmatadas é uma estratégia para prevenir a degradação florestal e, consequentemente, novas emissões de CO2 provenientes de queimadas.
A nova legislação pode impactar muitos produtos da pauta de exportação do Brasil. A UE importa 13% (ou US$ 21,5 bilhões) das exportações do agronegócio brasileiro. É o o segundo mercado para as vendas externas do país, atrás da Ásia. Produtores de café, carne, cacau, soja e artigos florestais, como madeira ou móveis, estão entre os que deverão ser mais afetados.